Witzel e Bolsonaro, unidos ontem,  brigam hoje pelo poder
Um tsunami atinge a política do Rio

Romário Schettino –

Depois do show de horrores que foi a prisão da família da deputada federal Flordelis (PSD), acusada de mandar matar o marido, que era filho, que era genro, a cidade do Rio de Janeiro acordou nesta sexta-feira, 28/8, com outro escândalo. Toda a cúpula do poder político do Rio está, de novo, na mira dos juízes, do Ministério Público e da polícia.

Além do afastamento do governador Wilson Witzel, o paladino da moralidade, a Justiça expediu dezenas de mandados de prisão, busca e apreensão contra o vice, que agora é governador interino, o presidente da Assembleia Legislativa, secretários, a esposa do governador afastado, fornecedores, empresários etc. O poderoso ex-secretário de governo, Lucas Tristão, também está preso.

No meio disso tudo, nas palavras de Witzel, o ex-secretário de Saúde, Edmar Santos, preso e delator, virou o bandido da história que enganou todo mundo.

Ah, ainda teve a prisão do pastor Everaldo, presidente do PSC, partido de  Witzel. Aquele que foi ao rio Jordão e batizou Bolsonaro e abençoou o seu governador eleito.

Witzel correu pra os microfones para dar declarações, não explicações. Disse que é vítima de perseguição política do presidente Bolsonaro, ex-aliado de primeira hora e responsável pela sua vertiginosa subida ao poder fluminense. “Sou um homem honesto, não tem um tostão ilegal nas minhas contas, nem uma joia”, disse ele, sem mencionar o nome de Sérgio Cabral Filho.

A indignação de Witzel o condena. Ele continua o mesmo que mandou a polícia mirar na cabecinha dos “bandidos”; que deu pulinhos quando um sequestrador foi abatido com o seu incentivo e que apareceu em campanha abraçado com o que há de pior na política carioca. Witzel subiu no palanque onde a placa simbólica de Marielle Franco foi destruída, num ato sem escrúpulos que ficou conhecido como a segunda morte da vereadora.

Não adianta o governador afastado jurar que a culpa é apenas do Bolsonaro, que usou os poderes da subprocuradora-geral, Lindôra Araújo, para destruir sua reputação. Eles são farinhas do mesmo saco. Ambos praticam a necropolítica.

Witzel só caiu em desgraça no campo bolsonarista porque se lançou candidato a presidente da República fora de hora. Erro que só um neófito despreparado comete na política.

Aliás, pobre Rio de Janeiro, tem um prefeito incompetente, praticante do compadrio evangélico; um governador enrolado até o pescoço com fortes sinais de corrupção na área da saúde e supervisionado por um presidente da República genocida, incapaz de governar o Brasil.

Agora, o Rio é governado por um cristão da Igreja Católica, cantor e compositor, que nunca administrou nada na vida. Mas, ao que tudo indica, é do agrado do clã Bolsonaro.

Depois desse afastamento, mesmo que na próxima quarta-feira o pleno do Superior Tribunal de Justiça (STJ) decida rever a decisão monocrática do ministro Benedito Gonçalves, Witzel dificilmente escapará do processo de impeachment, liberado pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF, em tramitação na Assembleia Legislativa.

A líder do PSol no Legislativo fluminense, deputada Dani Monteiro, lembra que Witzel foi eleito na esteira da onda bolsonarista com “a promessa de dar fim ao interminável ciclo de corrupção que assola a máquina administrativa do Estado”. Ao ser flagrado nessas graves denúncias, Witzel tem que responder pelos seus atos.

O vereador do PT, Reimont Luiz, também acha que Witzel precisa ser julgado e punido por seus crimes no âmbito do processo de impeachment.

É o que a cidadania espera. E que o eleitor carioca  escolha o melhor prefeito, ou prefeita, para sua cidade em 2020. Sem pesadelos.