Antônio Carlos Queiroz (ACQ) –
Uma traça mascava livros
como o profeta Ezequiel
ao longo das noites e dias,
macios, com gosto de mel -
Ah, vida besta a dessa traça -
Roer, comer, trepar, botar,
fazer filhotes com pirraça -
“O meu destino eu vou mudar”!
Do currículo fez dez cópias
e as remeteu para os diários -
Não passou nem uma semana,
era crítica literária -
Talento igual não existia
nem sabença: tinha estudado
Salomão, Homero e Horácio,
Shakespeare, Cervantes, Machado -
Do mainstream ela surfava
as ondas que nem o Capeta -
Estava em casa na vanguarda,
compunha poesia concreta -
Feroz voraz no novo ofício,
tanto crítica mais faminta -
Seus furos inspiraram ao Borges
o tópico dos labirintos -
Mas a carreira durou pouco
apesar do enorme apetite -
Ela acabou dedetizada
por um tal Augusto Schmidt
“Criança! não verás nenhum país como o seu”!
“Muita coisa escrita”, Brasil, que a traça comeu –