"A vida é de quem se atreve a viver".


As mãos dos cantos de Minas

José Carlos Peliano (*) –

Lá se vai a cabeleira de um morro de história morro abaixo
já de capim e árvores brancas cobrindo sua cabeça
a idade carregada de noites, dias, estrelas e nuvens
na imagem de Minas na parede dos olhos coroada de morros

lá se vai um morro de Ouro Preto
desfeito pela chuva de todos os janeiros
levando de roldão um casarão eterno
com seus encontros, segredos e fantasmas

que a voz de Milton, nascimento de ecos mágicos
um poema de minério abençoado de Drummond
uma arte em madeira altaneira de Aleijadinho
telas nas cores de Carlos e Fani Bracher

os traços encantados e envolventes de Ziraldo
os versos, contos e histórias de Conceição Evaristo

as criações, os feitos e as lutas incansáveis de Darcy Ribeiro
o sertão em ciranda de luz e sombra de Guimarães Rosa

que venha a resistência de ouro de Tiradentes
a liberdade ainda que tardia de ser mineiros
para trazer de volta a doce terra dos horizontes
o doce rio Doce e a energia da terra em Brumadinho

juntar as mãos e as vontades dos cantos de Minas
onde brotam bicas, goiabeiras e o pico de Itabira
a cerração, o mugido do gado e o queijo curado
hora de fazer a hora de replantar o chão e as encostas

o sorriso, o dia seguinte, o olhar cheio de sol
presos nas dores, tristezas, perdas,
manhãs e madrugadas
que escorreram entre as vidas, os dedos e os sonhos
por desastres e tragédias de tamanhos e horas marcadas

que a revoada dos voos das borboletas e vagalumes
elevem a esperança de refazer das minas gerais
a comunhão dos santos encontros e caminhos
com liberdade de ser e estar para poder estar e ser

das serras da Mantiqueira, Caraça, Ibitipoca e Espinhaço
dos rios São Francisco, Jequitinhonha, Paraibuna e das Velhas
dos pássaros, bichos, plantas, frutas e entardeceres
trazer Minas da memória e levar juntos outra vez sua história

o mar verde que banha todos os vales mineiros
e segue pelas encruzilhadas e becos das cidades e vilas
traz lá do fundo do oceano de promessas bem guardadas
ondas de sabedoria, paciência e trunfos resistentes e silenciosos
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(*) José Carlos Peliano, poeta, escritor, economista.

 

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