Minha Vida em Cor-de-Rosa (Bélgica, 1997)
Um outro, eu mesmo – variações sobre gênero no cinema

Mostra de cinema no CCBB Brasília apresenta filmes que discutem a redefinição do conceito de gênero no mundo contemporâneo. De 20 de janeiro a 13 de fevereiro. Debate com a atriz franco-brasileira Clara Choveaux, protagonista do longa “Tiresia”. Entrada franca.

Uma das grandes discussões deste início do século XXI é, sem dúvida, a redefinição do conceito de gênero.

Ainda faz sentido dividir o mundo em dois gêneros a partir do fator biológico? Qual é o sentido da distinção de gêneros? O cinema tem avançado nessas questões muito mais do que a própria sociedade.
 
Com curadoria do cineasta Gustavo Galvão, a mostra de cinema Um Outro, Eu Mesmo – Variações Sobre Gênero no Cinema, em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil – Brasília, de 20 de janeiro a 13 de fevereiro, traz filmes de 12 países num grande debate sobre esse tema.

Há muito o cinema aponta para um futuro onde coexiste grande diversidade de gêneros, e é cada vez maior o número de cineastas que se dedicam a essa questão. Pensando nisso, a curadoria formatou uma mostra ousada e abrangente, que propõe a reflexão e visa se tornar referencial para entendermos o cenário que se desenha para as próximas décadas.

A programação conta com um conjunto de 20 longas-metragens e cinco curtas, entre sucessos recentes, raridades e obras-primas.

A mostra não se resume simplesmente a filmes consagrados e obras contemporâneas, formando um panorama que vai desde 1959, com Quanto Mais Quente Melhor – comédia clássica de Billy Wilder estrelada por Marilyn Monroe, Jack  Lemmon e Tony Curtis –, até 2016, com o curta sueco Spermwhore (que integra um programa especial de curtas com outros quatro títulos).

Da década de 1970, a mostra traz o drama francês India Song, dirigido por Marguerite Duras, sobre as descobertas sexuais de uma mulher cansada da sociedade opressora. Dos anos 1990, Orlando – A Mulher Imortal, de Sally Potter, é baseado na obra clássica de Virginia Woolf lançada em 1928 sobre um jovem inglês que acorda no corpo de uma mulher.

Lançado em 2001, Hedwig – Rock, amor e traição, de John Cameron Mitchell, fala sobre um homem que passa pela cirurgia de mudança de sexo e busca o sucesso na música.

Outro destaque na programação é o longa francês Tomboy, da diretora francesa Céline Sciamma, sobre uma menina que decide agir como menino, O filme é um símbolo desse momento de transformações em relação ao conceito de gênero.

Em 2013, Tomboy esteve no centro de uma polêmica entre o governo da França e os grupos católicos no país, que chegaram a acusar uma suposta "lavagem cerebral" perpetrada pelas autoridades.

O estopim da crise foi a adoção do filme nas aulas de educação sexual para os alunos do ensino médio. Milhares de assinaturas foram recolhidas em repúdio ao longa de Céline Sciamma, o que converteu Tomboy em tema de interesse nacional. A mostra incluiu mais um filme de Sciamma: Garotas.

A programação traz ainda Billy Elliot, de Stephen Daldry; Minha Vida em Cor de Rosa, de Alain Berliner; Tudo Sobre Minha Mãe, de Pedro Almodóvar; Doce Amianto, de Guto Parente e Uirá dos Reis. Com inventividade e precisão, eles falam mais do ser humano do que certas correntes admitem.

O público poderá conferir também longas nacionais de grande repercussão nos últimos anos como Elvis e Madona, de Marcelo Laffitte, Doce Amianto, de Guto Parente e Uirá dos Reis, e o aclamado Madame Satã, de Karim Aïnouz, estrelado pelo ator Lázaro Ramos.

TOMBOY – (França, 2011, 82′). Direção: Céline Sciamma, com Zoé Héran e Jeanne Disson.

Sinopse: Quando uma família se instala num bairro de classe média, a filha mais velha, Laure, 10 anos, apresenta-se na vizinhança como garoto.

A obstinação dela gera suspense e admiração na mesma medida. O segundo longa de Sciamma passou a ser usado nas aulas de educação sexual na França em 2013, para a ira de grupos conservadores.

MINHA VIDA EM COR-DE-ROSA - (Ma Vie en Rose, Bélgica, 1997, 88′). Direção: Alain Berliner, com Georges Du Fresne, Michèle Laroque e Jean-Philippe Écoffrey.

Sinopse - Ludovic, de apenas sete anos, não se considera um menino. Certo de que é menina, age como tal e deixa todos ao redor desconcertados. “É um filme sobre identidade, e não sobre o homossexualismo”, já disse o diretor.

Ele acertou ao atrelar a trama ao ponto de vista terno e tocante do garoto, que deixa claro o contraste com o mundo dos adultos, sempre ávidos a condenar o que foge do dito “normal”.

Curtas – A mostra traz ainda cinco curtas-metragens, quatro deles inéditos em Brasília: Os Sapatos de Aristeu, de René Guerra; Spermwhore, de Anna Linder; Trans, de Mark Chapman, e o premiado média-metragem argelino Kindil El-Bahir, de Damien Ounouri.

Haverá, ainda, a exibição de Vestido de Laerte, curta de Claudia Priscilla e Pedro Marques, sobre a cartunista Laerte Coutinho, um dos maiores expoentes das discussões sobre gênero no país.

Debate – Para movimentar mais ainda a mostra, haverá um debate após a exibição do longa francês Tiresia, no dia 04/2, mediado pelo curador da mostra, Gustavo Galvão, e com a participação de Clara Choveaux, atriz do filme, e com a professora e psicóloga Jaqueline de Jesus.
A obra será exibida com legenda audiodescritiva e o debate será mediado em LIBRAS para ampliar a discussão e os limites da mostra.

Serviço:
Um Outro, Eu Mesmo – Variações sobre gênero no cinema
Data: De 20 de janeiro a 13 de fevereiro
Local: Centro Cultural Banco do Brasil Brasília
Telefone: (61) 3108-7600
Funcionamento: de quarta a segunda, das 9h às 21h
Horários de Exibição: variam das 16h às 21h (conferir na programação)
Ingressos: Entrada franca
Classificação indicativa: Ver programação
Programação completa:
http://culturabancodobrasil.com.br/portal/um-outro-eu-mesmo/