Um abaixo assinado circula na internet, com quase mil assinaturas, escrito por membros da comunidade da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP). O documento defende o impeachment do presidente Jair Bolsonaro por estar à frente de um governo que despreza a ciência e o papel do Estado como gestor da crise sanitária que já matou mais de 215 mil brasileiros.
Os politécnicos da USP ressaltam a maneira debochada de Bolsonaro tratar as vítimas da Covid-19, o seu desprezo em relação à situação financeira das famílias, empresas, prefeituras e governos estaduais. “Os profissionais do SUS são colocados em risco, e ao mesmo tempo, se veem sem suporte e sem qualquer respeito por seu conhecimento acumulado e provado”, diz o documento.
“Bolsonaro sabota a engenharia brasileira e prefere estimular práticas predatórias na agropecuária e na mineração, associando-se à destruição provocada pelas queimadas e pela expansão descontrolada das fronteiras agrícolas, inclusive sobre áreas indígenas e de proteção ambiental”.
Por fim, os politécnicos se associam a todos os democratas, deixam pública a sua “indignação e exigem o impedimento do presidente Jair Bolsonaro, por comprovada soma de crimes de responsabilidade, devidamente apontados nas dezenas de petições já protocoladas no Congresso Nacional”.
A seguir, a íntegra do documento:
“Nós, membros da comunidade da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), sabedores de nossos deveres públicos em relação à excelência do ensino, da pesquisa e da prática profissional, consideramos que o conhecimento científico, a produção tecnológica e o exercício cotidiano da Engenharia devem estar a serviço do desenvolvimento nacional e da contínua melhoria do padrão de vida dos brasileiros.
Percebemos que este é um momento de extrema gravidade, em que a Nação corre sérios riscos e o povo sofre intensamente. São anos seguidos de encolhimento da capacidade produtiva do país e de acentuada desindustrialização. A infraestrutura do país está abandonada e obsoleta, sem que os investimentos alcancem sequer sua taxa de depreciação. O próprio conceito vital de planejamento foi substituído pelo casuísmo e pelo improviso.
A pesquisa tecnológica sofre drásticos cortes e contingenciamentos de verbas dos órgãos de financiamento e das empresas públicas. Estamos mergulhados na trágica carência de insumos necessários para a produção de vacinas. Esse drama se sucede a crises recentes na oferta de máscaras, respiradores, ventiladores, seringas e vidraria. Ficamos reféns de uma disputa internacional por tais produtos, agravada por movimentos diplomáticos descolados do interesse nacional.
A Engenharia brasileira tem capacidade de contribuir decisivamente para o desenvolvimento sustentável em todas as frentes produtivas e o Brasil pode ser modelo mundial em áreas como as de energias renováveis, materiais “verdes” e produção agrícola ecologicamente adequada.
Essa capacidade, no entanto, é sabotada por um governo que prefere estimular práticas predatórias na agropecuária e na mineração, associando-se à destruição provocada pelas queimadas e pela expansão descontrolada das fronteiras agrícolas, inclusive sobre áreas indígenas e de proteção ambiental.
A pandemia de Covid-19 escancarou esses descaminhos. O desprezo à Ciência e ao papel do Estado como gestor da crise gera situações de descalabro e mata centenas de milhares de pessoas. A subnotificação de mortes por Covid, a desinformação deliberada, as múltiplas tentativas de calar a racionalidade, as abertas ameaças à Democracia e aos demais Poderes são marcas de um governo que consegue tornar a pandemia ainda mais letal, intensificando a desorganização da sociedade. Há deboche sobre os efeitos da doença, desprezo em relação à situação financeira das famílias, empresas, prefeituras e governos estaduais. Os profissionais do SUS são colocados em risco, e ao mesmo tempo, se veem sem suporte e sem qualquer respeito por seu conhecimento acumulado e provado.
São mais de 215 mil mortos. Quase 70 milhões de brasileiras e brasileiros, que escaparam da fome graças ao auxílio emergencial, aprovado pelo Congresso a despeito da feroz oposição inicial do governo. É imprescindível que o suporte financeiro a essas famílias se mantenha para permitir o isolamento social necessário à redução da contaminação até que a vacinação generalizada seja uma realidade. A conquista civilizatória que foi o desenvolvimento de vacinas eficazes e seguras em tempo recorde precisa se converter, urgentemente, em proteção efetiva das pessoas, tirando proveito da exitosa experiência nacional em programas de vacinação em massa.
Nada disso é possível quando o presidente da República age no sentido oposto. É por nossa responsabilidade, como politécnicos e brasileiros, que nos associamos a todos os democratas para deixar pública a nossa indignação e exigir o impedimento do Sr. Jair Messias Bolsonaro, nos termos da nossa Constituição e das nossas Leis, por comprovada soma de crimes de responsabilidade, devidamente apontados nas dezenas de petições já protocoladas no Congresso Nacional”.
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