O livro A Nave 508: Espaço dos Insistencialistas, da artista visual Suyan de Mattos, será lançado no dia 10 de setembro, às 19h, no Bar e Restaurante Beirute da 109 Sul. A publicação recupera a história do Espaço Cultural 508 Sul de Brasília, um dos locais mais emblemáticos da cultura brasiliense. Todos os protocolos de segurança e prevenção à Covid-19 estão garantidos.
Entrevistas, pesquisa de acervo e fotografias fazem parte da obra que se dispôs a recriar a atmosfera que marcou a arte dos anos 1970 e 1980 no Distrito Federal. O Teatro Galpão, Teatro Galpãozinho e o Centro de Criatividade renascem em entrevistas e pesquisas bibliográficas feitas pela Suyan. O livro teve organização de texto e coedição de Kuka Escosteguy.
Com uma tiragem de mil exemplares, parte será enviada àqueles que colaboraram na vaquinha on-line feita para conseguir recursos para sua realização. Cinco por cento da tiragem será encaminhada ao Fundo de Apoio à Cultura (FAC). E a terceira parte será colocada à venda na Banca da Conceição (308 sul) e na livraria do Chiquinho, no Minhocão da Universidade de Brasília.
Embora tão relevante para a capital brasileira, a história deste espaço cultural nunca havia sido registrada oficialmente. As informações encontravam-se na memória de cada um que participou dessa aventura. Da mesma forma, as imagens fotográficas permaneciam guardados em gavetas e caixas de papelão pelos próprios artistas e/ou fotógrafos da época. Para conseguir reconstituir toda essa história, Suyan de Mattos fez entrevistas com 53 pessoas. Desta forma, o local voltou à vida, pelas palavras de quem mais o conheceu de perto. “A história oral permite apreender como a memória de um grupo se constitui e se transmite, como reforça sua identidade e assegura sua permanência”, explica a autora.
Todo o trabalho começou em 2017, depois de conversa da autora com o jornalista TT Catalão. “Ele falou da importância de recuperarmos a história desse local, tão marcante para a arte de Brasília”, diz Suyan.
Inicialmente, o projeto contemplaria um livro e um vídeo com registro das entrevistas, gravadas pelo diretor e produtor Markus Avaloni. Depois, optou-se por lançar apenas a obra escrita. Dentre as conversas gravadas, quatro delas estão sendo exibidas no perfil do projeto no Instagram (a_nave_508): com o cantor e compositor Oswaldo Montenegro, com o artista gráfico Alex Chacon, com o ator e diretor Dimer Monteiro, já falecido, e com o poeta e jornalista TT Catalão, in memoriam.
Diariamente, de segunda a sexta-feira, sempre às 19h, pelo Instagram do projeto, Suyan de Mattos também entrevista outros artistas que foram fundamentais para a história do Galpão. As conversas ficam disponíveis para visualização no perfil a_nave_508.
O livro A Nave 508: Espaço dos Insistencialistas é dividido em três partes. A primeira contempla a história do Teatro Galpão. A segunda recupera a trajetória do Teatro Galpãozinho. E a terceira dedica-se ao Centro de Criatividade. Em cada uma delas, três capítulos: narrativa histórica, depoimentos e fotografias.
Para compor esse mosaico, foram entrevistados artistas cênicos (atores, atrizes, bailarinas e bailarinos), artistas visuais, músicos, produtores culturais, diretores, ex-diretores do espaço, dentre muitos outros. Pelas páginas do livro passam os depoimentos de nomes como João Antonio (idealizador de todo o espaço), Hugo Rodas, Fernando Villar e Guilherme Reis (responsáveis por alguns dos maiores sucessos do Teatro Galpão), a atriz Iara Pietricovsky, o ator, diretor e produtor Neio Lúcio, a bailarina e diretora Eliana Carneiro, o ator e diretor Humberto Pedrancini, dentre muitos outros, que fizeram a história do local. “Eles atestam a importância daquele espaço para a consolidação do teatro e das artes visuais brasilienses contemporâneos”, revela Suyan.
Um pouco de história
Berço da ousadia, palco de liberdade e experimentação, o espaço começou a ser concebido em 1973, sob a gestão de Ruy Pereira da Silva na direção executiva da Fundação Cultural do Distrito Federal. Galpões utilizados para estocagem de materiais da Novacap foram destinados para a realização de atividades culturais.
Primeiro, nasceu a Galeria A, com exposição do arquiteto japonês Kenzo Tange. Em seguida, foram inauguradas mais duas galerias, B e C. No início de 1974, o embaixador Wladimir Murtinho, então Secretário de Educação e Cultura, autoriza a transformação de um dos galpões em teatro. E em 1975, inaugurava-se o Teatro Galpão, com a peça O Homem que Enganou o Diabo e Ainda Pediu o Troco, de Luiz Gutemberg, sob a direção de Laís Aderne. O sucesso foi enorme e o lugar se transformou em centro de produção e formação artística. A partir daí, uma sequência de estreias revelou nomes de atores e diretores da cidade e possibilitou ao público de Brasília o contato com trabalhos inventivos que renovaram o teatro brasileiro contemporâneo, como os do grupo carioca Asdrúbal Trouxe o Trombone.
Em 1977, os outros galpões foram ocupados. Nascia o Galpãozinho, espaço que se destinou a grupos de teatro amador e cuja história ficou marcada por ser o palco do Jogo de Cena, conduzido pelo ator Léo Neiva. Também surgiu o Centro de Criatividade, que se transformou em uma casa de artes, ponto de reunião de artistas, que teve a direção de artistas como Luiz Aquila e coordenadores com o talento do artista Alex Chacon.
Pelo palco do Teatro Galpão passaram montagens antológicas como O Beijo no Asfalto e O Exercício, ambas dirigidas por Dimer Monteiro; João sem Nome, musical de Oswaldo Montenegro; Flicts, dirigido por Ary Pararraios; Os Saltimbancos, Trabalho nº 1, Trabalho nº 2, Trabalho nº 3, O Noviço e a peça Besame mucho, sob a direção de Hugo Rodas e produzida pela Candango Promoções Artísticas; A Revolução dos Bichos, dirigido por Guilherme Reis; O último rango, de J. Pingo, Vidas Erradas ou Pode vir que não morde, de Fernando Villar; A Gema do Ovo da Ema, de Murilo Eckardt; Ladies da madrugada, dirigida por Ricardo Torres; dentre muitas outras.
Em 1982, o Teatro Galpão paralisou suas atividades para só abrir dois anos depois. Em 1986, todo o espaço teve que ser fechado por problemas estruturais. A narrativa de A Nave 508 chega até esse momento.
Mas a história do Galpão seguiu. Após permanecer 10 anos fechado, o local voltou às atividades em 1996, já com o nome de Espaço Cultural 508 Sul. Em 1999, em homenagem ao líder da banda Legião Urbana, que havia falecido três anos antes, o local ganha o nome de Espaço Cultural Renato Russo.
Dez anos depois, novo fechamento do local, para reforma das instalações e adequação à acessibilidade. E em 2016, o espaço foi novamente entregue à população, reformado e contando com o novo Teatro Galpão e o Teatro de Bolso Robson Graia, Sala Marcantonio Guimarães, galerias, ateliê de pintura, biblioteca de artes, gibiteca, musiteca, sala Multiuso e Galpão das Artes.
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Ficha técnica:
Livro: A Nave 508: Espaço dos Insistencialistas
Autoria e Coordenação Geral: Suyan de Mattos
Organização de texto e coedição: Kuka Escosteguy
Revisão de texto: Palco y Letras
Elaboração do projeto, Gestão e Produção executiva: Marcia Gomes e Hugo Gomes pela GC Incentivem Produções Culturais
Projeto gráfico, diagramação e Web Design: Cleber Cardoso Xavier
Produção de vídeo: Markus Avaloni
Decupagem: Leci Augusto
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Serviço:
Lançamento: A Nave 508: Espaço de Insistencialistas
Local: Beirut
Bar e Restaurante – CLS 109
Data: 10 de setembro de 2021
Horário: das 19h às 21h
Preço do exemplar: R$ 40
(À venda na Banca da Conceição (308 sul) e na Livraria do Chiquinho - Minhocão da UnB.