"A vida é de quem se atreve a viver".


Margareht Menezes, a ministra-faraó é o que há de mais novo e inventivo neste novo (terceiro) governo Lula
MinC: a casa das culturas brasileiras

Luis Turiba (*) –

Margareth Menezes certamente será uma ministra-farol de um novo tempo que se inicia no Brasil. Uma ministra-Faraó, para lembrarmos do samba-reggae que ela interpretou e gravou em 1987 como uma espécie de hino afro-bahiano, na consagração do Pelourinho, Olodum, Salvador, fantástico quilombo negro da Bahia.

A ministra-faraó é o que há de mais novo e inventivo neste novo (terceiro) governo Lula. Ponto para Janja, primeira-dama e madrinha de Margareth nesta parada. A canção Faraó, para quem não sabe, é emblemática, esquisita e simbólica, com letra complexa, quilométrica e informativa; e com um refrão-grito de guerra que ganhou significado especial naqueles carnavais – “que mara-mara maravilha hê/ Egito! Egito hê/ Faraó, óóó, faraó, óóó – Eu falei Faraó”.

Faraó, divindade infinita do universo foi composta pelo bahiano pesquisador da cultura egípcia Luciano Gomes a convite de João Jorge, presidente do Olodum. O hit levou uma semana para ser composto e conquistou Salvador em poucos meses. No carnaval de 1987, a negritude foi para as ruas, desfilar no circuito Barra-Ondina, de classe média, exibindo suas belezas cantando/dançando o seu próprio brilho. Margareth estava lá e tomou para si o samba de batida marcante, mas demorou decidir a gravá-la.

Agora, a diva negra tem um papel histórico na reconstrução deste grande quilombo das culturas brasileiras que é o MinC - Ministério da Cultura; instituição criada em 1985, na redemocratização brasileira de Tancredo/Sarney, cujo timoneiro foi o deputado mineiro José Aparecido, um apaixonado.

Aproveito para recordar e refrescar cabeças, memórias e históricas (estive lá) que também foram ministros da Cultura nesta primeira safra ainda no governo Sarney: o economista Celso Furtado, o acadêmico e filólogo-dicionarista Antônio Houaiss, além do embaixador Paulo Sergio Rouanet, este no governo Collor.

A Era-Gil O mago-griô, cantor/compositor Gilberto Gil e sua turma feliz e tesuda vieram no primeiro governo Lula, em 2003 para criar os Pontos de Cultura e tantos outros projetos dentro do conceito do “Do-In Antropológico” (ler o discurso de pose de Gilberto Gil). Juca Ferreira, Roberto Pinho, Antonio Riserio, Sergio Mambert, Sergio Xavier, o cineasta Orlando Senna, Paulo Miguez, Márcio Vieira, Wally Salomão, José Roberto Aguilar, Marcelo Ferraz, o professor Adair Rocha, Maria Elisa Costa, Jeferson Assunção, o arquiteto Fabrício Pedrosa e a professora Nazaré Pedrosa, entre tantos outros e outras.

Falemos então dos grandes presidentes da Fundação da Palmares; instituição de fundamental importância naquela época e nessa reconstrução do MinC e do Brasil, após o vergonhoso papel negacionista deste governo retrógado.

Comecemos por Carlos Alves Moura, fundador e construtor da estrutura da Fundação Palmares; seguido pelo poeta Adão Ventura, o professor Joel Rufino, Dulce Maria Pereira, e na gestão-Gil, pelo professor baiano Ubiratan Castro e militante Zulu Araújo. Verdadeiros destaque da história afro-brasileira na modernidade.

Não podemos esquecer da cantora Ana Buarque de Holanda no governo Dilma. Destaco o relevante papel na construção deste histórico MinC, o advogado e grande chefe de gabinete de Gil, Adolpho Schindler, que segurou barras incríveis, como lembrou Risério em artigo recente; além do ator Antônio Grassi. São lembranças e citações vagas (mas não vazias), de uma história dessa gente guerreira.

Para finalizar este arrazoado caótico, Margareth, a ministra-faraó, terá papel transcendental como mulher, negra-brasileira, cantora, libertária e pensadora.

Os brasileiros estarão de olho nesta (provável) filha de Oiá cheia de axé e tolerância em seus raios e tempestades. Torceremos por ela e pela sua VOZ razãoemoção que saberá erguer no alto da colina a bandeira multiétnica-gastro-linguística-musicalpictória- arquitetônica-corporal da cultura tropical. E que a grande lição seja aprendida para sempre: nunca mais um aventureiro fascista/negacionista ouse tentar pôr fim no patrimônio de alma da gente brasileira.

A cultura brasileira é inegociável e imortal. Quando tentam atingi-la de morte, ela ressuscita e ressuscitará sempre. Em nome de Exu, o que abre os caminhos, de Iansã, Iemanjá, Nanã e Oxum fêmeas do xirê; dos pais-guerreiros Ogum Xangô & Oxossi; de Obaluaiê e suas palhas douradas de curas e seus banhos de pipocas; Zumbi dos Palmares com seus quilombos jogando capoeira de angola.

Convoquemos também neste momento os ícones Machado de Assis e Lima Barreto; Pixinguinha, Sinhô, Noel Rosa, Caymmi e João Gilberto; Guimarães Rosa, Graciliano, Jorge Amado, Tom e Vinícius; as damas negras Clementina de Jesus e Carolina Maria de Jesus, além de Ângela Maria e todas as rainhas do rádio. Que venha junto a galera dos 80: CaetanoMilton-Paulinho-Ney-Gal-Erasmo-Roberto-GilBethânia-Melodia.

Enfim, aos que partiram e aos que resistiram e resistirão bravamente entre poetas, cantantes e encantantes, pensadores (oras) e toda uma maravilhosa e apoderada geração espalhada pelo Brasil. Gente que trabalhou nestes grupos de Transição & Transação de Lula/Alckimin. Os que mexem com nossa grana e nossa ciência; nossa paz e espírito e nossa saúde; nosso esporte e nossa religiosidade. Salve todos os Chicos: o Science, o Preto, o Chaves, o César, o de Holanda e o poetamúsico Arnaldo Antunes e seus eternos Titãs. Lembremos também da trilha concreta aberta pelos três NOIGANDRES de Perdizes - Augusto à frente. À força do nosso cordel nordestino e a cultura pantaneira.

E não esqueçamos: toda à memória no centenário da Semana de Arte de 22. O paubrasil ainda sangra como poetamos na capa da revista Brica a Brac XXII. Nosso axé Margareth! Luzes para sua jornada abençoada por todos os orixás & budas.

Nam Mió Rengue Kió!
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(*) Luis Turiba poeta, jornalista, foi assessor de Imprensa de José Aparecido e do Gilberto Gil.

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