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Juizes não aceitam que, para justificar sua conduta inapropriada, "Moro tente imputar a toda a magistratura nacional a prática das mesmas ilicitudes praticadas por ele". Jornalistas investigativos defendem The Intercept Brasil e a liberdade de imprensa.
Associação Juízes para a Democracia repudia fala de Moro no Senado

A tentativa do ex-juiz Sérgio Moro, atual ministro da Justiça do governo Bolsonaro, de considerar “naturais” as conversas que manteve com o procurador Deltan Dallagnol não convenceu a Associação Juízes para a Democracia (AJD). Associação dos Jornalistas Investigativos (Abraji) também condena fala de Moro.

Em nota divulgada ontem (19/6), a propósito do depoimento do ministro à Comissão de Constituição e Justiça do Senado, a AJD afirma ser “inaceitável que Sérgio Moro confunda a urbanidade na interação entre juízes e membros do Ministério Público com a fusão de seus distintos papeis processuais.”

Moro foi ao Senado para falar sobre os vazamentos de mensagens que ele trocou quando era juiz com procuradores da "Lava Jato" e divulgadas pelo site The Intercept Brasil.

As conversas mostram Moro orientando o MPF sobre como acusar com melhor efetividade e pedindo (e sendo atendido) uma nota pública da acusação contestando o depoimento do ex-presidente Lula.

No Senado, Moro negou conluio com o MPC e citou várias vezes a “normalidade das relações entre magistrados e partes”, sobretudo, segundo ele, “no Direito Criminal, uma vez que o juiz é responsável por julgar atos de investigação, além da condenação ou absolvição do acusado”.

A AJD repudia a alegação de que as conversas que Moro teve com o MPF sejam algo normal na magistratura. “Não aceitaremos, pois, que, para justificar sua conduta inapropriada, o ministro tente imputar a toda a magistratura nacional, a prática das mesmas ilicitudes”, afirma a entidade.

A nota da AJD foi publicada no site Conjur:

https://www.conjur.com.br/2019-jun-19/associacao-juizes-democracia-repudia-moro-senado

Jornalistas defendem Glenn e repudiam falas de Moro

Outra entidade, a Associação Brasileira de Jornalistas Investigativos (Abraji), por sua vez, repudia os ataques do ministro Sérgio Moro ao jornalista Glenn Greenwald e equipe do The Intercept Brasil.

Segundo a entidade, a publicação de diálogos de autoridades relacionadas à operação Lava Jato gerou ataques descabidos aos jornalistas responsáveis pela série de reportagens.

A seguir, a íntegra da nota da Abraji:

“O ministro da Justiça, Sergio Moro, chamou o Intercept, no twitter, de “site aliado a hackers criminosos” (14/6). Trata-se de uma manifestação preocupante de um ministro que já deu diversas declarações públicas de respeito ao papel da imprensa e à liberdade de expressão.

Moro, que é um dos convidados do 14º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo, que a Abraji realizará de 27 a 29 de junho, erra ao insinuar que um veículo é cúmplice de crime ao divulgar informações de interesse público. O Intercept alega que recebeu de uma fonte anônima mensagens privadas de Moro e de procuradores da Lava Jato. Jornalistas e veículos não são responsáveis pela forma como a fonte obtém as informações. [Após a divulgação desta nota da Abraji, Moro cancelou sua ida ao 14º Congresso].

Na tarde da última quinta-feira (13/6), o deputado federal Carlos Jody (PSL-RJ) ameaçou de “deportação” o jornalista Glenn Greenwald, do Intercept, acusando-o de cometer “crimes contra a segurança nacional”. No dia anterior, Jordy apresentou uma proposta para convidar Greenwald a prestar esclarecimentos sobre a divulgação de conversas entre Sergio Moro e o procurador federal Deltan Dallagnol. Junto com Filipe Barros (PSL-PR), Jordy tenta ainda instaurar uma CPI para “investigar as atividades dos responsáveis pela criminosa interceptação e divulgação de conversas”.

A onda de ataques a Greenwald começou logo após a publicação das primeiras partes da série “As mensagens secretas da Lava Jato”.

Na segunda-feira (10./6), uma ação coordenada no twitter colocou #DeportaGlennGreenwald como um dos assuntos mais comentados na plataforma. Os ataques e peças de desinformação também tiveram como alvo o deputado David Miranda (PSol-RJ), casado com Greenwald.

Heitor Freire (CE) e Charlles Evangelista (MG), deputados federais do PSL, distribuíram em suas redes sociais montagens com fotos de Greenwald e afirmações falsas de que David Miranda é acusado de terrorismo e condenado por crime contra a segurança do Reino Unido. O deputado Paulo Eduardo Martins (PSC-PR) também publicou conteúdo semelhante.

A Abraji manifesta solidariedade a Glenn Greenwald e repudia os ataques direcionados a ele, à sua família e a seus colegas do Intercept, especialmente os que partem de agentes públicos. Tentativas de intimidar e silenciar um veículo são ações típicas de contextos autoritários e não podem ser tolerados na democracia que rege o país”.

Diretoria da Abraji, 19 de junho de 2019.

https://abraji.org.br/abraji-repudia-ataques-a-glenn-greenwald-e-equipe-do-intercept

 

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