Ingrid Bergman, a sueca das terras distantes, brilhou em “Casablanca” ao lado de Hamphrey Bogart
O outro lado das telas de cinema

José Carlos Peliano (*) –

Cinema Central, Juiz de Fora, Casablanca, filme de Michael Curtiz de 1942, com Humphrey Bogart e Ingrid Bergman, eu no meio da plateia lá por meados dos anos sessenta. A poltrona não me cabia, o coração mal me sustentava, a emoção me vestia da cabeça aos pés. Dois astros gigantes, de primeira grandeza, ele o tipo masculino prodigioso da época, ela uma deusa de beleza incomparável, de voz tentadora e presença dominante.

Ingrid, a sueca das terras distantes, ficou comigo muitos e muitos anos na memória por entre os labirintos de minhas recordações ainda mais porque revi Casablanca outras tantas vezes sem deixar de me envolver de novo com o enredo, a trama e sua companhia inesquecível. A ponto de anos mais tarde ter-lhe presenteado com um poema na coletânea Poetas Mineiros em Brasília, organizado por Ronaldo Cagiano, Brasília, Varanda editores, 2002, pp. 120/121.

Ingrid Bergman

Telas não houve que te revelassem
como a gôndola do infinito em
teu sorriso de brisa.

Tua luz fazia a noite
dia e
trazia de volta a vida em
todas as manhãs.

Era a teus pés a
curvatura do espaço de Einstein,
definitivamente.

Meus olhos te viram sempre e
não chegaram a ti, apena
meus sonhos inacabados e
irrecuperáveis.

Eu fui Humphrey Bogart e
Cary Grant e todos os outros que
estiveram ao teu lado, mas
não haverá quem cante nunca a
música que brilhava em teus olhos.

Cinema Palace, Juiz de Fora, Elvira Madigan, filme de Bo Widerberg de 1967, com Thommy Berggren e Pia Degermark (na foto, abaixo). De novo eu em uma das poltronas da sala de cinema uma vez mais embevecido pela figura da atriz tal qual alguns suspiros aqui e ali da plateia. Outra sueca escolhida a dedo pelo diretor do filme pela beleza, candura, marcante presença e atuação envolvente ainda que do mesmo tipo de discrição pessoal de Ingrid.

Igualmente Pia está comigo por muitos anos dividindo minhas recordações com a sua outra colega da arte de atuação. Não poderia deixar de ofertar-lhe um soneto inédito ainda guardado em meus arquivos.

Pia Degermark

milimetricamente embelezada
o sol esparramado nos cabelos
os cabelos de luz esparramada
sem mechas, sequer ondas ou novelos

esplendorosamente revelada
trigos e margaridas em seus pelos
pelos de alva pele abençoada
onde a enfeitam por bem acolhê-los

eis que a tela é pequena em revelar
dois olhos dando cor à cor do dia
quando leva a beleza ao seu lugar

boca de seiva pura em fantasia
que minha boca nunca irá beijar
inacabado sonho, um beijo Pia!

Minhas lembranças suecas não poderiam deixar de fora uma eterna e insuperável presença brasileira. Com a qualidade adicional de ser cada vez mais bela quanto mais os anos passam e lhe beneficiam com charme, elegância, postura, arte e sabedoria. Fernanda Montenegro (na foto, abaixo), a atriz considerada Diva do cinema nacional. A ela deixei também um pequeno poema, mas que é grande em reverência, intenção e gesto, que fiz em torno do bordado de seu nome.

Fernanda Montenegro

A vida anda e desanda
ainda assim seduz
traz magia a Fernanda
faz Montenegro em luz

Às três que vêm comigo vida afora faço agora um brinde de poesia e emoção por me deixarem sempre bem acompanhado quando o inusitado me leva a busca-las nos meus registros imemoriais para me deixar arrebatado de beleza, sentimento, conforto e saudade. À vida e à invenção do cinema!
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(*) José Carlos Peliano é poeta, escritor, economista.