O estilingue

Antônio Carlos Queiroz (ACQ) –

O Dêividy, filho do seu Jessé e da dona Mariana, se trancou no quarto e a mãe teve que arrancá-lo de lá pro almoço. Goiano é mesmo criativo na hora de escolher nomes pra renca – Dêividy!

– Ô, moleque, você está fazendo outro estilingue? Eu já não disse pra você parar de caçar passarinho? Isso é coisa das antigas, da época ca gente era ignorante e não tinha preocupação com o bem-viver do planeta.

– Não vou caçar passarinho, não, mãe!

– Uai, pra que então?

– Campeonato... Quem sabe daqui a uns dez anos o Comitê Olímpico não inclui a gente nos Jogos!

– Hum, sei não!

O pirralho comeu, voltou pro quarto, e continuou a caprichar na fatura da arma. Saiu pouco antes da janta, todo serelepe.

Mais tarde a mãe iria checar o estilingue, uma peça elegante, feita com elástico de garrote e forquilha de pau de jabuticabeira, conforme as instruções do tio Licurgo. Notou que o filho tinha também um saco de seixos de beira de rio, redondinhos. Era ainda o tempo de ajuntar pedras. Mal sabia ela que no dia seguinte, 7 de Setembro, o filho tinha um encontro marcado com um garoto duas vezes mais alto e forte que ele, fedelho de maus bofes, que o havia desafiado para um duelo ao pôr do sol.