Romário Schettino -
O secretário de Cultura e Economia Criativa do DF, Bartolomeu Rodrigues, em entrevista exclusiva anuncia que o Espaço Cultural da 508 Sul, assim como os de Planaltina e Samambaia, terão gestão compartilhada. Edital de chamamento público está sendo elaborado para ser publicado em breve.
Bartolomeu disse também que as reformas do Teatro Nacional (a começar pela Sala Martins Penna) e o Museu de Arte de Brasília (MAB) estão no topo das prioridades para este ano.
Ao ser perguntado sobre o papel da cultura na formação da sociedade, Bartolomeu disse: “Vou tomar emprestada uma frase de Anísio Teixeira para dizer que no Brasil de hoje estamos possuídos de um desespero mudo pela ação. Tudo o que pudemos aprender, ao longo dos anos, foi rebeldia, e, sendo assim, será mais uma vez pela rebeldia que o cinema, o teatro, as artes plásticas, nos ajudarão a sair do conforto de esperar que as coisas se ajeitem. É preciso resistir pela cultura para nos identificarmos como nação”.
A seguir, leia as principais perguntas do site brasiliarios.com e as respostas do secretário Bartolomeu Rodrigues:
O Espaço Cultural 508 Sul vinha sendo gerido por uma OSCIP. Qual o futuro da 508 Sul, agora que esse contrato terminou, ou está terminando?
Bartolomeu – O Espaço Renato Russo continuará sendo referência na produção e difusão de artes e espetáculos em Brasília. É o desejo de todos, não pode ser interrompido. O que ocorre é que o contrato de gestão compartilhada que estava em vigor com o Instituto Bem Cultural [IBC] expirou no ano passado. Fizemos um aditivo e no momento estamos preparando um novo chamamento público para ser publicado em breve. Isso não impede que o atual ocupante concorra. O mesmo deve ocorrer com outros espaços, como o de Planaltina e Samambaia. O importante é que eles continuem ativos.
Secretário, estes dois primeiros meses de sua gestão foram marcados por encontros com os diversos movimentos culturais da cidade. A retomada do diálogo foi satisfatória e até festejada. Qual o balanço deste período? E o que mudou?
Às vezes me surpreendo quando dizem que o diálogo tem sido o diferencial ultimamente na Secretaria. Se isso não era comum, logo alguma coisa não estava funcionando bem. Para entender a complexidade, a diversidade e necessidades das pessoas que trabalham com cultura, é necessário, antes de mais nada, que elas sejam ouvidas. A cada reunião, a cada encontro, aprendo um pouco mais e não raro me espanto com tanta coisa importante que está sendo produzida, na maioria das vezes precisando de um pouco só de atenção para mostrar seu verdadeiro valor. Gostaria de ter mais tempo para essas conversas e, também, para conhecer de perto essas experiências.
Vem aí o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, edição 53. Um dos maiores desgastes do secretário anterior se deu durante a realização da edição 52. Nos últimos anos, a realização do Festival sempre esteve carimbada no Orçamento da secretaria. Em 2019, foram reservados R$ 2,4 milhões, com um aditivo de R$ 400 mil. Já estão garantidos os recursos para a realização do festival deste ano?
Ainda é um pouco cedo para falar de recursos destinados ao Festival. Por enquanto, posso apenas dizer que o Festival deste ano terá uma atenção especial, pois será o dos 60 anos de Brasília. Espero que com muito brilho e sucesso para resgatar a sua história.
O cancelamento do edital do FAC 2018 já foi efetivamente descancelado? Os projetos aprovados já estão recebendo os recursos?
Sim. No âmbito jurídico, o assunto perdeu objeto junto ao Tribunal de Contas, e a tramitação de repasse de recursos para os projetos aprovados, no momento, segue seu curso normal, dentro dos critérios e prazos previstos no edital.
Você tem dito que sua gestão será marcada por cumprir a lei como uma obrigação. Isso, claro, inclui obediência à Lei Orgânica da Cultura, a LOC, e a que instituiu o Fundo de Apoio à Cultura (FAC). Os 0,3% da receita líquida do DF, como está previsto na Lei Orgânica do DF, estão preservados?
A LOC representa não apenas uma conquista para a classe artística, como também precisa ser encarada como um avanço histórico, que torna o Distrito Federal referência em dispor de um instrumento legal que permite mecanismos efetivos para aplicação de recursos em políticas culturais. Quem percorrer a legislação, tudo aí encontrará. Ou quase tudo. Não me ocorre outra unidade da Federação com esse alcance. Talvez isso se explique diante do fato de a economia criativa no DF, hoje, ser algo tangível, representando 3,1% do Produto Interno Bruto. Não posso, diante disso, nem de longe imaginar um retrocesso na LOC. Ao contrário, na medida em que o DF se destaca em produção cultural, devemos pensar em novos avanços.
Sua gestão herdou a criação de duas fundações para cuidar do patrimônio e das artes no DF com mais agilidade. Você pensa em implementar essas fundações e colocá-las para funcionar ainda na sua gestão?
São pontos importantes previstos na LOC que precisam ser retomados para uma ampla discussão. Difícil dizer se haverá tempo, em face da necessidade de envolver agentes políticos e interesses que eventualmente entrarão em choque. Mas nada impede que iniciemos já.
Dos 11 pontos considerados fundamentais para o prosseguimento do diálogo entre governo e comunidade quais já foram estudados e considerados por sua equipe?
Todos estão sendo vistos com a mesma importância, confesso que não me preocupei em ordená-los numa escala de valores. Para mim, o documento da Frente Unificada é um manifesto que honra a luta do movimento cultural e um instrumento importante para que possamos construir, juntos, políticas duradouras nessa área. Se não quebrarem minhas mãos, farei tudo para atender à expectativa.
Qual destino pretende dar à Rádio Cultura FM, uma emissora pública do Distrito Federal?
O que a Rádio Cultura mais precisa no momento é de investimentos. É uma luta, pois se de um lado nem sempre vejo empolgação com relação ao seu papel, de outro percebo total desconhecimento de sua programação, do que faz e do que pode fazer pelo próprio governo. Mas não darei descanso. Em breve falaremos mais sobre ela.
Os espaços culturais das cidades satélites e os do Plano Piloto pedem prioridades. Quais são as suas prioridades? Teatro Nacional? Museu de Arte de Brasília? Centros culturais de Ceilândia, Samambaia, Gama?
Como já adiantei, estamos trabalhando em editais para as gestões dos centros culturais, mas não posso negar que o Teatro Nacional e o Museu de Arte de Brasília estão no momento no topo das prioridades não apenas pelos valores ali investidos, como também pelo que esses equipamentos representam para o patrimônio do Distrito Federal. As obras do MAB estão em andamento, com previsão para encerrar até o meio do ano. Se não houver contratempos, podemos imaginar a inauguração em setembro, trazendo de volta o seu rico acervo. Com relação ao Teatro Nacional, já assinamos o convênio com o Fundo de Direitos Difusos, do Ministério da Justiça, que permite um aporte de R$ 33 milhões para a Sala Martins Penna e outras áreas contíguas. Contudo, para que seja lançado o edital da obra, o projeto básico original, que já tem mais de cinco anos, precisa ser adequado, e isso consome ainda certo tempo. Estamos correndo contra o tempo, na expectativa de iniciarmos os trabalhos ainda neste semestre.
Estamos vivendo uma época em que há um empenho explícito de desacreditar uma parte da produção cultural no país. Como você vê o papel da cultura na formação da sociedade?
Vou tomar emprestada uma frase de Anísio Teixeira para dizer que no Brasil de hoje estamos possuídos de um desespero mudo pela ação. Tudo o que pudemos aprender, ao longo dos anos, foi rebeldia, e, sendo assim, será mais uma vez pela rebeldia que o cinema, o teatro, as artes plásticas, nos ajudarão a sair do conforto de esperar que as coisas se ajeitem. É preciso resistir pela cultura para nos identificarmos como nação.
É possível tomar atitudes que devolvam confiança à classe artística em relação à administração pública? Quais?
Penso de uma maneira muito simples sobre isso: para ganhar a confiança, basta fazer o certo.