Sandra Crespo -
A decisão da Comissão de Direitos Humanos da ONU, seis anos depois da petição feita pelos advogados de Lula, é uma grande vitória, ainda que não possa reparar a tragédia que desabou sobre o Brasil com o advento da lava jato.
Eu só lamento que a maioria dos jornalistas analistas não lembre que a decisão tardia do Supremo Tribunal Federal sobre a ilegitimidade do foro em Curitiba deveria ter sido julgada preliminarmente pelo STF - já que esta foi alegação primeira da defesa de Lula.
Se assim tivesse feito o Supremo, a história poderia ter sido outra.
Porém, mesmo certo de que as alegações de sua defesa não obtinham um décimo da atenção que o juiz Moro concedia aos procuradores justiceiros, Lula cumpriu todas as decisões judiciais. Não hesitou em se apresentar para o cumprimento da pena e a aceitar o veto à sua candidatura em 2018.
Lula se colocou à disposição das instituições judiciais, perdendo a sua liberdade por 580 dias. Isso, sendo um ex-presidente da República, e apesar das tantas evidências da não observação do devido processo legal pelo juizeco e seus miquinhos deslumbrados.
Pois é, gente. Lula respeita as decisões da Justiça brasileira, mesmo que as considere injustas.
Lula é um democrata. Ao contrário da abominação que comanda o Brasil, dessa pilantragem, dessa molecagem a que assistimos se consolidar desde a lava jato. O Brasil vive uma crise moral sem precedentes em sua história.
Mas eu tô com a alma lavada com esse reconhecimento da ONU, mesmo que seja apenas simbólico; e ainda que não haja reparação do Estado a Lula (pelo menos por ora), como aliás recomenda o comitê.
Todas as alegações da defesa contempladas, apesar do tempo e das vidas que o Brasil perdeu nesses longos e escuros seis anos.