O efeito Lula pós-STF ainda está sendo digerido pelas oposições, mas enquanto isso o tempo passa
A pandemia, o efeito Lula e as opções políticas

Romário Schettino –

Com o número de mortes chegando a 3.600 por dia, com tendência de alta, a Covid vem se tornando uma bomba de alto poder explosivo nas mãos de todos aqueles que se articulam no Legislativo, no Judiciário e na sociedade civil. O papel da imprensa é exigir mais ação e responsabilidade do governo.

É fato que Bolsonaro é o principal responsável pela situação ter chegado a esse ponto – mais de 300 mil mortos até o momento –, mas constatar isso não basta. Chamá-lo de genocida não o comove, Bolsonaro tenta silenciar as vozes com uma truculência alarmante.

O tardio Comitê de Gestão anunciado pelos presidentes da Câmara e do Senado é tímido. Faltam nele seriedade e confiança, pois está, aparentemente, restrito aos governadores que apoiam o presidente. A picuinha prevalece e disputa de egos confundem o brilhante trabalho do Instituto Butantan.

Por tudo isso, passou da hora de pensar seriamente nas eleições de 2022. A possibilidade de um impeachment de Jair Bolsonaro por crime de responsabilidade na condução da pandemia está praticamente descartada. Não há unidade nesse ponto nem nas oposições. Por enquanto, o índice de aprovação do governo, apesar de tudo, é um entrave.

Enquanto isso, a ventoinha enlouquecida do Palácio do Planalto se move de acordo com o interesse eleitoreiro do presidente. Depois de comprar votos suficientes para garantir sua estabilidade política na Câmara, Bolsonaro vai se equilibrando aqui e ali. Quando sair o auxílio emergencial, agora em abril, por menor que seja, diante da miséria em que estão vivendo milhares de brasileiros, Bolsonaro pode faturar prestígio.

Aparentemente Bolsonaro está cedendo espaço para o Centrão, mas sempre de olho em sua reeleição. Há quem diga que essa estratégia não resistirá à tragédia que se avizinha na economia e no plano social, com o desemprego e a fome se alastrando.

Pelo sim, pelo não, a união das esquerdas encontra dificuldades de avançar, mesmo diante do efeito Lula pós-STF e sua vitória histórica sobre o ex-juiz Sérgio Moro. Todo dia ouvimos dizer que é necessário unir as esquerdas, mas a verdade é que faltam aqueles e aquelas que vão reunir todas as peças. Elas estão espalhadas, e a urgência é grande.

Não podemos dizer que ainda é cedo para reafirmar que a união de todos para derrotar Bolsonaro passa pela retomada e ampliação das políticas públicas de proteção social, defesa do SUS, geração de emprego e renda. O crescimento econômico não virá com o povo passando fome.

O Brasil não pode esperar para ver o que vai acontecer com esse governo tresloucado. Nunca a Esplanada dos Ministérios esteve tão cheia de figuras bisonhas, irresponsáveis, moleques, cínicas, machistas, misóginas, homofóbicas, criminosas, em postos chaves nas Relações Exteriores, no Meio Ambiente, na Educação, nos Direitos Humanos etc. Nunca se viu tantos militares da ativa em cargos civis. É a familiocracia miliciana no comando.

A direita, ou terceira via, como querem certos editorialistas da grande imprensa, está desnorteada com a devolução dos direitos políticos de Lula. O governador de São Paulo, que se apresentou para a disputa, recuou diante do bombardeio que recebeu de seu ex-aliado Bolsonaro. Huck, que ameaçou levantar vôo, está sendo abatido ainda em solo.

Aí tem aqueles que me lembram do Ciro Gomes. Eu respondo: tem o Flávio Dino, governador do Maranhão; Fernando Haddad; Lula; Rui Costa, governador da Bahia etc. Em qualquer hipótese, a chapa ideal terá de ser de centro-esquerda. O efeito Lula está colocado e é irreversível. O centro civilizado sabe disso.

A  pandemia vai arrastar o país até as eleições de 2022, infelizmente. Por tudo isso, a hora de agir e pensar no futuro é agora.