Há 85 anos, dia 29 de abril, nascia Alejandra Pizarnik (1936-1972), poeta maior argentina de origem judia-ucraniana
Melodia nos ossos com medo da manhã

Antônio Carlos Queiroz (ACQ) –

Desço ao inferno
com Alejandra Pizarnik,
a tristeza em figura de gente
nada más

Um anjo esfarrapado, náufrago,
com sono, agarrado a palavras
emitidas por um pensamento
feito tábua de salvação

Saqueio os seus versos
para tecer esta colcha
de escombros –
          E quase sufoco!

Dile que los suspiros del mar
Humedecen las únicas palabras
Por las que vale vivir.

Desde a infância, “verde paraíso”,
infusa de muerte, entesourava
palavras muito puras
para criar novos silêncios 

Palavras que douravam
ao negro sol do silêncio

Trabalhava o silêncio
e dele fazia chama

Tinha como certo o silêncio
e por isso escrevia. Sozinha
escrevia mas não estava só –
Hay alguien aquí que tiembla

Falava quando as palavras
já não guarneciam,
quando voava o telhado
da casa da linguagem

Foi enamorada das palavras
que criam noites pequenas
no incriado do dia
e seu vazio feroz…

Escribes poemas
porque necesitas
un lugar
en donde sea lo que no es

Atravessava o canto
(melodía en los huesos)
como um túnel

Compunha pequenas canções,
miedosas del alba

Escrevia contra o medo,
contra o vento com garras
que se alojava na respiração

Caía como um animal ferido
no lugar que seria de revelações

Buscava nas memórias e nada,
nada debajo de la aurora
de dedos negros

Teve muitos amores
e o mais formoso
foi seu amor pelos espelhos

Tinha olhos que se abriam
só para avaliar a ausência

Era tão triste como
quando se abre uma flor
revelando o coração que não tem

¡Cansada de Dios!
    
alejandra alejandra
 debajo estoy yo
      alejandra

Silêncio & Morte – 

La muerte siempre al lado.
Escucho su decir.
Sólo me oigo.

Palavra, Morte & Poesia –

La muerte es una palabra.
La palabra es una cosa,
la muerte es una cosa,
es un cuerpo poético que alienta
en el lugar de mi nacimiento.

A morte companheira
nas visões do nascimento –
a morte azul, a morte verde,
a morte rubra, a morte lilás

Queria ficar querendo ir 
Aceitou por fim o convite 
Cavou a liberdade de ser só cinza 

No quiero ir
nada más
que hasta el fondo

Sua memória é a noite
mas o vaso de flores renasce
sob a sombra da catacumba