Betty Almeida (*) -
O projeto de alteração do nome da Ponte Costa e Silva, apresentado à Câmara Legislativa do DF em 2015 pelo deputado distrital Ricardo Vale, no desempenho de seu mandato recebido pelo voto popular, foi aprovado e sancionado pelo governador Rodrigo Rollemberg.
Em 2017, sentença do juiz Carlos Frederico Maroja Medeiros da Vara de Meio Ambiente Desenvolvimento Urbano e Fundiário do DF analisa aspectos técnicos considerados na ação judicial de alguns moradores do Lago Sul, em 2016, e lembra que a homenagem a quem patrocinou a tortura e a opressão não é de modo algum do interesse da sociedade. O juiz manda refazer todo processo de mudança e enquanto isso, decide manter o nome de Honestino.
Porém no dia 6 de novembro de 2018 o Conselho Especial do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT) considerou a Lei n° 5.523/2015 – que alterou o nome da ponte, inconstitucional. A decisão do TJDFT sobre a ação de uma deputada recém-eleita, como ela mesma diz, é histórica, sim, por representar um triste retrocesso na memória do nosso país, o único da América do Sul que não puniu aqueles que, em vez de sequer cumprir suas próprias leis, prenderam ilegalmente, torturaram e mataram cidadãos por defenderem suas ideias e exercerem o direito, afirmado na Declaração Universal dos Direitos Humanos, de se opor à tirania de uma ditadura.
Honestino Monteiro Guimarães é o estudante da Universidade de Brasília que se destacou por ter passado em primeiro lugar geral da UnB no vestibular de 1965, aos 17 anos. Tornou-se o líder dos estudantes da UnB na resistência contra a ditadura, que de 1965 a 1968 invadiu quatro vezes a Universidade. Nomear a ponte é a homenagem justa de uma cidade em que Honestino é, para a juventude de hoje e os que viveram as lutas do passado, um símbolo de integridade e coragem na defesa de ideais de justiça e liberdade. É uma forma de honrar sua memória e demonstrar respeito à sua família.
As qualidades individuais de Honestino abriam para ele amplas perspectivas de realização social e profissional. Ele vinha de uma família amorosa e solidamente constituída, e apesar da perseguição que sofria, casou-se (no religioso e no civil) e teve uma filha. Mas abdicou de sua vida e anseios pessoais para dedicar-se à militância estudantil e à luta clandestina contra a opressão ditatorial e pela justiça social. Por isso foi perseguido e ameaçado de morte pelos órgãos de repressão política e enfim, no dia 10 de outubro de 1973, aos 26 anos, desapareceu. Sua família procurou-o incansavelmente por décadas, sua mãe Maria Rosa Leite Monteiro e seu irmão Norton Monteiro Guimarães faleceram sem obter respostas sobre seu paradeiro, ainda hoje desconhecido.
A Oscar Niemeyer, também alvo de perseguição da ditadura, que projetou a ponte, certamente agradaria mais o nome de Honestino do que o de Costa e Silva
O anexo à Lei 9140/95 lista os nomes de 136 pessoas mortas ou desaparecidas em razão de atividade política, entre as quais Honestino. Seu desaparecimento já foi investigado pela Comissão de Direitos Humanos da OAB-DF em 1992, pela Comissão Nacional da Verdade e pelas Comissões Estaduais da Verdade do Rio e de São Paulo, sem resultados conclusivos. A estudante Aparecida Schoenacker, presa no Dops em São Paulo em janeiro de 1974, ouviu de um investigador que Honestino estava morto.
Hoje correm rumores de que os despojos de Honestino, morto sob tortura em Brasília, estariam na cidade de Formosa, em Goiás. Mas os que lutam por Memória, Verdade, Justiça e Reparação comemoraram, no dia 13 de dezembro de 2022, a derrubada, pela Câmara Legislativa do Distrito Federal, do veto do governador Ibaneis Rocha ao projeto de lei nº 1.697/2021, do deputado Leandro Grass (PV), que altera o nome da Ponte Costa Silva, no Lago Sul, para Ponte Honestino Guimarães. Lembremos que não dar a logradouros públicos os nomes de responsáveis por crimes contra a Humanidade foi uma das recomendações da Comissão Nacional da Verdade.
Nesta sexta-feira (23/12), faremos uma homenagem festiva a Honestino, junto à placa, do lado da Praça dos Orixás, às 10 horas da manhã. Vá e leve flores!
De agora em diante, quando cruzarmos a PONTE HONESTINO GUIMARÃES sentiremos orgulho por termos lutado por essa homenagem, além de uma imensa saudade do nosso companheiro querido. Nunca abandonaremos a luta por justiça para ele e para nossos companheiros mortos e desaparecidos pela ditadura militar.
__________________
(*) Betty Almeida é professora universitária aposentada, autora da biografia Paixão de Honestino, Editora UnB, Brasília, 2016.