Romário Schettino –
O Brasil foi sacudido neste sábado (29/9) pelo Movimento #EleNão, surgido na internet e organizado por mulheres de todas as tendências políticas e camadas sociais. A movimentação unificou a luta das feministas, dos negros, LGBTs, indígenas e demais minorias contra as declarações fascistas de Jair Bolsonaro, candidato da extrema direita à Presidência da República.
Cerca de dois milhões de pessoas saíram às ruas no Brasil e em várias partes do mundo para dizer não ao nazi-fascismo que se apresenta nessas eleições sob a sigla do nanico Partido Social Liberal (PSL), onde se aninhou o capitão Jair Bolsonaro.
A manifestação não defendia nenhum outro candidato especificamente, mas é mais provável que os resultados das próximas pesquisas favoreçam o candidato do PT, Fernando Haddad, que está em segundo lugar, bem à frente da terceira posição. Ciro Gomes, Marina, Boulos e Alckmin também podem receber algum benefício, mas pouco. O tempo é curto para reverter essa situação, embora os institutos de pesquisa não afirmem ser essa a última palavra do eleitor. É preciso esperar o dia 7 de outubro.
O fato é que a manifestação de sábado provocou um estrago monumental na campanha de Bolsonaro e tudo indica que o embate no segundo turno será mesmo entre Bolsonaro e Haddad, podendo ser, inclusive, que o candidato petista chegue em primeiro lugar. A polarização que antes era entre PT e PSDB, agora é entre PT e o antipetismo assumido por Bolsonaro.
As apostas vão desde vitória de Haddad até uma eventual quartelada para tentar impedir sua posse.
Bolsonaro já disse em entrevista à TV Bandeirante que não aceita nenhum resultado que não seja a sua vitória. Deu a entender que a revolta pode vir das ruas, ou dos quarteis. Sabe-se lá o que isso quer dizer. O ex-ministro da Defesa de Dilma Rousseff, embaixador Celso Amorim, disse em entrevista à revista Carta Capital que essa hipótese de quartelada não representa a opinião da maioria das Forças Armadas, que tende a apoiar não só o resultado da eleição, como a manutenção do Estado Democrático de Direito.
Por sua vez, o ministro da Defesa, Joaquim Silva e Luna, já veio a público descartar qualquer tipo de resistência aos resultados da eleição. E disse à imprensa que "Bolsonaro não representa as Forças Armadas".
Pode-se considerar também que as declarações de Bolsonaro não passam de bravatas de quem já percebeu que vai perder a eleição, na tentativa desesperada de ameaçar os indecisos e os desavisados.
A eleição está polarizada nos atuais níveis porque a grande imprensa trabalhou nesse sentido. O partido de Bolsonaro não representa nada em termos sociais e políticos, mas seu candidato se aproveitou da demonização do PT promovida pela grande mídia associada ao Judiciário seletivo. Bolsonaro, nesse clima, conseguiu levantar parte da opinião pública com um discurso simplista, militarista e demagógico.
Além disso, Bolsonaro leva consigo um general de pijama despreparado para o trato com a sociedade brasileira sobre a qual despeja todo tipo de preconceito contra pobres, pretos e mulheres. Nesse mar de afirmações fascistas, o brasileiro vai às urnas para definir o futuro do país.
As mulheres, que são a maioria da população, reagem a tempo e podem impedir que o Brasil seja entregue ao pior dos mundos. Aliás, essa percepção também é compartilhada pelos democratas mundo afora, onde o #EleNão também foi às ruas com muita força.