Romário Schettino –
O Brasil desce a ladeira mais uma vez. O país de Bolsonaro derrete na economia, no desemprego, na falta de um Ministério da Saúde atuante e vai às urnas para eleger prefeitos e vereadores. São milhares de candidatos de todos os partidos, à esquerda, à direita e seus extremos.
Os partidos estão de olho nas pesquisas e trabalham para derrotar os candidatos apoiados pelo presidente Jair Bolsonaro, que não está filiado a partido algum, pelo menos por enquanto. Bolsonaro alimenta suas preferências e vem pedindo voto para uns e outros aqui e ali.
Os prefeitos das capitais contam muito na hora das grandes decisões nacionais, assim como as bancadas de vereadores que cada partido eleger, já que não existem mais alianças para cargos proporcionais. Prefeitos e vereadores estão nas pontas do eleitorado, e serão naturais cabos eleitorais no futuro, por mais voltados que estejam para as questões locais neste momento.
Em meio a esse quadro, as coligações para prefeito foram decididas pelos partidos de esquerda com poucas ampliações, na vã expectativa de que um candidato a prefeito puxaria votos para seus vereadores. Essa estratégia está em experimento, e pode ser um desastre.
Mesmo assim, as melhores notícias vêm de São Paulo e Rio de Janeiro, onde os candidatos apoiados por Bolsonaro minguam, derretem em plena avenida. Quanto mais palhaçadas comete o “mito”, mais Russomano e Crivella caem nas pesquisas.
Em São Paulo, como o previsto, PSol e PT disputam praticamente os mesmos eleitores. É provável que Boulos vá para o segundo turno com os votos úteis dos petistas, mas para vencer Bruno Covas vai depender de apoio da chamada centro-esquerda. Mas quem? O PSB está arrastando suas asas para o PSDB. PCdoB e PSTU não somam quase nada. Nessa hora, o mais provável é que Russomano anule o voto.
No entanto, o simples fato de Boulos derrotar Russomano, o chamado cavalo paraguaio, e levar junto Bolsonaro, já é uma grande vitória na maior cidade do país. Isso credencia o PSol como partido com musculatura para compor uma coligação de centro-esquerda em 2022. Só não fará isso se o sectarismo interno de seu partido prevalecer.
Já no Rio de Janeiro, a situação é um pouco diferente. O PSol é fraco no Rio. Se o candidato fosse Marcelo Freixo, numa frente de esquerda, seria outra a história. O partido que tem hoje seis vereadores pode ficar só com cinco, mesmo tendo como candidato puxador de votos o conhecido ex-deputado federal Chico Alencar.
O PT também, por razões históricas, não é muito forte no Rio, mas Benedita da Silva disputa com Marta Rocha, do PDT, o segundo lugar na votação do próximo dia 15. Essa dupla teria tido mais chances se tivesse saído unida no primeiro turno. No entanto, o desempenho de Benedita pode ajudar a aumentar a bancada de vereadores do PT, saindo de dois para quatro ou cinco, contando como candidato o ex-senador Lindbergh Farias.
Crivella, que leva Bolsonaro a tiracolo está se dissolvendo. É considerado um dos piores prefeitos que o Rio já teve, por isso mesmo está com altos índices de rejeição (62%).
A recente pesquisa do Ibope mostra crescimento de Eduardo Paes (DEM), podendo leva-lo à vitória no primeiro turno com a ajuda do voto útil e despachar Crivella para sempre.
A extrema-direita bolsonarista está sem ímpeto. Dividida em vários candidatos com pouca ou nenhuma expressão tem um Presidente incapaz de articular uma frase completa sem cometer as maiores barbaridades. É fato que os bolsonaristas nas redes sociais estão esfacelados.
"O bolsonarismo não está forte nos municípios, definitivamente. Se a gente pegar as pesquisas nas principais capitais, os que têm se apresentado fortemente como nomes do Bolsonaro não lideram por isso e não têm conseguido impulsionar uma militância de redes sociais, de grupos de WhatsApp, como fizeram em 2018", analisa o cientista político Francisco Tavares, professor da Universidade Federal de Goiás (UFG), em matéria publicada no site do jornal Brasil de Fato.
Em Manaus, o bolsonarista Coronel Menezes (Patriota) é apenas o sexto colocado, com cerca de 6% das intenções de voto. Em Fortaleza, o Capitão Wagner (Pros) aparece em primeiro lugar (29%, mas evita vincular o nome de Bolsonaro, as poucas vezes que permitiu perdeu voto. Lá, os candidatos Sarto (PDT), aliado de Ciro Gomes, tem 26%, e a petista Luiziane Lins (18%) disputam o segundo lugar.
Em Belo Horizonte, o atual prefeito Alexandre Kalil (PSD) pode ganhar já no primeiro turno, enquanto o aliado de Bolsonaro, Bruno Engler (PRTB), não passa de 3% das intenções de voto.
Para piorar a situação de Bolsonaro, veio a eleição de Joe Biden nos Estados Unidos e o encaminhamento à Justiça, pelo Ministério Público, de acusações contra seu filho no processo das “rachadinhas”.
Desvio - Com o objetivo de desviar as atenções, o Presidente resolveu disparar seus costumeiros balões de ensaio. Ameaçou uma guerra lunática contra os EUA de Biden por causa da Amazônia, festejou a suspenção, temporária, dos testes com a vacina no Instituto Butantan e chamou os brasileiros que se preocupam com a pandemia de “maricas”. Pronto, ficou estabelecida a confusão. Tudo vira manchete e nada é levado a sério.
Passada a eleição do dia 15, contados os votos, verificadas as forças políticas de cada partido, será dada a continuidade às discussões para 2022. Uma parte das agremiações partidárias busca alianças para formar uma frente de centro-direita. A outra, de centro-esquerda, faz o mesmo. Bolsonaro é um caso à parte, vai resistir, mas não vai passar disso, um fenômeno fracassado, de ocasião.
O centro é uma invenção para acomodar Luciano Huck, que não representa nada, a não ser a Rede Globo. Sérgio Moro já recebeu o carimbo de extrema-direita pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia, que é de direita. João Doria pretende encabeçar a chapa da direita ou da centro-direita, em combinação com Rodrigo Maia.
A esquerda tem Flávio Dino e/ou Lula (se o STF permitir), com tendência para formar uma chapa de centro-esquerda. Ciro Gomes (se tomar juízo) pode também liderar uma chapa de centro-esquerda, ou centro-direita, com ou sem Marina Silva. Tudo a combinar.