“2022 será um ano de muito trabalho”, o Gontijo augura.
Prata da casa

 Antônio Carlos Queiroz (ACQ)

Guia Musical de Brasília nº 9 – O saxofonista Carlos Gontijo, endorsee da Selmer Paris, é prata da casa. Nasceu em Brazlândia e lá foi criado. Muito cedo teve contato com a música, através dos discos do pai, um sujeito eclético que ouvia MPB, música clássica, música regional...

Com essa “formação de ouvido”, ele teve os primeiros contatos musicais na Banda Sinfônica da Regional de Ensino de Brazlândia. Quando conheceu o saxofone, diz que foi uma paixão à primeira vista. Mas o maestro da banda, o Josué, não o deixava praticar. Somente quatro anos depois, quando se matriculou na Escola de Música de Brasília, é que ele inaugurou os estudos do instrumento. “Ali tive a oportunidade de ser bem orientado pelo professor Carlos Eduardo, o Boogie, que formou gerações de saxofonistas. Foi ele que me alfabetizou musicalmente”.

Dali Gontijo seguiu os “trâmites legais”. Participou de muitos festivas e concursos Brasil afora. E fez o bacharelado na UnB com o professor Vadim Arsky. Num determinado festival, conheceu o professor Dilson Florêncio, “uma das maiores autoridades em saxofone no Brasil, quiçá no mundo. Eu entrei na classe dele e dali não saí mais. Ele fazia o que a gente conhece como saxofone erudito ou clássico, explorando o repertório escrito especialmente para o saxofone”.

A escola francesa – Gontijo comenta que o “berço do saxofone erudito é a França” e, quando soube disso, “já sabia que queria estudar em algum conservatório na França”. Isso aconteceu em 2008. “Ganhei uma bolsa para estudar no Conservatório de Rouen, com o professor Marc Sieffert, até 2011”. De lá pra cá, ele se especializou e passou a dar aulas em festivais e orquestras no Centro Oeste, como solista e como  integrante do naipe da orquestra. Ele integra o Quarteto Brasília Sax, que contabiliza várias estreias mundiais. E toca também com um duo de saxofone e flauta, tendo como parceira a esposa, Eidi Lima, com quem já viajou mundo afora. 

Gontijo diz que não faz composições, embora já tenha escrito algumas coisinhas. Ultimamente, tem trabalhado com um grupo de jovens compositores que escrevem especialmente para ele, de Brasília, Goiânia, São Paulo, e até um do México, Inacio Martinez.

Preocupado com a divulgação do saxofone, ele tem também produzido bastante material didático. “Para contribuir com a escola brasileira de saxofone”, justifica.

Aqui Gontijo nos dá uma informação muito relevante: ele gravou, pela primeira vez em todo o mundo, a íntegra do Alfabeto do Saxofonista, um conjunto de 130 lições básicas, produzidas pelo saxofonista francês Hubert Prati. “Em 2020 eu finalizei o projeto, em que explico como realizar cada uma das lições do método. Sua aceitação tem sido grande”. O Alfabeto do Saxofonista foi lançado pela plataforma Musicalll, criada para intermediar serviços na área da música através de vídeo-aulas. 

Seu compositor preferido? Heitor Villa-Lobos. “Ele escreveu 269 obras como o saxofone na formação instrumental. Talvez seja o compositor que mais escreveu para saxofone no mundo inteiro”.

Ensino – Esta entrevista foi acompanhada pelo diretor do Guia Musical, Joaquim Barroncas, ele próprio saxofonista. Barroncas quer saber sobre as atividades de professor de Gontijo, mais especificamente, na Academia Brasileira do Saxofone. “Nesses novos tempos, com a pandemia, nós sentimos muita falta dos eventos, encontros, festivais, simpósios e congressos. A gente passou quase um ano sem se encontrar. Pensando nisso, eu tive a ideia do projeto da Academia Brasileira do Saxofone, com grandes nomes brasileiros e alguns convidados estrangeiros. O projeto é muito interessante. Deve funcionar um ano inteiro, até junho do ano que vem, com atividades semanais: nas quintas, temos uma palestra; nos sábados, duas master classes, pela manhã, de música erudita, à tarde, saxofone popular”.

Gontijo informa que esta é a maior academia online de saxofone do mundo. O usual é esse tipo de projeto durar um mês, mas este vai durar um ano inteiro. Sua continuidade dependerá da recepção dos alunos. “O online cansa também. Se a gente sentir que o projeto pode ter uma segunda temporada, continuamos”.

Sonoridade - O Barroncas pergunta agora sobre os fatores que interferem na sonoridade do sax. O equipamento certamente interfere na qualidade do som, mas não apenas, explica Gontijo. É preciso levar em conta também os acessórios, a boquilha, a palheta e a abraçadeira. “Sou um dos poucos brasileiros endorsees da Selmer Paris, e tenho o prazer de poder de divulgar os seus instrumentos, que são referência no mundo inteiro. Quem sabe num futuro próximo eles instalam uma filial aqui”?

Barroncas insiste: “O que é importante para se tirar um bom som do sax”? Gontijo é objetivo: “A primeira coisa é você ter uma boa coluna de ar. O som não é produzido só pelo equipamento. O que alimenta o instrumento é o ar. Se a gente não tem uma preparação para uma boa coluna de ar e uma boa embocadura, não consegue ter uma sonoridade bacana. O importante é o que está atrás da boquilha”. 

Coluna de ar seria o fôlego? “Mais ou menos”, explica Gontijo. “Na verdade, é o jeito como o ar é expelido dos pulmões, e com qual pressão, auxiliada pelos músculos intercostais e pelo diafragma”.

Para o final de 2021 Gontijo não agendou nenhum concerto. Na semana anterior à entrevista, realizada dia 22 de outubro, ele havia gravado um CD com a Orquestra Filarmônica de Goiás, trabalho que lhe deu muita satisfação. Para abril do ano que vem ele programou uma miniturnê pela França, com três concertos e duas master classes, em Paris, Rouen e Bordeaux.

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