A jornalista Patricia Campos Mello é defendida pelas entidades do jornalismo brasileiro, que repudiam o machismo e a misoginia do presidente Bolsonaro.
Insultos de Bolsonaro são repugnantes e ameaçam a democracia

A Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), a Associação Brasileira de Jornalistas Investigativos (Abraji), a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) são unânimes em afirmar que os insultos do presidente Jair Bolsonaro à jornalista da Folha de S. Paulo, Patrícia Campos Mello, são uma agressão incompatível com o equilíbrio esperado de um presidente da República e uma afronta à Constituição. Até quando as instituições ficarão em silêncio?

Os jornalistas repudiaram as insinuações machistas do presidente ao se referir à premiada jornalista brasileira como se ela fosse alguém que estivesse disposta “a trocar sexo por informações” que incriminassem Jair Bolsonaro no caso das fake news, investigadas na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI), instalada no Congresso Nacional.

Segundo nota da ABI, assinada pelo seu presidente Paulo Jerônimo de Souza, Bolsonaro teve, neste caso, um “comportamento misógino, que desmerece o cargo de Presidente e é uma afronta à Constituição”.

Machismo repugnante

Em nota oficial, a Fenaj afirma que, “mais uma vez, o Presidente da República, Jair Bolsonaro, protagoniza grave episódio de machismo, sexismo e misoginia”.

Nesta terça-feira (18/2), Bolsonaro decidiu atacar a repórter Patrícia Campos Mello, do jornal Folha de S.Paulo, em pronunciamento com falas de conotação sexual, gravadas em vídeos transmitidos ao vivo.

A jornalista vem sendo alvo de pesados ataques virtuais dos seguidores do presidente e do próprio clã bolsonarista por seu trabalho de jornalismo investigativo, que denunciou o pagamento, por um grupo de empresários apoiadores de Bolsonaro, para envio em massa de mensagens falsas por meio de aplicativo, na campanha presidencial de 2018.

Na semana passada, a premiada repórter foi novamente atacada nas redes sociais, após mentiras declaradas por um depoente na CPMI das Fake News. Na ocasião, Hans River Nascimento, ex-empregado de uma agência de disparo de mensagens digitais mentiu em depoimento, com declarações de cunho sexista, injuriando a repórter e pondo em xeque seu rigoroso trabalho jornalístico.

O filho do presidente, deputado federal Eduardo Bolsonaro, repercutiu as declarações mentirosas sobre a produção da matéria jornalística em sua conta no Twitter e no plenário da Câmara, inflamando os seguidores a alimentarem a rede de ódio contra Patrícia na internet.

A partir deste episódio, as mulheres jornalistas também foram vítimas de vídeo, imagens e “memes” que relacionam a apuração de matérias jornalísticas e a produção de notícias a troca por sexo. Assim, a pouco mais de duas semanas do 8 de Março, data emblemática da luta feminista, toda uma categoria profissional é atingida pela violência de gênero.

A Fenaj, junto com sua Comissão Nacional de Mulheres, está solidária às mulheres trabalhadoras, na pessoa de Patrícia Campos Mello. “Que nosso grito de repúdio sirva para frear tais comportamentos, vindos de quem quer que seja, sobretudo do mandatário da Nação, que deveria defender toda a população e, sobretudo, as maiorias silenciadas de direitos”, conclui a nota da Fenaj.