Cenas inspiradas numa família real de traças especializadas na poesia do nicaraguense Ruben Darío, segunda edição da Biblioteca Ayacucho, Caracas, 1985. (@J.J. Grandville, 1852).
Eruditraça

Antônio Carlos Queiroz (ACQ) –

Uma traça mascava livros
como o profeta Ezequiel
ao longo das noites e dias,   
macios, com gosto de mel -

Ah, vida besta a dessa traça -            
Roer, comer, trepar, botar,
fazer filhotes com pirraça -
“O meu destino eu vou mudar”!

Do currículo fez dez cópias
e as remeteu para os diários -
Não passou nem uma semana,
era crítica literária -

Talento igual não existia
nem sabença: tinha estudado
Salomão, Homero e Horácio,
Shakespeare, Cervantes, Machado -

Do mainstream ela surfava
as ondas que nem o Capeta -
Estava em casa na vanguarda,
compunha poesia concreta -  

Feroz voraz no novo ofício,  
tanto crítica mais faminta -
Seus furos inspiraram ao Borges  
o tópico dos labirintos -

Mas a carreira durou pouco
apesar do enorme apetite -
Ela acabou dedetizada
por um tal Augusto Schmidt

“Criança! não verás nenhum país como o seu”!
“Muita coisa escrita”, Brasil, que a traça comeu –

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