Luiz Martins da Silva –
Lugar tão distante, de se pensar nunca mais ter-se uma chance, tal a milhagem aérea. Conselho de gente de casa, não leva câmera cara. Levei, então, uma antiguinha, simplória.
Tanto a registar, o primeiro filme foi rapidinho. Fui a um cinefoto comprar mais um. Ocorreu, lá chegando, o balconista examinou a máquina, pediu licença e foi para trás de uma divisória. Veio de lá com dois senhores. Dedução: neto, pai e filho. Confabularam em japonês. Tradução, não viam uma daquelas havia muito tempo. Por mera casualidade, ainda tinham em algum canto um último cartucho. Esperei.
Paguei e fui tirar, uma a uma, as últimas fotos da vida da maquininha. Sensação de se despedir de uma namorada, que não me enviaria notícias e seria sepultada por lá mesmo. Fiquei um tanto acabrunhado, mas, logo me fiz de vítima: “O meu amor por ela já não era mais correspondido’.
Àquela época, nem tanto. Hoje, é na bucha. Dia desses, numa papelaria, gostei de uma caneta de escrita fina, delícia para langorosas caligrafias. Preço, bobagem, não pagaria um café com pão de queijo. A resposta à pergunta adicional é que foi embaraçosa: “Não, terminada a carga não há refil”. Descartável, então? Completamente, sentenciou a balconista em português-brasileiro.
Isto me fez lembrar uma aula que dava de História da Imprensa e notei que ninguém estava entendendo o que era um “aparelho de radiofoto”. Tempos atrás, eu era repórter de texto, viajei acompanhado de um fotógrafo, tipo Cosme e Damião. Traquejado, eu ia direto a alguma cabine que aceitasse franquia telegráfica e digitava a matéria diretamente num telex, rascunho nem pensar.
Dificuldade foi quando ‘catei milho’ num teclado encontrado na África. Na ponta de cá, o meu chefe escreveu uma humilhação: “Vou te mandar para uma aula de telex”. Aceitei, com uma condição: “Se for de telex francês do tempo da primeira guerra, tá combinado”. E isto porque eu estava num “hotel de primeira classe”, de uma capital africana bem moderna.
Em viagens profissionais, terminada uma cobertura, o meu colega ‘Damião’ ficava no banheiro do hotel, onde improvisava um laboratório. Mal a foto saía do molhado, ele desenroscava o bocal do telefone e grampeava com dois “jacarés” os polos de transmissão. Ligava a maleta de radiofoto e ela começava a piar. Cada pio era um sinal enviado e também uma linha a aparecer no papel, no aparelho receptor. Na recepção, linha preta + espaço e, se a linha telefônica não caísse, lá estaria a prova mais convincente do fato, uma radiofoto.
Com texto e imagem, o editor tinha como avaliar se valera a pena o dinheiro gasto com enviados especiais. Dia seguinte, a gente não aguentava a curiosidade e passava uma mensagem perguntando sobre o resultado. Bem – respondia –, matéria assinada, foto e manchete na primeira página. O máximo. É claro que esperávamos também elogios. Mas, isto nem sempre acontecia. Afinal, estávamos cumprindo apenas a nossa a obrigação.