"A vida é de quem se atreve a viver".


Geniberto: "Que o futebol, sem discurso nem requerimento, cumpra o seu papel de integração, na construção permanente de um mundo cada vez mais solidário, humano, sem preconceitos e livre".
Somos todos croatas. Somos todos franceses. Somos todos campeões.

Geniberto Paiva Campos (*) –

O futebol assume o seu lugar de esporte universal. E propicia lições aparentemente singelas, mas de profundo alcance, de integração de todos os povos, de todas as etnias, de todas as crenças, de todos os quadrantes.

O campeonato mundial de futebol de 2018, organizado pela Rússia, que chega ao seu final hoje, 15 de julho, talvez venha a representar um marco significativo, não apenas na evolução da prática do esporte, suas táticas e suas regras, da introdução provavelmente definitiva da tecnologia na decisão dos juízes. Vai mais além.

Mesmo para o observador não muito atento ao entorno do esporte, vão se tornando cada vez mais claras as consequências da globalização. Para muitos, algo restrito à área da economia. Ou, vá lá, da geopolítica. Chegou a hora e a vez do futebol.

Ao que mostra o desenrolar e o desfecho da Copa do Mundo de 2018, o futebol não é mais uma competição restrita à Europa Ocidental e à América do Sul. Onde os outros países eram meros figurantes. Quase obrigatórios.

Alguma coisa mudou. E o processo de globalização ocupa o seu lugar nessa mudança.

O surgimento dos centros importadores de craques da pelota provocou um intenso intercâmbio entre os mais diversos países. No caso do futebol o mundo globalizado tornou-se ainda menor. Mais restrito.

E o mercado, ávido de talentos, passou a adquiri-los em seu nascedouro, com a aquisição precoce de jogadores adolescentes, ainda em formação. Futuros craques, com certeza.

Como resultado, o Futebol firma-se, cada vez mais, como paixão incontida. Estádios cheios, torcidas vibrantes.  Retorno financeiro. Um espetáculo para todas as idades, todas as gerações. Todas as gentes, todos os povos. Perfeita integração entre jogadores e torcida.

A cada quatro anos organiza-se a competição mundial. Na bolsa de apostas, os favoritos eram, sempre, os campeões de outrora: europeus e latino-americanos. Isso, agora, mudou. O futebol paixão nacional ganhou o mundo. E continuou paixão. E guardou a sua pureza. Quase ingênua, em sua aparência.

A Copa da Rússia está comprovando algo que, há tempos, se suspeitava: o futebol agrega, o futebol une. O futebol quebra barreiras e preconceitos.

Tentativas de “politizar” o nobre esporte bretão não conseguiram, ainda, atingir os seus objetivos. Claro, o esporte, como toda atividade humana, tem o seu viés político.

Mas não exatamente da forma como alguns imaginam.

Voltando à Copa da Rússia: a maioria dos países participantes se apresentou com “times mistos”, em sua composição étnica. Negros, brancos, amarelos, árabes, judeus.

Todas as etnias estão ali representadas, irmanadas, cobertas pelas cores da camisa, pelo hino, pela bandeira. Pela incontida euforia na comemoração de belas jogadas e vitórias.

E, finalmente, tiraram dos juízes a última e decisiva palavra sobe lances duvidosos. Eles aprendem a voltar atrás das suas decisões equivocadas.

(Ah, que belo exemplo nos trouxe a tecnologia...).

Não importa quem seja, com justiça, o campeão da Copa de 2018. O grande vencedor foi o Futebol e, por tabela, o processo civilizatório.

O futebol vai aos poucos deixando de ser “a pátria de chuteiras”. É um jogo. Uma competição saudável e leal, ganha quem souber jogar melhor. Cujos técnicos saibam dispor de forma mais eficiente os seus craques em campo.

Por alguma razão, lembrei-me da crônica, quase cinquentenária, do poeta Drummond, sobre Leila Diniz, a moça brasileira que “sem discurso nem requerimento soltou as mulheres (...) presas ao tronco de uma especial escravidão”.

Que o Futebol, sem discurso nem requerimento, cumpra o seu papel de integração, na construção permanente de um mundo cada vez mais solidário, humano, sem preconceitos e livre.
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(*) Geniberto Paiva Campos, do Coletivo Lampião.

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