"A vida é de quem se atreve a viver".


 Cena do espetáculo Clarice em Movimentos (Foto: Emilia Silberstein)
O universo de Clarice Lispector nos palcos

Uma das maiores escritoras brasileiras do Século 20 será revivida de forma inédita por grupo de dança no mês de homenagem às mulheres.

“E ela não passava de uma mulher...Inconstante e borboleta”. Nesta frase e em tantas outras, Clarice Lispector (1920–1977) conseguia passar a densidade de uma mulher que sentia e retratava o cotidiano, o feminino e tantos outros temas psicológicos de uma forma única. Temas estes tão imortais quanto ela e suas letras.

Nascida na Ucrânia, mas naturalizada brasileira, mais especificamente pernambucana, Clarice tornou-se uma das mais importantes escritoras do século 20.

Em homenagem à escritora e a todas que celebram aniversário no dia 8 de março – Dia Internacional das Mulheres – a bailarina e coreógrafa Jana Marques trará para a capital federal o espetáculo inédito Clarice Lispector em Movimentos, com patrocínio do Fundo de Apoio à Cultura (FAC).

Carioca radicada em Brasília, Jana Marques vai estar em  cartaz com seus 16 bailarinos do grupo Azzo Dança para dançar em dois atos. A diretora fará um tributo revivendo a grande representante do delicado e também brutal universo feminino.

Lispector, revolucionária para sua época, será citada em textos, movimentos impactantes executados pelos dançarinos, objetos cenográficos, entrevista pessoal, poesias gravadas e em obras que não são tão famosas.

A ideia é mostrar uma Clarice nem sempre acessível a todos. “Eu quis sair do comum. Quando comecei a pesquisar a escritora, vi que existem muitos contos seus ainda pouco conhecidos. Foram estes contos que quis trazer para a dança, para os palcos”, relata Jana Marques, que assina o espetáculo como diretora e coreógrafa.

Lispector em cena - Serão quase duas horas de espetáculo divididas em dois atos que buscam envolver quem está na plateia e também quem interpreta.

Os bailarinos vão mostrar, por meio da dança contemporânea e de textos pontuais, um pouco da vida da escritora. No primeiro ato, estão presentes o feminino, as relações familiares nas décadas de 40 e 50 e a submissão da mulher perante a sociedade.


Os temas serão encenados e mostrados em ações que valem-se, por exemplo, de objetos como uma mesa, pratos giratórios em analogia ao tempo e de outros acessórios que enaltecem os costumes da época. Na pele de Lispector, a atriz e bailarina Juana Miranda vai, além de dançar, recitar trechos de crônicas de Clarice.

Já no segundo ato, o foco serão três contos ainda pouco conhecidos da escritora. Um deles é Onde Estivestes de Noite, do livro homônimo, que aborda temas como prostituição, bigamia, homossexualidade e assassinato.

Neste momento, uma dança andrógina tomará conta do palco. Já na sequência, a obra A Via Crucis do Corpo vai tomar forma através de interpretações de contos que englobam O Poeta Fracassado e Ele Me Bebeu.

De uma maneira densa, crítica e crua, o corpo em ação falará do bígamo e de sua aceitação seguida de punição pelas próprias mulheres.

Ainda, o espelho, considerado por Lispector um reflexo da beleza natural  das mulheres, terá um papel importante em cena. “Clarice gostava muito de trabalhar o espelho, neste sentido de se perceber, se ver, da aceitação como somos. Já no Ele Me Bebeu falamos da trapaça, do ato de passar a perna”, explica Jana Marques.

A peça contará ainda com trechos da emblemática entrevista que Clarice Lispector concedeu em 1977 e que só foi divulgada após sua morte, 10 meses depois da gravação.

Jana Marques e a cia Azzo Dança - Carioca radicada em Brasília desde os 11 anos, Jana Marques iniciou sua carreira na década de 1980, na capital federal. Foi bailarina profissional dos grupos Bossa e Atos Cia. de Dança.

Em 1990, criou o grupo de dança contemporânea Azzo Dança, o qual dirige e coreografa há mais de 25 anos. Participou dos Festivais de Dança de Uberlândia (MG), Joinville (SC), Rio de Janeiro (RJ), Campo Grande (MS) e Bento Gonçalves (RS) obtendo, em todos, premiações.

Ministrou vários cursos de Dança Contemporânea em Brasília. Participou, como jurada, em eventos como Taguatinga Dança, Desfiles das Escolas de Samba de Brasília e audições de grupos de dança. Coreografou ainda espetáculos como Terra Vermelha - Tributo a Jorge Amado, para o Grupo Dançarte. Agora, ela estreia o inédito espetáculo Clarice Lispector em Movimentos.

Sobre Clarice Lispector

Clarice Lispector (Chechelnyk, 10 de dezembro de 1920 — Rio de Janeiro, 9 de dezembro de 1977) foi uma escritora e jornalista nascida na Ucrânia e naturalizada brasileira — e declarava, quanto a sua brasilidade, ser pernambucana.

Autora de romances, contos e ensaios, é considerada uma das escritoras brasileiras mais importantes do século XX e a maior escritora judia desde Franz Kafka. Sua obra está repleta de cenas cotidianas simples e tramas psicológicas, sendo considerada uma de suas principais características a epifania de personagens comuns em momentos do cotidiano.

Ela foi batizada de Haia, significado de vida. Dentre suas obras, os romances:  Perto do Coração Selvagem (1943) , O Lustre (1946), A Cidade Sitiada (1949), A Maçã no Escuro (1961), A Paixão Segundo G. H. (1964), Uma Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres (1969), Água Viva (1973), Um Sopro de Vida (1978); Novela: A Hora da Estrela (1977). Contos; Laços de Família (1960), A Legião Estrangeira (1964), Felicidade Clandestina (1971), Onde Estivestes de Noite? (1974), A Via Crucis do Corpo (1974), O Ovo e a Galinha (1977), A Bela e a Fera (1979); Literatura infantil: O Mistério do Coelho Pensante (1967), A Mulher que Matou os Peixes (1968), A Vida Íntima de Laura (1974), Quase de Verdade (1978), Como Nasceram as Estrelas (1987); Crônicas: Para Não Esquecer (1978), A Descoberta do Mundo (1984); Correspondências: Correspondências (2002), Minhas Queridas (2007); Entrevistas: Entrevistas (2007); Artigos de Jornais: Outros Escritos (2005), Correio Feminino (2006), Só Para Mulheres (2006).

Nas suas visitar à Capital Federal, Clarice ficou surpresa com a estética e disposição da cidade moderna e registrou suas impressões nas crônicas 'Brasília' (1964) e 'Brasília: Esplendor' (1974).

Clarice morreu um dia antes de completar 57 anos,  no dia 9 de dezembro de 1977, devido a um câncer de ovário.

Ficha técnica:
Coreógrafa – Jana Marques
Produção – Juana Miranda e Luiza Hesketh
Direção Musical: Jana Marques e Marcos Vinicius Magalhães
Fotografia: Emília Silberstein
Figurinista: Felipe Vasques
Cenógrafa: Luiza Hesketh

Elenco: Carlos Guerreiro, Gisela Zaccari, Henrique Lima, Ildegard Hévelyn, Juana Miranda, Júlia Cintra, Kelly Yamamoto, Luíza Caldas, Marcos Vinicius Magalhães, Marcus Reis, Mateus Vianna, Maurício Peixoto, Paola Luduvice, Thayse Duarte,Úrsula Marques, Wally Fernandes.

Serviço:
Espetáculo: Clarice Lispector em Movimentos
Dias 3 e 4 de março (sexta e sábado), às 20h, e 5/3 (domingo), às 19h.
Local: Teatro da Caixa Cultural Brasília (Setor Bancário Sul Qd 4) - COMO CHEGAR
Ingressos: R$ 10 (meia)
Não recomendado para menores de 14 anos.
Informações: 3206-6456.

Segunda temporada:
Dias: 1º/4 (sábado), às 20h, e 2/4 (domingo), às 19h, no Teatro Sesc Garagem (713/913 Sul) - COMO CHEGAR
Ingressos: R$ 10 (meia)
Informações: 3445-4401

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