Antônio Carlos Queiroz (ACQ) –
Acaba de sair do forno, pela Editora Anita Garibaldi e a Fundação Maurício Grabois, a terceira edição do livro Comuna de Paris - O proletariado toma o céu de assalto, de autoria de Sílvio Costa, professor da PUC de Goiás, cujo objetivo é contextualizar e analisar a primeira tentativa do proletariado de organizar uma sociedade socialista.
O livro é dividido em duas partes. A primeira, composta por cinco capítulos, caracteriza, em linhas gerais, o II Império Napoleônico – forma assumida pela contrarrevolução aristocrático-burguesa frente ao surgimento do proletariado como força política independente. A segunda, com oito capítulos, aborda o surgimento das condições imediatas que levaram à instauração do poder proletário em Paris.
O livro traz ainda um conjunto de anexos que detalham a cronologia dos acontecimentos, destacando os episódios mais relevantes da Comuna; a biografia sintética dos principais personagens; textos que analisam a importância histórica e teórica da Comuna para a luta dos trabalhadores; e uma galeria de fotos e ilustrações dos acontecimentos.
A França napoleônica, em agosto de 1870, é derrotada pela Prússia e a 4 de setembro é declarada a queda do II Império e a formação de um governo provisório, dando início à 3ª República. A 8 de fevereiro de 1871, em plena guerra e após o armistício, são realizadas eleições para a Assembleia Nacional. Estas, em condições extremamente adversas para as forças democráticas, garantem a vitória das facções conservadoras – principalmente monarquistas.
Paris, sitiada pelos prussianos, não aceita as condições impostas para a paz e se insurge contra o governo capitulacionista de Thiers em memorável acontecimento, quando, segundo as palavras de Karl Marx, o proletariado “tenta tomar o céu de assalto”. Esta insurreição heroica ficou registrada na História como a Comuna de Paris de 1871, anunciando a possibilidade de construção de uma sociedade mais justa, fraterna e igualitária.
Abaixo, segue a apresentação da obra que escrevi a convite do autor, um amigo da adolescência em Anápolis, Goiás, quando fomos colegas do curso de francês oferecido pela Fundação Educacional local.
Aprender de Paris!
Ó cidade dolorosa e quase morta
Cabeça e seios voltados pro Amanhã
Abrindo à tua palidez bilhões de portas
Cidade que o Passado feio diria sã:
(Versos de A Orgia Parisiense, poema de Arthur Rimbaud)
No momento em que celebramos os 150 anos da Comuna de Paris (18 de março a 28 de maio de 2021), é mais que oportuno o lançamento da terceira edição do livro do grande amigo e conterrâneo Sílvio Costa, um dos poucos recursos de acesso popular no Brasil aos que se interessam pela entrada triunfal do proletariado no palco da história mundial.
Aqui copio o grande poeta, romancista, designer e militante socialista William Morris (1834-1896), que escolheu o verbo “celebrar” no lugar de “comemorar”. No editorial de 17 de março de 1888 do jornal Commonweal, órgão da Liga Socialista em Londres, Morris justificava a sua opção: “Na celebração, (…) ficamos menos inclinados a falar de seus (dos communards) erros táticos ou de considerar as suas palavras e ações do ponto de vista de uma ‘pessoa superior’”.
Como já faziam desde 1872, os socialistas londrinos estavam celebrando nessa ocasião o “primeiro ataque consciente à dominação de classe, (…) o direito das pessoas de controlar suas próprias vidas, de administrar a terra que trabalham e suas ferramentas, onde quer que estejam vivendo”.
Um balanço equilibrado da experiência da Comuna necessariamente começa por valorizar a “sua própria existência em ato”, como fez Marx.
Olhando em retrospecto as razões do estrangulamento da Comuna, é muito fácil criticar os seus dirigentes, chamando-os de ingênuos, por exemplo. Impossível não terem percebido que Paris estava isolada do resto da França, do ponto de vista territorial, e também dos camponeses, em geral monarquistas. Impossível não terem avaliado o significado estratégico do cerco dos dois exércitos, o francês e o prussiano, sendo este o mais poderoso da Europa na ocasião. Por que não investiram mais recursos na imprensa popular para divulgar os feitos da Comuna e rebater as fake news e calúnias do governo de Versalhes, que, durante certo tempo circularam livremente na cidade? Etc.
O problema é que o povo faz a história sem poder escolher de início os dados oferecidos pela conjuntura. Daí o povo se defronta com o dilema do Hamlet: lutar ou não lutar, eis a questão. Aceitar passivamente as balas e baionetas do destino ultrajante ou pegar em armas para enfrentar os inimigos, que inventaram um destino para as massas sem consultá-las?
Levando em conta todos as dificuldades decorrentes de seu pioneirismo ousado, atrevido, a Comuna, no curtíssimo espaço de sua existência, escreveu volumes sobre a potencialidade da vida dos trabalhadores livremente associados.
A Comuna demonstrou, positivamente, que o fim do trabalho alienado, a igualdade de gênero e a separação dos assuntos da Igreja dos assuntos da sociedade civil são problemas práticos, não teóricos. De maneira negativa, deixou evidente a necessidade da abolição do Estado burguês e da criação de uma nova entidade de organização social que já não é mais Estado, como dizia Engels, para quem a Comuna criou uma filosofia da Liberdade superior à da Declaração de Independência dos Estados Unidos e à da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (mas não da Mulher) de 1789.
Sílvio Costa enfatiza que a Comuna de Paris inaugurou a Era das Revoluções Proletárias, servindo de modelo e inspiração para a Revolução Russa (empreitada que durou bem mais que a Comuna – 74 anos contra 72 dias) e para as revoluções chinesa, cubana etc. Uma hipótese de otimismo histórico é que o fracasso da União Soviética demonstrou, paradoxalmente, que essa Era está longe de terminar, porque o Capitalismo ainda está de pé, e não se esgotaram as lições da Comuna para a conquista da República Universal.
Em L’Imaginaire de la Commune, (La fabrique éditions, Paris, 2015), Kristin Ross, professora de literatura comparada da Universidade de Nova York, refere-se à velha tentativa de contrabando histórico por parte dos republicanos franceses, para quem a Comuna teria, com os seus 50 mil mortos, salvo a III República inaugurada em 1870. Hoje os discípulos daqueles antigos republicanos tentam vincular algumas das realizações sociais da République Universelle - como as creches, a escola gratuita, laica e obrigatória – ao programa da République Française, cevando assim os mitos nacionais do país.
Essa operação está obviamente condenada ao fracasso porque o principal inimigo dos communards foi o governo republicano fantoche de Adolphe Thiers, refugiado em Versalhes. As tropas do governo prussiano de Bismarck ocupavam o segundo lugar na fileira dos inimigos da Comuna.
Ora, a Comuna de Paris tinha no seu DNA o internacionalismo. Seu ideário incluía a República Universal e a solidariedade entre as classes trabalhadoras de todo o mundo. Exatamente por esse motivo, Marx afirmou em A Guerra Civil na França:
“Se, pois, a Comuna era a verdadeira representante de todos o elementos sãos da sociedade francesa e, portanto, o verdadeiro governo nacional, ela era, ao mesmo tempo, na condição de governo operário, na condição de intrépida defensora da libertação do trabalho, internacional no sentido pleno da palavra. Debaixo dos olhos do Exército prussiano que tinha anexado duas províncias francesas à Alemanha, a Comuna anexou à França os trabalhadores do mundo inteiro”.
Documentário - Em 2008 eu tive a oportunidade de passar um mês em Paris e, como jornalista, concebi o projeto de um documentário didático sobre a Comuna, infelizmente nunca realizado.
A cena inicial seria a reprodução irônica de um “assalto aos céus”. Com a câmera (ou o celular) na mão e, claro, algumas ideias na cabeça, eu subiria as escadarias da Basilique du Sacré Coeur de Montmartre. Depois, já com falta de fôlego, tentaria acessar, escalando outros 300 degraus, a cúpula da Basílica, o monumento mais conspícuo da vingança da República Francesa e da Igreja Católica contra a Comuna.
Dali, olhando Paris em panorama de 360 graus, me ocorreria uma paródia napoleônica: “Aqui do alto, um século e meio de infâmia e reação vos contempla”. Eu começaria, então, a apontar a câmera (ou o celular) para os principais pontos da cidade de alguma maneira vinculados aos acontecimentos de 1871.
O primeiro alvo seria a própria colina de Montmartre onde está edificada a Basílica do Sagrado Coração. Ali, no dia 18 de março, o povo, liderado por mulheres valorosas, entre as quais a militante socialista Louise Michel (na foto, abaixo), impede que as forças de Adolphe Thiers confisquem os canhões que a população havia adquirido, por subscrição, para a Guarda Nacional defender a cidade do exército invasor do Kanzler Otto von Bismarck.
Com o livro de Kristin Ross, no entanto, eu aprendi que essa abordagem, fiel à versão mais consensual dos acontecimentos, está equivocada, inclusive entre historiadores de esquerda. Contar o início da história pela tentativa de sequestro dos canhões de Montmartre alimenta a ideia de que a Comuna teria sido uma insurreição espontânea das massas parisienses. Acontece que três anos antes, pelo menos, os clubes e as associações dos revolucionários já vinham se reunindo publicamente para debater a République Universelle. Um inimigo dos communards, Chevalier d’Alix, definiu os clubes e as assembleias, no seu Dictionaire de la Commune, como “o collège de France da insurreição”.
Assim, em vez de começar a história da Comuna por uma “ação desajeitada do Estado”, Kristin Ross prefere iniciá-la pelas assembleias populares que pipocaram logo após o fim do Império e que deram origem às associações e comitês e aos clubes revolucionários (ruches bourdonnantes, colmeias zumbidoras) atuantes durante o cerco. E não só em Paris. Em setembro de 1870, logo após a proclamação da República, ocorrem no Sul da França várias insurreições breves, incluindo a que ficou conhecida como Comuna de Lyon, liderada pelo líder anarquista Mikhail Bakunin.
Com essa nova perspectiva, eu agora apontaria a câmera (ou o celular) para o conjunto residencial situado na rua Léon-Jouhaux, a antiga rua de la Douane, a 50 metros do canal Saint-Martin. Ali funcionava o Tivoli-Vauxhall, uma sala de espetáculos onde os revolucionários costumavam se reunir. É provável que da cúpula da Basílica não seja possível ver essa quadra. A solução seria então apontar a câmera (ou o celular) para o monumento da Praça da República. Num dos vértices da praça começa a rua Léon-Jouhaux.
Nessa altura, outro ponto de relevante interesse fica a cinco minutos a pé da Praça da República, descendo a rua Béranger e dobrando na rua Charles François Dupuis até a rua de la Corderie, onde ficava a sucursal da Internacional, o Comitê dos 20 Bairros (Arrondissements) e, a partir do início de março de 1871, o Comitê Central da Guarda Nacional.
Era ali que, segundo Kristin Ross, despachava, desde a sua chegada de Londres no dia 28 de março, a militante russa Élisabeth Dmitrieff, enviada especial de Marx para reportar o desenrolar da Comuna em nome da Internacional. Dmitrieff foi também a fundadora da União das Mulheres, no dia 11 de abril, a associação popular mais organizada da Comuna.
Concluída a apresentação dos antecedentes genéticos da Comuna, incluindo por suposto a fuga do governo de Thiers para Versalhes (10 de março), aí sim, o vídeo-documentário focaria o episódio da tentativa de tomada dos canhões de Montmartre.
Em seguida, a câmera (ou o celular) desceria até a Praça Louise Michel, que fica logo em frente à Basílica. O narrador descreveria a saga dessa mulher – professora, poeta, escritora, enfermeira, filiada ao partido anarquista de Louis Auguste Blanqui –, a militante mais famosa da Comuna, cantada em prosa e em verso, não apenas pelos revolucionários. Victor Hugo, deputado republicano moderado entre 8 de fevereiro e 9 de março de 1871, a chamou num poema de Viro Major, Mulher Maior.
Guilhotina queimada - Façamos agora um salto para a Praça Voltaire (hoje Praça Léon Blum), situada no 11º Arrondissement. Ali, no dia 6 de abril, o 130º batalhão da Guarda Nacional instala uma guilhotina, aos pés da estátua de Voltaire, representante do Iluminismo Moderado e alegre defensor da arbitrariedade do Poder Judiciário. A multidão grita “Abaixo a pena de morte”! Minutos depois os guardas tacam fogo no cadafalso, símbolo máximo da repressão contrarrevolucionária.
Vamos agora à Praça Vendôme, no 1º Arrondissement, ao norte do Jardim das Tulherias. Lá, no dia 16 de maio, a multidão vai pôr abaixo a Coluna de Vendôme, uma trolha de 44,3 metros de altura e 3,60 metros de diâmetro, encimada por uma estátua do Imperador Napoleão vestido de general romano. A peça foi mandada esculpir por seu sobrinho, Napoleão III, para comemorar a vitória dos franceses contra os russos e austríacos na Batalha de Austerlitz.
A justificativa para derrubar a coluna foi explicitada num decreto do Conselho pelo jornalista e dramaturgo Félix Pyat: “A Comuna de Paris, considerando que a coluna imperial da Praça Vendôme é um monumento de barbárie, um símbolo da força bruta e falsa glória, uma afirmação do militarismo, uma negação do direito internacional, um insulto permanente dos vencedores sobre os vencidos, um atentado perpétuo a um dos três grandes princípios da República Francesa, a fraternidade, decreta: Artigo único – A Coluna Vendôme será demolida”.
Há duas curiosidades nessa história. A primeira é que o presidente da Federação dos Artistas, o pintor Gustave Courbet, autor do extraordinário quadro A Origem do Mundo, hoje abrigado no Museu d’Orsay, acabou levando a fama pela destruição da coluna. Pesou o fato de ele ter proposto, em 1870, a remoção da coluna para que os seus materiais fossem usados na restauração do Hôtel des Invalides. E pesou muito mais, é claro, o espírito de vingança do conselho de guerra do governo Thiers. Courbet foi condenado, em julho, a seis meses de cadeia e ao pagamento de uma indenização de 500 francos.
A figura desprendida, meio escandalosa de Courbet acabaria eclipsando outro importante líder da Comuna, o poeta e militante Eugène Pottier, fundador da Federação dos Artistas, prefeito do 2º Arrondissement, e autor, em junho de 1871, em plena repressão dos remanescentes da Comuna, do poema anarquista A Internacional. Musicado por Pierre Degeyter, um comunista anarquista franco-belga, o poema de Pottier se tornaria o hino dos anarquistas, libertários, socialistas e comunistas do mundo todo. Até 1944 foi o hino oficial da União Soviética.
A segunda curiosidade é que logo depois da demolição, a Praça Vendôme foi rebatizada com o nome de Praça Internacional. Mais uma vez, os communards quiseram enfatizar o seu compromisso com a fraternidade entre os povos.
Em maio de 1873, o novo presidente da República, marechal Mac-Mahon, mandou reconstruir a coluna, obra terminada em 1875.
Invasão e retomada - No roteiro desse documentário hipotético, a retomada de Paris pelas tropas de Thiers poderia ser ilustrada pelas batalhas registradas na Rotonde de la Villette, um antigo posto em que se fiscalizava a entrada de produtos importados na cidade. A Rotonde está localizada no 19º Arrondissement, bem na frente do canal de l’Ourc, entre as estações Jaurès e Stalingrado do metrô. O local, tomado pelos soldados da Comuna (fédérés, federados) nos dias 24 e 25 de maio, foi fortificado com barricadas, mas incendiado durante as refregas. Foi um dos últimos focos da resistência dos communards, até o dia 26 de maio, quando também caíram perto dali os federados sitiados na Ponte Crimée e na rua d’Allemagne, hoje Avenida Jean Jaurès.
Não muito distante da Rotonde fica o último bastião da resistência da Comuna, o cemitério do Père-Lachaise, que serviu de refúgio de duzentos federados no dia 28 de maio. As tropas de Thiers bombardearam o local antes de invadi-lo. Sem armas, os federados se defenderam com facas, pedras e paus, entre os túmulos. No final, 147 deles foram fuzilados diante de um muro nos fundos do cemitério. Seus corpos foram jogados numa fossa comum. A cena macabra está descrita na última estrofe do poema A Orgia Parisiense de Rimbaud:
– Sociedade, tudo foi reposto: orgias
Ofegantes choram nos bordéis antigos
E os gases nos rubros muros em delírio
Sinistros flambam até o embaçado índigo
O vídeo está chegando ao fim. A câmera (ou o celular) ainda percorre o cemitério, acompanhada de um(a) guia dos Amis de la Commune, a mais antiga organização do movimento operário francês, criada em 1882 por sobreviventes da Comuna que voltavam do exílio. A palavra é passada para o moço ou a moça para que conte a história de alguns líderes da Comuna enterrados no Père-Lachaise. Entre eles, o grande revolucionário socialista não marxista Auguste Blanqui, também herói das jornadas de 1848; os generais poloneses Jarosław Dąbrowski e Walery Wroblewski, esse último filiado à Internacional; o genial pintor e caricaturista André Gill, importante membro da Federação dos Artistas, ilustrador das revistas La Lune (1876-1879), L'Éclipse e La Rue (1868-1876); o jornalista e escritor socialista Benoît Malon, membro do Conselho da Comuna e presidente da Câmara de Batignolles; Jean Baptiste Clément, membro do Partido Operário Socialista Revolucionário, músico e jornalista, repórter de Le Cri du Peuple, e compositor de duas importantes canções dos tempos da Comuna, Le temps de cerises (Tempo da cereja) e La semaine sanglante (A Semana Sangrenta); o brilhante escritor e jornalista Jules Vallès, socialista anarquista proudhoniano, editor do jornal Le Cri du Peuple, um dos mais importantes da Comuna.
Na penúltima seção do suposto vídeo, começo a descer as escadas da cúpula da Basílica do Sagrado Coração, enquanto recordo a história da construção do edifício. É verdade que o seu projeto foi concebido no ano anterior à fundação da Comuna, mas foi insuflado pelo espírito de vingança dos católicos e da extrema-direita após a sua derrota. Um ânimo disfarçado de “voto nacional”, que traduziu, algumas oitavas acima, a promessa inicial de André Legentil, um filantropo papa-hóstia, de construir a igreja para que o país expiasse os pecados dos responsáveis pelos “infortúnios que assolam a França e talvez dos infortúnios maiores que ainda a ameaçam”. Que pecado e que infortúnio maior poderia haver do que a ousadia do proletariado de Paris, unido à sua classe média, de assaltar os céus da burguesia e do império? Com esse ardor foi organizada uma campanha de arrecadação de fundos em todo o território de França para financiar a construção da igreja.
Para que o terreno no topo da colina de Montmartre fosse adquirido, a Assembleia Nacional reconheceu a “utilidade pública” do projeto da Basílica. Votaram a favor 382 contra 138 e a abstenção de 160 deputados. A Assembleia Nacional era composta de 686 membros, 396 dos quais eram monarquistas, e a imensa maioria de católicos fanáticos. A construção da Basílica foi iniciada em junho de 1875 e terminada em 1914.
O documentário fecha com o trecho de um artigo de Jean-Baptiste Clément rolando na tela (lettering). Publicado no final de abril de 1871 no jornal Le Cri du Peuple, o artigo de Clément proclama:
"Acostumados com os infortúnios… dizemos: Não nos preocupamos aqui em saber se esses decretos da Comuna (adotados desde o início de abril) serão cumpridos ou não. O que nos interessa é constatar o seu significado, (...) o seu alcance filosófico, o seu valor político e social. (…).
“Acostumados aos infortúnios ... dizemos: vamos supor que o povo seja derrotado, vamos supor que os bonapartistas e os monarquistas voltem a Paris chapinhando sobre poças de sangue, pisoteando cadáveres, o que restará da Comuna? Decretos nas paredes, cartazes que serão rasgados, respondem os que não enxergam além da ponta do nariz.
“Ah! Vocês se equivocam! Mesmo que esses decretos não sejam plenamente executados, mesmo que vocês rasguem todos os cartazes, mesmo que vocês pintem todos os muros de cal, vocês não conseguirão arrancar de nossas mentes os princípios que eles afirmaram, você não impedirão o povo de perceber a diferença que existe entre os governantes de
Versalhes e os membros da Comuna, vocês não impedirão que o povo tenha visto ali a salvação dos trabalhadores e o futuro do mundo”.
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