Vivaldo Barbosa (*) –
Os lances da política em grande envergadura acontecem em momentos especiais e por atores igualmente especiais.
Devemos nos lembrar de Tancredo Neves.
Tancredo estava tentando construir um caminho, diziam de centro, junto com Magalhães Pinto, Chagas Freitas e outros.
Em dado momento, Tancredo desfaz os arranjos e volta ao PMDB, para ficar ao lado de Ulisses, Montoro e outros.
Veio preparar o caminho para ganhar o governo de Minas e abrir espaços para a Presidência da República. Ele sabia que era ele quem podia fazer isto, ninguém mais, pois tinha aceitação dos militares e o respaldo da sua vida.
Tenho observado uma das marcas da política brasileira da atualidade: a consciência que Lula demonstra ter do seu dever de liderar a nação em grandes dificuldades. E transparece sempre um dever maior: liderar a nação e ganhar as eleições.
Tudo aponta para Lula ganhar as eleições, dado o quadro que se delineia.
O prestígio que Lula adquire cada vez mais com a lembrança dos benefícios feitos ao povo por seu governo: fim à fome, retirar milhões da pobreza, um fato tão grandioso quanto foi a legislação trabalhista e a Previdência Social a partir da Revolução de 1930, a notar salário mínimo e aposentadorias.
Além disto, o desgaste do conservadorismo e a desmoralização crescente de Bolsonaro e seu direitismo exacerbado tornam as eleições bem difíceis para as elites em geral, com seu rosário terrível e perverso da pesada herança da escravidão e do colonialismo.
Então, por quê? É preciso?
A vida brasileira foi duramente castigada nos últimos tempos. As armações feitas em Curitiba, com todo o respaldo de toda a estrutura do Judiciário, produziram as aberrações já conhecidas. Em cima disso, toda a ação da mídia.
Vestiram a direita de verde amarelo e a colocaram na rua, deram o golpe na Dilma com a derrubada da primeira mulher Presidenta do Brasil, com todo o apoio da política conservadora e do fisiologismo. Processaram Lula, o Judiciário o impediu de participar das eleições, prenderam Luta por mais de 500 dias.
Tudo isto é duro, muito pesado para a vida de um povo.
Lula, como se vê, não precisa de muletas ou outros auxílios maiores, a não ser desenvolver a campanha com a competência necessária, mobilizar o povo da forma adequada e gerar os ardores que movem uma vitória. Lula, enfim, não precisa de Alckmin, a rigor.
Por que, então, uma conversa, alguma busca de entendimento?
De imediato, é preciso reconhecer que o simples fato de estarem conversando, Lula e Alckmin, já fazem um bem político extraordinário a ambos, independente do resultado a que chegarem.
Mas a questão é mais profunda.
Um apoio de Alckmin a Lula, e até mesmo Alckmin ser o vice de Lula, acarreta enorme repercussão na vida brasileira.
Um arranjo como este trará um ambiente de muito mais tranquilidade, calma, bom entendimento, mesmo em divergências, que o acirramento raivoso, deletério e até mesmo imbecil tem gerado. A nação ganhará, poderão acontecer avanços mais sólidos e duradouros.
Não que venha a ser necessário, Lula poderá arrastar tudo nas eleições. Lula adquiriu dimensão nacional e internacional admirável. Mas um político de envergadura superior faz diferença em hora como esta.
É claro que a presença de Alckmin trará algumas tinturas conservadoras, como é natural e civilizado.
Por outro lado, forças populares poderão tirar proveito e avançar com mais solidez, com atropelos menores, com embates menos dolorosos. Aliás, é preciso avançar nos direitos trabalhistas, o que não se fez por 13 anos, nos salários, recuperar a soberania.
Outra questão: Lula sabe que é preciso ganhar São Paulo para dar mais solidez ainda a seu governo.
Se as diretas tivessem vindo na época esperada, Tancredo certamente não ganharia as eleições: Ulisses ou Brizola provavelmente seriam vencedores. Mas a hora que o Brasil atravessara indicava ser a hora de Tancredo.
É evidente que nós, das forças populares, especialmente nós do trabalhismo, queremos avanços e rápidos, a espoliação do nosso povo é dura e cruel.
A vida brasileira ficou muito envenenada, caminharemos melhores e mais seguros, avançaremos com mais solidez criando um novo ambiente na vida brasileira.
Venha, Alckmin, será útil.
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(*) Vivaldo Barbosa foi deputado federal Constituinte e secretário da Justiça do governo Leonel Brizola, no Rio de Janeiro. É advogado e professor aposentado da UNIRIO.
(**) Artigo publicado originalmente no site www.viomundo.com.br