“Parem de nos matar!” “Vidas negras importam!” Gritam os movimentos sociais do Rio de Janeiro. Eles dirigem suas palavras de ordem ao governador Wilson Witzel (Partido Social Cristão-PSC). Na manhã de sábado (21/9) a hashtag #ACulpaÉDoWitzel já estava entre os assuntos mais comentados.
Neste final de semana, na noite de sexta-feira (20/9) uma criança de oito anos, Ágatha Félix, foi assassinada com um tiro de fuzil em mais uma operação no Complexo do Alemão. Seu corpo só foi liberado pelo IML sábado à noite por falta de funcionários. O enterro será realizado hoje (22/9) no Cemitério de Inhauma, zona norte do Rio.
Desde que foi eleito, Witzel comanda a política de segurança pública que está provocando mortes de inocentes, crianças, sobretudo negras e negros.
O porta-voz da Polícia Militar, Mauro Fliess, disse à imprensa que a PM continuará atuando nas favelas “num combate sem trégua ao tráfico e que não há evidência de que a menina Agatha tenha sido, por enquanto, morta por balas de armas dos policiais”.
O avô de Ágatha, Airton Félix, rebateu a versão da polícia e afirmou: “Não houve confronto, só houve um tiro que matou minha neta. Atiraram por atirar na Kombi onde ela estava”.
A criança foi levada ao hospital Getúlio Vargas, mas não resistiu aos ferimentos. A menina estava dentro de uma kombi com a mãe, voltando para sua casa, quando foi atingida por um tiro de fuzil nas costas.
OAB-RJ denuncia recorde macabro
A Ordem dos Advogados do Brasil, Seção do Estado do Rio de Janeiro, emitiu nota oficial em que lamenta profundamente a morte da menina Ágatha. O número de pessoas mortas pela polícia nos oito primeiros meses deste ano chega a 1.249). Um recorde macabro que o governador Witzel quer ostentar com orgulho.
A OAB-RJ lamenta que a média de cinco mortos por dia pela polícia seja encarada com normalidade pelo Executivo estadual e por parte da população. A normalização da barbárie é sintoma de uma sociedade doente.
A OAB-RJ lamenta também que horas antes da morte de Ágatha o governador tenha dito, conforme relatou a imprensa, que promoveria um “combate e caça nas comunidades”.
Os advogados do Rio de Janeiro disseram na nota que as “mortes de inocentes, moradores de comunidades, não podem continuar a ser tratadas pelo governo do Estado como danos colaterais aceitáveis. A morte de Ágatha evidencia mais uma vez que as principais vítimas dessa política de segurança pública, sem inteligência e baseada no confronto, são pessoas negras, pobres e mais desassistidas pelo poder público”.
Por meio de sua Comissão de Direitos Humanos e Assistência Judiciária, a OABRJ está à disposição da família de Ágatha e de familiares de outras vítimas da violência do Estado.
Fernando Haddad pede impeachment de Witzel
Em sua conta no twitter, Fernando Haddad, ex-candidato do Partido dos Trabalhadores (PT) à Presidência da República e ex-prefeito de São Paulo, chama Witzel de assassino e pede impeachment do governador.
“Fora, Witzel: Tenho evitado tuitar esses dias. Coisas absurdas acontecendo. Mas, com toda sinceridade, eu realmente penso que há razões de sobra para que se peça o impeachment de Witzel. Ele é o grande responsável pelas atrocidades que se cometem no Rio de Janeiro. Um assassino!”, escreveu o ex-prefeito de São Paulo.
A direção do PT-RJ também emitiu nota se solidarizado com a família de menina Ágatha. O partido "se soma às vozes que exigem das autoridades a apuração desde crime e a punição dos responsáveis, assim como medidas de proteção para os moradores das favelas, que são trabalhadores e trabalhadoras".
O PT-RJ afirma que "no governo Witzel, 16 crianças já foram abatidas a tiros de fuzil - arma de uso exclusivo na PM - nas incursões policiais nas favelas do Rio de Janeiro".