Segredo secular

Luis Turiba –

um sigilo de cem anos
são qual gotas em oceano
como o salto de uma onça
uma baleia respirando
uma geleira desabando
o pipocar de uma bomba
tiroteio assaz insano
segredo vigília secreta
cercado em loucos decretos
paranoia republicana
dessas que furam tetos
floresta verdes em cinzas
matraquear de metralhas
tempero de gás mostarda
antes tarda do que fura
mísseis cruzam céu azul
afinal, o rei está todo nu
com seu charme de urubu
de carniça pós-humana
coruja que é meio corvo
não dura, vida de estorvo
lembra a arisca ratazana
repetindo o mesmo mantra
- taokei! takei! takei!
reafirma o que não houve
porquê então não te calas
sentado no meio da sala
uma relíquia do Brasil
doce poder de paisano
carne seca na panela
o povo que passa fome
sadismo mofo e deboche
em cem anos de sigilo
total clima de hospício
para além do além do além
ninguém nem sabe como
chegaste a falta de rumo
pois quando eu tiver 100 anos
com meu país desmontado
sem pé nem fígado ou fé
meus generais todos mortos
meus filhos todos presos
o pastor me pastará
depois de torturas em cálices
conto tudo pra vocês
são sigilos de um século
alguns até esquecidos
outros jamais perdoados
de um valentão Imbrochável
guardados a ferro e propinas
conservados a muita merda
traições ao livro sagrado
de um tresloucado capitão
uma invenção do passado
mosca zumbindo o presente
que será eletrocutada
numa urna eletrônica
reconhecida & pecadora
por jovens venezuelanas
no cabaré "quem damares"