"A vida é de quem se atreve a viver".


Ribondi: "Por que a Globo usa o muro Tex-Mex e não um outro, aquele que separa Israel da Palestina?".
O muro erguido no BBB é pop? Ou é a celebração da violência?

Alexandre Ribondi -

Você não precisa acompanhar o programa Big Brother Brasil para saber as novidades. Você tem, por exemplo, que tapar os ouvidos para não saber que  a casa onde ficam os participantes do torneio foi dividida em duas, com gente de cada lado.

Com isso, a TV Globo, emissora que apresenta o programa há 17 anos, está tendo piques de audiência de lamber os beiços. Aliás, bateu recorde de visibilidade.

É de mau gosto indiscutível separar a casa por um muro e batizar um dos lados de Estados Unidos e o outro de México. Afinal de contas, é com a construção desse muro, na vida real, que o novo presidente americano, Donald Trump, está humilhando o país com que faz fronteira e, de quebra, todo o restante das Américas situado ao sul do Texas.

Mas parece que nem os participantes, nem a emissora, nem a audiência e muito menos os patrocinadores (que desembolsaram, há dois anos, cerca de R$ 30 milhões cada um, para terem seus produtos veiculados no programa) estão se importando com isso.

Os Estados Unidos são top e tudo o que eles fazem, por mais monstruoso que seja, vira fascino ou coisa de outro mundo, de tão admirável que passa a ser.

O ataque às Torres Gêmeas de Nova Iorque, em 2001, não afugentou turistas. Pelo contrário, é até hoje visto como um espetáculo que somente o país mais rico do mundo pode oferecer. E ninguém deixa de levar os filhos à Florida por causa dos freqüentes massacres que podem acontecer em qualquer lugar: na lanchonete, no cinema, no aeroporto.

Portanto, é apenas divertido erguer um muro colorido e, com ele, separar os brothers e sisters do BBB.

Na vida real, os mexicanos não estão sendo agredidos e violentados com a construção do muro de verdade, que vai percorrer 1.500 quilômetros de uma fronteira de 3.000 quilômetros, com os custos a serem pagos também pelo México, de acordo com as ideias de Trump.

Para os anunciantes, os telespectadores e para a TV Globo, tudo o que vem dos Estados Unidos é apenas bom e espetacular - nunca é monstruoso, nazista ou racista.

Por isso mesmo é que a emissora, considerada a mais importante do País, tem razões de usar o muro Tex-Mex e não um outro, aquele que separa Israel da Palestina.

Em primeiro lugar, não tem graça - envolve apenas árabes com cara de pobre e judeus de chapéu preto, que ninguém entende muito bem.

Depois, a audiência, e provavelmente os patrocinadores e com certeza os jornalistas da casa, não fazem a menor idéia do que seja isso e nunca ouviram falar de muro no Oriente Médio.

De qualquer jeito, a aceitação do muro do BBB serve para mostrar que o voyeurismo é um gozo que não tem limite. Assim como se aceita brincar com um muro que separa e segrega seres humanos, como se não fosse algo torpe e vil, aceitaremos também cenas de violência sexual, agressão física, preconceitos, exclusão.

Assim como há quem goste, e muito, de diminuir a velocidade do carro para verificar se está escorrendo muito sangue do corpo do acidentado na beira da estrada, o público do Big Brother está pronto pra tudo: muros, estupros, xingamentos, porradas e sangue.

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