Marcos Bagno
Novo dicionário golpista

Marcos Bagno -

Depois do golpe de Estado e da instalação da República Fascista do Temeristão, têm ocorrido algumas mudanças significativas no vocabulário e na gramática do português brasileiro.

Um grupo de linguistas se reuniu para produzir o Novo Dicionário Golpista, uma obra destinada a esclarecer o público em geral acerca das inovações que estão despontando na língua a cada dia.

Essas inovações são de dois tipos: palavras antigas e bem conhecidas adquirem novos sentidos ou novas palavras são criadas do zero.

Uma dessas palavras criadas é esta:

gilmar (verbo intransitivo) – 1 – valer-se de cargo de autoridade para favorecer certos partidos políticos e prejudicar outros; 2 – acobertar crimes cometidos por aliados, impedir que sejam investigados; 3 – cometer ilegalidades em defesa dos próprios interesses e dos interesses dos aliados; 4 – conspirar contra a democracia em aliança com mafiosos corruptos.

Exemplo: “Pra dar um golpe de Estado bem-sucedido, gilmar é imprescindível”.

Entre palavras muito antigas na língua e que tiverem seus sentidos completamente alterados, destacamos esta:

justiça (sub. Fem.) – 1 – conjunto de órgãos que formam o poder judiciário, empregados sistematicamente para perseguir e acusar sem provas somente membros do Partido dos Trabalhadores (PT) e para acobertar os crimes comprovadamente praticados por membros do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) e do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB); 2 – ideologia fascistoide que leva diversos agentes do Ministério Público Federal e do Supremo Tribunal Federal a praticar ilegalidades e a desrespeitar os direitos civis mínimos garantidos pela Constituição; 3 – termo empregado nos meios de comunicação oligárquicos do Brasil para designar atos de arbitrariedade cometido contra pessoas e/ou entidades que reivindicam o respeito às garantias democráticas e ao estado de direito.

Convém observar também que, junto com as palavras, também ocorreram mudanças na ortografai oficial. Diante da atual situação política, é mais correto escrever “extado de direito”, “excola” e “experança”.

Por fim, algumas siglas permaneceram, mas com nova interpretação: STF (Supremo Tucanato Federal) e MPF (Ministério Peessedebista Federal).
Uma vez que o objetivo do governo é eliminar toda e qualquer forma de educação essas mudanças não precisam ser ensinadas a ninguém.
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(*) Marcos Bagno é linguista, escritor professor da UnB – marcosbagno.org
(Artigo publicado originalmente na revista Caros Amigos, nº 235).