É provável que a recomposição do golpe seja feita sem Temer, mas com eleição indireta no Congresso. As diretas dependem do povo nas ruas.
Por que a Globo fez isso com Temer?

Romário Schettino -

Na noite de ontem (17/5), depois da notícia veiculada no jornal O Globo pelo colunista Lauro Jardim e no Jornal Nacional, todo mundo que foi às ruas pedir Fora, Temer! e Diretas, Já!, queria saber por que as Organizações Marinho fizeram isso com o seu aliado?

Eu tenho algumas explicações para essa incontrolável situação:

Primeiro, a notícia já estava nas mãos do Supremo Tribunal Federal, Polícia Federal, Procuradoria Geral da República há muito tempo. O "vazamento" é o método conveniente para livrar a cara de quem vaza. E se não fosse o colunista do Globo, seria qualquer outro.

Segundo, as gravações feitas pelo dono da Friboi foram monitoradas pela Justiça e era inevitável que se tornasse notícia com o conhecimento de todos os envolvidos na "apuração", inclusive a imprensa. "Ou o Globo publica isso ou alguém vai fazê-lo", poderia ter sido a conclusão. Lauro Jardim é um bom jornalista farejador e pode ter sido o escolhido para deflagrar o noticiário.

Por fim, o governo Michel Temer está podre de cabo a rabo. O golpe, que a Globo nega, é evidente e não tem como esconder mais. Só lhe resta recompor a turma e seguir adiante.

A TV Globo está perdendo audiência todos os dias por sua postura golpista. Estava na hora de se recuperar perante o público e buscar uma forma de sustentar o golpe com outros nomes, agora sem Aécio Neves e sem Michel Temer. Os dois estão na frigideira com o fogo bastante alto.

Há quem desconfie que na reunião de emergência no Palácio do Planalto estavam altos dirigentes da Rede Globo para encontrar a melhor saída.

Por enquanto as alternativas são:

1) Temer renuncia e o Congresso elege indiretamente o novo presidente para terminar o mandato e continuar com as reformas neoliberais e acalmar o mercado.

2) O processo de impeachment, se aberto pelo presidente da Câmara Rodrigo Maia, começa sua longa tramitação e o desgaste será muito grande. Alto risco.

3) O Congresso aprova a PEC do deputado Miro Teixeira e convoca eleições diretas em todos os níveis: Presidência, Câmara e Senado.

De todas essas opções, a primeira é a mais provável, atende mais os interesses dos golpistas, que ainda mandam no Brasil e não vão abrir mão desse benefício.

Caso a população se mobilize em torno das diretas, pode ser que essa seja uma opção viável, vai depender do ato do dia 24 de maio.

Enfim, a casa de Temer e seus aliados mais próximos caiu e o Brasil está em suspense. O Ocupa Brasília, dia 24/5, pode ultrapassar a presença dos 100 mil previstos e reforçar a PEC das diretas.

A gasolina foi ateada ao fogo e uma coisa é certa, ninguém mais segura Temer no Palácio do Planalto.

E Aécio pode, sim, ser afastado do Senado e, eventualmente, fazer companhia a Eduardo Cunha na cadeia.

Mas um alerta, essa pode ser a senha para encerrar, definitivamente, a carreira política de Lula. O PT que se cuide. A acusação de seletividade da Lava Jato perde força. É como se agora ficasse aberta a porta para a condenação de Lula, mesmo sem provas.