Brisa: “Se eu for eleita governadora do DF vou propor uma política urbana altiva e forte para que todas as cidades sejam realmente cidades completas.”
Conversa com Brisa, minha candidata ao governo do DF

Wilde Cardoso (*) -

Brisa. Isso mesmo. Esse é o nome dela.

Brisa vive caminhando pela cidade. Se está no Plano Piloto, caminha e vai ao trabalho. Se está em Taguatinga, caminha e vai ao comércio. Se está em Ceilândia, caminha e vai para casa.

Brisa refresca o ar onde passa. Aproveitando o fato de que não usa mais máscara quando anda pelas calçadas da cidade, agregou um sorriso ao “bom dia, bom dia” que emite ao passar por outro caminhante. Raros não respondem. Afinal, quem pode negar um “bom dia” para Brisa.

Essa semana, encontrei Brisa resmungando. Isso é difícil de se ver. Me disse de cara: quero ser governadora de Brasília. Perguntei por que e ela não titubeou. Alugou meus ouvidos por bom tempo e começou a prosa. Pensei que era só um dedinho, mas logo vi que era um pé inteiro.

E assim começou.

Não é possível entender as pessoas. Querem ficar em forma e andam o tempo todo de carro. Querem gentileza e vivem buzinando no trânsito. Querem ficar tranquilas e não perder tempo na vida e acabam ficando horas sentadas, estressadas, esperando o carro da frente avançar. Por que não caminham?

- Se caminhassem veriam o mundo que vejo. Falo com as pessoas, ao menos cumprimento. Sorrio e recebo sorrisos de volta. E estou bem na fita. Bem saudável, se querem saber.

Até entendo. Muitas vezes é difícil mesmo você achar que está segura nas calçadas do DF. Estreitas, esburacadas, com muita coisa onde tropeçar. Quando existem, é claro. Por exemplo, tentei caminhar no Setor Policial Sul e não tive como. Parece que só pensaram nos carros por lá.

Sem parar, agora como um pequeno vendaval, Brisa continuou.

Será que não existe um órgão que cuide efetivamente das calçadas? Ouvi dizer que quem executa as obras é a Novacap. Mas também, de tanto ouvir, sei que depois que fica pronta, ninguém mais cuida delas. Se são estragadas por alguma razão, por um buraco para passar um cano, por um caminhão que passou em cima ou por uma viatura de polícia que não sei por que cisma de trafegar ou parar sobre ela, parece que não tem jeito, ninguém conserta.

Muitas vezes desço do ônibus e pronto: cadê a calçada? Outras vezes vou atravessar a rua e não tem passagem pintada. Quando tem, é fácil tropeçar. Cadê a rampa para quem tem dificuldade para andar? Cadê o rebaixamento do meio fio para o idoso ou para uma dificuldade temporária, quebrou a perna por exemplo, ou para quem quer passar com um carrinho de bebê? Quase sempre não tem. E olha que às vezes tem rampa de um lado da pista e não tem do outro. Bizarro, mas isso é o normal em Brasília.

Mas o que você acha que deve ser feito, Brisa? Interroguei. Não adianta ficar só reclamando.

Olha, amigo. Eu acho que sei o que fazer. Primeiro, vou perguntar para todo mundo se quer ir para o trabalho, a escola, o comércio, o hospital, o barzinho. A resposta será “sim”. Aí ponho a questão: gostaria de ir a pé? Quase todo mundo deve também responder “sim”. Isso posto, farei a seguinte proposta: deixa comigo, vou colocar calçada em todo lugar que você precisar. Será uma calçada simples, mas com largura e piso adequados. Será feita para durar. Pode ser que aconteça algum estrago na calçada. Aí o governo vai logo arrumar. Haverá um órgão público competente para projetar, construir e cuidar das calçadas.

Se você precisar de alguma indicação para onde ir, haverá sinalização tipo “você está aqui”. Se alguma pessoa com dificuldade para enxergar precisar de apoio, aos poucos vamos equipando a cidade com piso tátil, proteção contra objetos no caminho, mapas táteis, o que precisar. Rampas ainda? Sim, farei em todas as travessias. Todas. E os particulares também farão a sua parte para que elas também existam no comércio e nas residências. Se não fizerem, uma Lei proporei. Conversada com todos, é claro, uma lei democraticamente elaborada e aprovada. Se não cumprirem, o governo age: multa, execução do que precisa e cobrança dos custos daquele que não fez o que devia.

Voltando à questão original, para aqueles que responderem “depende”, direi: você tem a opção de ter um ônibus de qualidade, uma parada confortável, com horário de cada linha afixado junto a ela. E o ônibus vai respeitar isso. Os motoristas te dirão “bom dia”, igualzinho quando eu passo nas calçadas, e os passageiros dirão “bom dia, bom trabalho, senhor”.

E mais. Se possível for vai ter tarifa zero. Se não der, a tarifa será congelada até que um dia fique tão pequenininha que não valha mais a pena cobrar. Sabe por quê? Porque nós precisamos ser justos. Quem anda a pé ou de ônibus e contribui para uma cidade mais humana tem que ser pago por aqueles que não o fazem. Podemos chamar isso de “prestação de serviços urbanos”, uma ação que beneficia a todos, mas somente alguns fazem. Acho que poucos não aceitarão andar a pé, de bicicleta ou, quando necessário, pegar um coletivo.

Mas e para aqueles que não quiserem, que insistirem em usar o carro? Indaguei.

Bem, respeitaremos a opção. Acho que não serão muitos, mas se forem, tentarei induzir para que mudem de opção: estacionamento pago, redução de pistas em favor dos ônibus e das ciclofaixas, calçadas mais largas, farei tudo que muitas cidades modernas, como Brasília nasceu para ser, estão fazendo a algum tempo. Para quem é da modernidade, essa cidade está ficando arcaica antes do tempo.

Esqueci de dizer, se eu for eleita governadora do DF, no início, bem no início do governo, vou propor uma política urbana altiva e forte para que todas as cidades sejam realmente cidades completas. A grande maioria das pessoas poderá morar, estudar, trabalhar e se cuidar onde mora. Assim, o transporte entre elas, quando necessário, será minimizado, podendo ser feito preferencialmente por ônibus, ou até por metrô se recursos financeiros houver. Farei ciclovias para permitir a circulação entre as cidades mais próximas e cuidarei para que o trânsito seja gentil: velocidade controlada, respeito às passagens de pedestres, quase sempre no nível do carro. Afinal, porque o caminhante precisa andar mais, subir e descer, quando deveria ser tratado igual aos carros, atravessando a pista no mesmo nível deles?

E continuou. Você vota em mim?

Refleti. Você acha mesmo que vai mudar a cidade rapidinho e vai obrigar as pessoas a mudarem seu comportamento com essa conversa? Acho que provoquei a Brisa.

Ela me sorriu e finalizou: ninguém obriga ninguém. A gente conversa, sensibiliza, discute abertamente e decide. O meu argumento será sempre: quero você feliz, saudável, generoso. Quero isso também para seu vizinho e, também, para os vizinhos das outras cidades. Vote em mim porque eu quero o que você quer, uma cidade para a gente, para mim, para você, para nós, para todas as pessoas. Vamos caminhar juntos.

Não tem jeito. Vou votar na Brisa.