Luciana Barreto (*) -
Quem é este que grita
e que o mundo hoje
grita em seu nome?
[ Amarraram-lhe as mãos
Arrebentaram-lhe os ossos
Seviciaram o seu corpo ]
Do seu nome de sangue pisado
a fome ancestral de tantas áfricas
as guerras em mil olhos submersos
a fuga a braçadas pelo atlântico
a pele preta (mais uma vez) alvejada
[ Amarraram-lhe as mãos
Arrebentaram-lhe os ossos
Seviciaram o seu corpo ]
Hoje sabemos seu nome
Hoje corremos pro Google
e algo a mais do Congo
nos chega de raspão
(sim, agora sabemos
dos cedros, das açucenas
das orquídeas, dos lírios
das etnias em guerra
da mão impiedosa dos belgas
de avós e mães e filhos
que choram em vão
– e um a um –
os seus mortos)
[ Amarraram-lhe as mãos
Arrebentaram-lhe os ossos
Seviciaram o seu corpo ]
Como exumar tantos mortos
e esses nomes grafados na areia?
Como relembrar tantos rostos
desaprendidos na história
dispersados no vento?
Hoje choramos o seu grito
Hoje o nosso peito pesado
E de novo o eco em aporia
E amanhã?
E amanhã?
E amanhã?
E amanhã?
E amanhã?
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(*) Este poema de Luciana Barreto foi publicado hoje em sua página no Facebook.