"A vida é de quem se atreve a viver".


Geniberto P. Campos: “Antes, os EUA subjugavam países com a força militar. Agora, a Guerra Híbrida substituiu a Guerra Fria, e a Lava Jato faz parte desta mudança estratégica estadunidense”.
Lava Jato: Origens e implicações

Geniberto Paiva Campos –

“Pobre México, tão longe de Deus, tão perto dos Estados Unidos!”. Dizia, em tempos idos, um cidadão mexicano, inconformado com perda de metade do território de seu país para os americanos. Aos poucos vamos nos dando conta de que, nos tempos atuais, somos todos mexicanos...

O Império Norte Americano atua num mundo que acredita lhe pertencer, por direito incontestável, talvez divino. Com fundamento no que eles denominam “Destino Manifesto”. O qual serve como justificativa para suas intervenções nos mais diversos quadrantes, desde que tentam assumir o controle sobre todos os fatores – reais e imaginários - que julgam interferir nos seus interesses, imediatos e futuros.

E a defesa dos interesses do Império tornou-se uma espécie de segunda pele de cidadãos oriundos dos mais diversos países, sobretudo da América Latina, a partir da Guerra Fria. Pela qual foram contaminados, naturalizando um comportamento que em outras épocas, não tão remotas, seria enquadrado como crime de “Traição à Pátria...”

É a partir do entendimento desse tipo de comportamento da cidadania brasileira, que poderemos compreender mais claramente o fenômeno da origem da “LAVA JATO” e as suas sérias implicações.

Houve um tempo em que o Império atacava, e subjugava, os países considerados adversários com a força militar. Com a adesão quase automática de segmentos populacionais desses países, o uso da força tornou-se, na prática, desnecessário. Esses cidadãos passaram a cumprir o papel das forças de ocupação do Império de uma maneira quase aberta, sem qualquer receio de serem acusados de traidores da sua pátria. Embora atuando na defesa de interesses estrangeiros, no seu território de origem. Uma das características fundamentais da “Guerra Híbrida”, que substituiu a Guerra Fria, como forma de dominação.

Dessa forma o Império intervém, há décadas, no direcionamento da política interna do Brasil. Nos seus primórdios, para impedir a instalação de regimes comunistas, a exemplo de Cuba, em 1959. Atualmente, sob o pretexto de “combater a corrupção”. Com a cumplicidade do Sistema Judiciário o qual, na ausência completa de provas, alega “fatos indeterminados” na condenação dos réus, objeto de tenaz perseguição política, com acobertamento jurídico. E o apoio incondicional, militante, por vezes cúmplice, da “Mídia Corporativa”. E os réus são vítimas da “delação premiada”, uma nova forma, não tão sutil de obter delações de outros réus do processo, que ao fazer a delação que interessa aos “juízes”, obtêm favores especiais. E a Justiça? Ora, a justiça... O mais importante é atingir os objetivos definidos pelo Império. E executados pela LAVA JATO.

Antes de abordar alguns detalhes da operação “LAVA JATO”, incluindo seu estranho modus operandi, precisamos analisar as forças e os interesses que lhe deram sustentação.

As intervenções do Império, nos países latino-americanos tornou-se rotina, mesmo na vigência de governos democratas, que diziam defender, preferencialmente, regimes institucionais para proteger esses países da chamada “ameaça comunista”.

Nesse sentido, a criação, por pressão norte americana, do Colégio Interamericano de Defesa, evolução natural da Junta Interamericana de Defesa, poderia se transformar, de acordo com um arguto diplomata brasileiro, numa “academia de golpes de estado”. Na qual militares americanos formariam seus colegas latinos para o combate permanente à ”ameaça comunista”. Ou o que isso possa significar – “what ever that means” – na língua materna...

O controle do Império Americano sobre algumas regiões estratégicas passou a ser exercido amplamente, principalmente em locais mais importantes, nos quais a América do Sul estava naturalmente incluída.  O primeiro desses tais “objetivos estratégicos permanentes”, de um total de 10 (dez) é: “Impedir que Estado ou aliança de Estados possa reduzir a influência americana na região.”

Para se ter uma ideia mais precisa dos fundamentos da intervenção permanente do Império na região, vale a pena tomar conhecimento dos outros nove objetivos, listados pelo embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, no livro Relações Obscenas, as revelações do The Intercept/BR – Ed. Tirant lo Blanch – SP, 2019 (não se trata de literatura pornô...)

No cerne de toda essa absurda perseguição a uma expressiva figura política, ex-presidente da República, permanece uma questão que não quer – e não pode – calar: por que o Partido dos Trabalhadores, vitorioso em 4 (quatro!) eleições presidenciais, em sequência, a partir de 2002, com percentuais de aprovação superior aos 80%, teve de deixar o poder, através da aplicação de um golpe político - institucional, mal disfarçado? Com a cumplicidade ativa, quase servil, de instituições nacionais de significativa importância: Judiciário, Congresso Nacional, Mídia Corporativa e segmentos das Redes Sociais.

Quem teria tomado a decisão de afastar, através de impeachment, um governo legitimamente eleito? E não estamos falando, somente, dos executores internos desse golpismo de ocasião, ressuscitado na segunda década do século 21. Mas dos verdadeiros chefes do movimento golpista.

Aqueles que tomam as decisões, para, assumindo todos os riscos, interferir nos assuntos internos do país. E, claro, estamos falando do Império, que reina, absoluto, há décadas! Tomando decisões, automaticamente assumidas pelos países que se tornaram satélites. Abdicando dos valores democráticos...

Talvez a explicação mais plausível para a deposição da presidente Dilma Rousseff, em 2016, seguida da prisão arbitrária do ex-presidente Lula da Silva e da cassação dos seus direitos políticos, no intuito de impedi-lo de concorrer às eleições presidenciais em 2018, seja, mais uma vez, a intervenção direta dos Estados Unidos, na política interna brasileira.

A criação dos BRICS em 2009, composto pelo Brasil, Rússia, Índia, China – dois anos depois com a inclusão da África do Sul – teria sido assumido pelo Império como séria ameaça, desde que fosse a alternativa ao Banco Mundial e ao FMI, na medida em que a o BRICS representa 42% da população mundial; 23% do PIB; 30% da base territorial e 18% do comércio.

Ao contrário da tolerância conciliatória com o Mercosul, criado em 1991, na realidade um projeto binacional – Brasil e Argentina, com a adesão subsequente de outros países do hemisfério e, posteriormente de outras regiões. O Mercosul não foi considerado uma ameaça.

Parece ter sido grande a repercussão dos BRICS nas avaliações do Império, com grande impacto na decisão de colocar um ponto final, se necessário com o uso de recursos golpistas, assumidamente ilegais, na sequência dos governos do PT. E assim, abdicamos, mais uma vez do processo democrático.

É provável que retornemos ao assunto. Noblesse oblige...

É 

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