Luiz Martins: “É preciso que as forças antirracistas se afirmem e estejam coesas, enquanto podemos respirar. Não foi o caso do mártir norte-americano, George Floyd, em suas últimas palavras: ´Eu não posso respirar!´"
O impossível e o imprevisível, aqui e agora

Luiz Martins da Silva –

Impossível, fechar o dia, expediente, quarentena, recolhimento e o que quer que seja sem comentar três aspectos dramáticos da cena brasileira.

A pandemia já levou mais de 30 mil brasileiros (de março para cá); a conduta do Chefe de Estado. Hoje, em frente ao Palácio da Alvorada, uma senhora pede dele uma palavra de conforto à Nação, "nesta hora", ao que ele responde: "Ter fé que a gente vai mudar o Brasil". E para os enlutados, ela insiste, e ele repete o que já tinha dito em outras ocasiões – "Lamento toda morte, mas é o destino de todo mundo".

O ministério da Saúde, com uma equipe de militares em 20 postos-chave, "funcionando normalmente", como foi dito em entrevista sem o ministro. Enquanto isso, a distribuição de cargos para os partidos que integram o fisiologista bloco do Centrão, continua, mesmo com denúncias ainda em fase de apuração.

No telejornal de maior audiência, o registro diário de que a curva da pandemia não atingiu o seu topo. E, hoje, com uma "sonora" de alguém informando que em nenhum lugar do mundo se viu algo parecido com o que está acontecendo em Manaus, o cenário pavoroso de enterros em valas coletivas. E o que é mais patético, em várias cidades a abertura de shoppings com "a curva em ascensão". Vamos nos cuidar.

Em relação à onda de racismo que incendeia o mundo, pasmem com o que foi divulgado hoje em relação a um dos comentários do presidente da Fundação Palmares a respeito do Movimento Negro, numa reunião em 30 de abril: uma "escória maldita".

Há ou não pessoas apostando num confronto odioso também no Brasil? Em outros tempos, o Itamaraty cultivava a retórica de expressar em declarações conjuntas com outros países que o Brasil é "a segunda maior nação negra do mundo" (depois da Nigéria).

Entre outros cuidados, é preciso cuidar para que o governo atual simplesmente não destrua os quilombolas, que se encontram ameaçados.

É preciso que as forças antirracistas se afirmem e estejam coesas, enquanto podemos respirar. Não foi o caso do mártir norte-americano, George Floyd, em suas últimas palavras: "Eu não posso respirar!"