Flávio Dino tem razão: "É hora de olhar para o futuro”. E deixar o passado para a história
Um novo partido de esquerda?

Romário Schettino –

Por que não? A aproximação do PSB de Carlos Roberto Siqueira de Barros com o PCdoB de Flávio Dino pode significar uma novidade importante no cenário político brasileiro. Nada a ver com teorias da conspiração contra o PT. É preciso encarar os fatos. Um partido de esquerda razoavelmente forte poderá ajudar o país a enfrentar a extrema direita que se organiza no governo Bolsonaro, de olho na reeleição. Servirá também para neutralizar o falso centro, que não passa de uma reunião de oportunistas fisiológicos e a direita empresarial, que só vê seus próprios interesses.

O que importa é saber como enfrentar o neofascismo instalado no Palácio do Planalto com direito a um “gabinete do ódio” oficial.

O PT é um grande partido, o maior da América Latina. É um partido que tem história de lutas e o que melhor organizou as camadas mais pobres da população. E é também, por isso mesmo, o que mais sofre perseguição das elites do atraso. Desde que começou a eleger deputados, senadores, vereadores, prefeitos, governadores e presidentes da República, o PT virou alvo preferido daqueles que temem o sucesso de suas políticas de inclusão social que tiraram milhões de cidadãos da extrema pobreza.

O PT foi criado por uma frente onde cabiam todas as ideologias progressistas, socialistas, comunistas, trabalhistas. Esse arranjo contribuiu para a formação de núcleos de base, tornou os sindicatos mais combativos, e promoveu o movimento social com o apoio de igrejas igualmente progressistas. O PT também rompeu como chamado centralismo democrático do velho Partidão stalinista.

Nesse movimento, o partido de Lula unificou todos os que lutaram contra a ditadura militar e negociou com a burguesia o que tinha de negociar para se manter no governo federal por quase quinze anos. Nem é preciso repetir aqui o legado petista na proteção social, na economia - deixou carca de US$ 300 bilhões em reservas cambiais -, e no número de programas e projetos que ajudaram no enfrentamento da pandemia do coronavírus, inclusive com a estruturação do SUS.

Além de uma união de forças, o PT tinha, e tem, Lula como sua expressão maior, reconhecida internacionalmente. Não foi por acaso que Lula assinou a Carta aos Brasileiros, um documento necessário, embora não suficiente para conter a ira que viria se abater logo em seguida sobre o PT e o governo Dilma Rousseff.  

A avalanche de ataques despejados diariamente contra Lula e os petistas tomou conta do noticiário de tal forma, que nas eleições municipais de 2016 o PT sentiu o peso das derrotas - mas não o da sua morte.

O lavajatismo e o golpismo parlamentar levaram Bolsonaro a fazer a festa em 2018, com a entrega do governo a militares de pijama e seus aliados empresariais. Hoje, estamos vendo a catástrofe que significaram o impeachment sem crime de responsabilidade e a prisão de Lula.

Apesar de todos os ataques, o PT tem a maior bancada na Câmara, quatro governadores, e é o principal partido da oposição. Mas uma nova disputa presidencial exigirá reacomodação das forças políticas, especialmente as de esquerda. As alianças nas eleições municipais deste ano ajudarão a definir 2022, mas nada impede que se iniciem as novas conversas.

Flávio Dino é um governador do PCdoB bastante respeitado, tem prestígio e terá peso importante no embate político, mas seu partido é pequeno, e o Maranhão tem pouca representatividade nacional. A fusão do PCdoB com o PSB criaria um partido mais forte e com razoável poder de intervenção política.

O PT não deveria se opor a isso, nem teria por quê. O seu hegemonismo na oposição não lhe dá esse poder. Nem pode atribuir a seus inimigos, ou a adversários, a existência de uma atual trama para enfraquecê-lo ou desgastá-lo perante a opinião pública. Aliás, isso não é novidade, sempre foi assim desde o seu nascimento, há 40 anos. O PT também não precisa ser perdoado pelas Organizações Globo, outra bobagem atribuída a um de seus colunistas. A grande imprensa, de modo geral, não engole, nunca engoliu o PT essa é a única verdade.

O novo partido de esquerda, se vier, só fará sentido se for destinado a fortalecer a luta dos trabalhadores, dos movimentos sociais, das minorias. O PT que se reorganize para continuar seu papel de vanguarda no combate ao combalido neoliberalismo e às forças do retrocesso. O Partido dos Trabalhadores continua forte com seus 4 governadores (RN, CE, PI, BA), 53 deputados federais -  a maior bancada na Câmara - e seis senadores.

O PSB, com 3 governadores (PE, ES, PB), 31 deputados, 2 senadores e 2 prefeitos de capitais (BH e Recife), unindo-se ao governador do Maranhão e aos 8 deputados federais do PCdoB, pode constituir um novo partido apto a enfrentar a cláusula de barreira nas próximas eleições e, principalmente, ajudar na derrota de Bolsonaro. Flávio Dino escreveu que é preciso mirar-se no exemplo de Nelson Mandela, que priorizou o combate ao apartheid, uniu forças antagônicas - e venceu.

Flávio Dino tem razão: "É hora de olhar para o futuro” e deixar o passado para a história.