Arthur Lira prega diálogo em campanha e tenta passar o trator depois de eleito
Bancada do PT repudia golpe. Arthur Lira recua e abre espaço

A bancada do Partido dos Trabalhadores (PT) na Câmara dos Deputados divulgou hoje (2/2) nota pública repudiando a tentativa do deputado Arthur Lira (PP-AL) de barrar a representação proporcional na Mesa Diretora da Casa. Após o assunto ser levado ao STF, Lira recuou e a eleição da Mesa Diretora será feita amanhã (3/2) com espaço garantido para a oposição.

Depois de explicar os motivos burocráticos que levaram Lira ao ato extremo de anular a votação da Mesa Diretora, a nota do PT afirma que a atitude do novo presidente é “autoritária, ilegal e antirregimental” e que “ao valer-se de uma nuance burocrática, rompe com as normativas e com a tradição de convivência democrática no Parlamento, desconsiderando a pluralidade e a histórica composição proporcional e plural dos espaços de direção do Poder Legislativo Nacional.”

Os petistas denunciam que Arthur Lira reconheceu a existência do Bloco de Baleia Rossi durante o processo eleitoral que o elegeu, mas logo após ser empossado no cargo anulou o registro do Bloco composto pelo PT, “alegando intempestividade na apresentação do ofício dos líderes que apontou o bloco formado”.

Durante o dia, diante das ameaças da oposição de obstruir as votações em plenário e de ação no Supremo Tribunal Federal (STF), Lira recuou e passou a negociar a divisão de cargos na Mesa Diretora incluindo quatro partidos do Bloco de Baleia Rossi. O relator da ação no STF, Dias Tóffoli havia dado dez dias para a Câmara explicar o ocorrido. Mantido o acordo, o PDT desistiu da ação.

Dessa forma, o colegiado responsável por decisões administrativas e políticas da Casa terá dois não governistas: Luciano Bivar (PSL-PE) será o primeiro secretário, posto que tem o controle do “caixa” da Câmara; Marília Arraes (PT-PE) ficou com a segunda secretaria e mais duas suplências. O importante nesse caso é participar das discussões da Mesa e evitar, na medida do possível, o rolo compressor. Prática utilizada pelo ex-presidente Eduardo Cunha, hoje condenado e preso.

Pacificada a situação, a disputa acirrada será agora em torno da eleição das Comissões. A mais cobiçada é a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), já reivindicada pelo PSL para Bia Kicis.  Isso vai dar pano para manga. É ver para crer.

A seguir, a íntegra da nota pública da liderança do PT na Câmara dos Deputados:

“A bancada do Partido dos Trabalhadores na Câmara dos Deputados vem a público informar sobre os ritos e o ocorrido no processo de inscrição dos Blocos Parlamentares para a eleição da Mesa Diretora da Câmara dos Deputados de 2021, ao tempo em que repudia a tentativa de impedir a representação parlamentar legítima do Bloco de Oposição no espaço de direção do Poder Legislativo.

A formação de blocos para a eleição da Mesa Diretora envolve duas etapas:

1) ofício assinado pela maioria absoluta das Bancadas, em que delegam aos respectivos Líderes a prerrogativa de compor blocos;

2) ofício assinado por todos os Líderes em que informam à Mesa a composição do bloco formado.

No caso do PT, o ofício de delegação da Bancada, se encontra no sistema desde o dia 28 de janeiro, data em que toda a Bancada então em exercício (52 parlamentares) o subscreveu. Esse ofício não informa o bloco a ser formado, apenas autoriza o Líder a compô-los, em nome dos seus pares.

O ofício a ser assinado pelos líderes ficou concentrado na Liderança do MDB, que ficou responsável pelo seu lançamento no sistema e pela coleta de assinaturas de todos os Líderes.

Ainda dentro do prazo, a Bancada do PT tentou promover o envio do seu ofício concomitante ao disparo das assinaturas relativas ao ofício de formação do Bloco, a cargo do MDB.

Nesse momento, o sistema deixou de responder aos comandos dos usuários, entrando em um modo contínuo de “carregamento”. O sistema ficou parado, deixou de responder e ficou carregando indefinidamente.

Este erro identificado (“carregamento” indefinido) é frequente aos usuários do sistema “Infoleg-Autenticador” e é de conhecimento de todos os gestores do serviço, pois rotineiramente lhes era relatado. Apesar disso, a área técnica da Casa diz não ser possível identificar o problema havido, a ponto de relatá-lo ou aferi-lo. Com isso, não foi possível obter registro comprobatório da falha técnica.

No momento em que o problema foi detectado, parte dos Líderes se dirigiu ao gabinete da Liderança do MDB para, juntos, tentarem a assinatura do referido ofício. Todos os Líderes presentes não só encontraram as mesmas dificuldades de acesso ao sistema, quando acompanharam as dificuldades do PT em, também, tentar acessar o serviço.

Ao persistirem os problemas, os Líderes entraram em contato imediato com a Secretaria-Geral da Mesa para comunicar a falha técnica, antes mesmo de o prazo ser exaurido.

Desse modo, quando o sistema pôde ser acessado, o prazo já havia se esgotado, tanto para o ofício interno da Bancada do PT (6 minutos), quanto para o ofício consolidador do bloco (cerca de 1 hora).

Apesar de ter reconhecido o Bloco de Baleia Rossi durante o processo [eleitoral], após ser empossado no cargo de Presidente da Casa, o Deputado Arthur Lira (PP), anulou o registro do Bloco composto pelo PT, alegando intempestividade na apresentação do ofício dos Líderes que apontou o bloco formado.

Embora o ofício da Bancada do PT tenha enfrentado a mesma dificuldade técnica do ofício coletivo, a decisão da Presidência restringe-se à intempestividade do registro do ofício coletivo.

A bancada do PT repudia de forma veemente este ato autoritário, ilegal e antirregimental do novo Presidente da Câmara dos Deputados que ao valer-se de uma nuance burocrática, rompe com as normativas e com a tradição de convivência democrática no parlamento, desconsiderando a pluralidade e a histórica composição proporcional e plural dos espaços de direção do Poder Legislativo Nacional.

A maior Bancada da Câmara não aceitará que a democracia seja calada dentro da Casa do Povo!

Bancada do Partido dos Trabalhadores na Câmara dos Deputados”.