De Angélica Torres.
Leituras: Parte 1, por Angélica. Parte 2, por Maya Lyma. Música: Guilherme Vaz.
Brasília, quarentena do Covid19, Maio, 2020.
muito chique
ser poeta suicida
uma quase fama
por olhares voyeuristas
prometida.
diverso e tão assemelhado
o rolo compressor
desprender-se do oxigênio
pela dor maior que ofende
a quem ao sol suado
em fétido mangue
deitou o brinde
por amor amaro
à existência.
tão delicado o narciso
o cuidado esse
de plantar a flor do suicídio
no quintal do mar mistério:
o sidério gesto
corrosivo salto
gás carbônico
punhal elétrico
bala de veneno
pendente corda
escadas descendentes
que elevem o poço escuro
da alma à ascese.
mariposas de asa breve
não me levem a tais
charmosos cemitérios
pelo garbo do sucesso
ofertado aos esposos
do tédio.
só um corrimão mais
que mãos de amparo
me serve.
pois se o Covid
não me feminicida
como querem Bolsonaro
e seus facínoras
também não suicido
na quarentena
que nos encarcera.
cometo é um poema
dionisíaco à moda
de Lenine, que alegra.
II
nem lady Macbeth
nem lady Gaga
nem lady Di
nem lady Day
nem lady Godiva
nem lady Madonna
nem lady Jane
nem Lay lady lay
nem lady Chaterlley
nem Sofisticated lady
nem lady Ofélia
nem ser rainha nem ser rei
serena no sereno
sereia ao sol
na areia no cimento
Sileno o sábio sátiro
se me deixa serei
saracoteio nas searas
saravá nas saraivadas
sortida salgada sarada
no poema do sarau
da quarentena
que às ladies and
gentlemen servirei!