Seguimos todos juntos, chafurdando no esgoto da história
Pimenta nos olhos dos outros

Sandra Crespo –

Quando as fake news atingem os integrantes do STF, o ministro Barroso e outros se horrorizam com o discurso de ódio. Ohhhhh! O estado democrático de direito está ameaçado!

Mas esse ódio foi destilado diuturnamente pela Lavajato a partir de 2014 (quando o playboy Aecinho não aceitou a derrota) até 2018, com a escandalosa prisão de Lula.

A Lavajato, tão queridinha de Barroso. E não só dele.

Em 2015, a ministra Cármen Lúcia derrubou a já então consagrada proibição ao discurso de ódio na redação do Enem, a pedido do MBL.

E quem representava o Movimento Brasil Livre, o MBL? Ninguém. O MBL não representava ninguém que tivesse a mínima atuação em qualquer setor da sociedade civil. Ou seja, o MBL era o mesmo que nada. Um bando de espertinhos direitistas que aproveitou a onda do playboy Aécio e começou a berrar palavras de ordem fascistóides contra a corrupção. Moro adorou, Dallagnol fez um power point - e o STF lacrou.

“Liberdade de expressão é sagrada, cala a boca já morreu”, decretou candidamente a ministra Cármen, uma heroína da democracia, sob aplausos comovidos dos comentaristas da CBN e afins.

Na época eu, sinceramente, fiquei indignada. Ah, como eu era passional... E bobinha. Cheguei a postar uma nota de repúdio no meu Facebook. Que teve muita repercussão hahahaha!

Mas o fato é que eu fiquei uma fera mesmo, não me conformei com a argumentação da ministra. Eu pensava: poxa, quer dizer que um dos pilares do fascismo - o discurso de ódio - estava sendo consagrado pelo Supremo para ser expresso pela juventude brasileira no Enem, justo sob o argumento da liberdade? Isso não pode ser! Logo no Brasil, pátria da desigualdade, cenário de tanta violência contra negros, pobres, mulheres, LGBTs, índios!

Pois é, a tese singela da ministra Cármen Lúcia e o ódio seletivo da Lavajato produziram os frutos podres que hoje tanto incomodam as instituições da República brasileira, STF incluído.

Hoje, sob os escombros do Brasil de Bolsonaro, eles e elas do STF e de mídias afins sublinham, dia sim, outro também, que discurso de ódio não é bacana. Só valia para tirar a Dilma, viu gente? (Pena que esqueceram de combinar com os golpistas).

Chocaram o ovo da serpente. E Bolsonaro deita e rola, chuta a Constituição todo dia, e se lixa para os quase 90 mil mortos pela covid19.

Agora, Barroso, Cármen e outros ministros, e mídias tão puras se horrorizam. Mas continuam apoiando o udenismo lavajatista, que tem em Sergio Moro outro justiceiro de extrema direita. Ele não tem, claro, nenhuma afinidade com a democracia. Oh, mas isso a gente vê depois.

Enquanto isso, seguimos todos juntos, chafurdando no esgoto da história.

Uns com máscara, outros sem.