Maria do Rosário Caetano -
Está em cartaz, nos cinemas, o longa documental “Os transgressores”, de Luiz Erlanger.
O filme começa com Paulo Freire (1921-1997), o pedagogo da Libertação, vai para Carlos Tufvesson, que defende os direitos LGTB, chega a Celso Atayde, da Central Única das Favelas (CUFA) - muito sincero e divertido o depoimento do líder " marrom", que conta coisas incríveis sobre Bagulhão - e conclui com Lucinha Araújo, mãe de Cazuza, que ajuda crianças portadoras de HIV.
Ainda aguardo um grande filme sobre Paulo Freire. Toni Venturi dedicou um documentário a ele. Mas o próprio Toni admite que fez um registro sem maiores pretensões para o Instituto Paulo Freire.
O episódio de “Os transgressores” colhe depoimentos até bons (de Cortella, Dimenstein, de Ladislaw Dowbar, de familiares de Freire), mas não vai fundo no pensamento do educador-filósofo.
E nem registra importante estudo de Venício Artur de Lima, cuja tese de doutorado, defendida nos EUA, aplica as ideias de Freire à Comunicação e à Cultura. A obra ganhou reedição recente.
Em 1982, em Brasília, a Frente Cultural do DF, que aglutinava sindicatos, associações profissionais, diretórios estudantis, a seccional da Orquestra Sinfônica de Brasília (OSB) e o Movimento Candango de Dinamização Cultural (CUCA) promoveu o seminário Paulo Freire e a Educação Brasileira, que resultou em um livreto de 40 páginas, fartamente ilustradas.
Foram usadas fotos do acervo do MEC da era João Goulart, quando Freire comandou processo de alfabetização de adultos em vários pontos do território nacional.
Uma sequência de fotos registra o Tu já lê. Os artigos que recheiam a publicação trazem a assinatura de Helene Barros (A Experiência de Aplicação do Método Paulo Freire de Alfabetização de Adultos em Brasília), Venício Artur de Lima (Paulo Freire e as Teorias da Comunicação) e, por fim, texto elaborado por alunos de Mestrado em Educação na UnB, que estudaram a obra do pedagogo (Paulo Freire - Fundamentos e Perspectivas de Sua Concepção Educacional).
Entre os mestrandos estava Maria Duarte, na época grande gestora cultural do SESC Brasília (sede do seminário), e presença fundamental na organização dos debates e do livro.
E na obtenção das ótimas fotos que ilustram a publicação. Que aliás, esgotou em poucos dias seus mil exemplares.
E o seminário, que contou com palestras das mestrandas da UnB, de Venício A. de Lima e de Francisco Wefort, sociólogo e futuro ministro da Cultura de FHC (e na época genro de Freire), abarrotou o auditório do SESC, na 913 Sul.
Houve até ameaça de invasão do local e, para abrigar o maior número possível de interessados, o jeito foi aceitar pessoas sentadas em colchonetes espalhados pelos corredores e fundo da sala.
Voltando ao cinema: o cineasta Flora Gomes está realizando um filme sobre Amilcar Cabral. E nele deve inserir trecho sobre a participação de Paulo Freire no processo educacional da africana Guiné-Bissau. Aguardemos, pois.
Ah, algum tempo depois, a Frente Cultural de Brasília promoveu mais um seminário sobre Freire, também muito concorrido, no Sindicato dos Professores do DF.
Uma das palestrantes, a professora Vanilda Pereira Paiva, questionou alguns aspectos do projeto do Pedagogo da Libertação e atribuiu ao Conselho Mundial das Igrejas a imensa difusão das ideias de Paulo Freire pelos cinco continentes.