O carimbo do Golpe é para sempre
O golpe neoliberal está consumado

Romário Schettino -

A votação favorável ao prosseguimento do processo de impeachment contra a presidenta Dilma Rousseff praticamente sela o seu destino. É impossível reverter esses votos no próximo e derradeiro julgamento no plenário do Senado. O Brasil real que se prepare para o que vem por aí.

Lá pelo dia 29 de agosto, conforme o previsto, serão necessários apenas 54 votos. Nessa penúltima votação foram 59 senadores contra Dilma e apenas 21 a favor, um a menos em relação à votação anterior pela admissibilidade.

Dessa forma, estão os senadores caminhando para a conclusão do golpe parlamentar, apoiado pela imprensa comercial brasileira e pelo Supremo Tribunal Federal (STF). O presidente do Supremo, Ricardo Lewandowski, aparece na internet numa imagem significativa do momento, lavando literalmente as mãos.

Só resta ao PT e seus aliados uma tentativa junto à Organização dos Estados Americanos (OEA), para onde serão remetidos os recursos jurídicos contra o impeachment por sua fragilidade legal.

A turma do PSDB (Aécio, Serra, FHC etc) esfrega as mãos e prepara o pacote neoliberal para leva-lo às últimas consequências. Ou seja, a retomada das privatizações, o enxugamento do Estado, arrocho salarial e fim dos programas sociais.

O Congresso Nacional está em suas mãos. Eduardo Cunha é carta fora do baralho, pode até continuar deputado (apesar do escândalo que isso representa), mas o poder está no colo dos tucanos, sem que para isso tivessem que ganhar as eleições.

Dilma já arrumou as malas e, segundo a colunista da Folha de S. Paulo, Mônica Bergamo, prepara uma longa viagem de oito meses pela América Latina e, talvez, pelo interior de alguns países da Europa. Pode ser isso mesmo, veremos.

Enquanto Dilma descansa, o Brasil terá de se preparar para uma etapa ainda mais complexa na sua história.

O presidente, por enquanto interino, já tem certa sua ida a Nova York para a abertura da assembleia anual da ONU. É muito provável também que seja recebido com vaias e uma certa frieza por parte de alguns líderes mundiais. Mas ele conta com a proteção de José Serra, que já pavimentou a estrada do novo governo oferecendo a Petrobras e o pré-sal para seus aliados no exterior.

O senador Cristovam Buarque, ex-petista, ex-pedetista e agora PPS-DF, também tem o seu futuro político carimbado como golpista, direitista, neoliberal. Dizem, na rede social, que o preço de seu voto é alguma embaixada ou um cargo em um órgão internacional. É o que veremos.

O fato é que Cristovam está mais sujo do que pau de galinheiro entre os seus eleitores cativos no DF. Ex-colaboradores, ex-amigos, ex-aliados estão decepcionados e irados. Os novos amigos de Cristovam não lhe garantirão os votos que teve com o ajuda do PT em todas as suas eleições para governador e para o Senado, mas ele sonha com outros voos.

O senador que mudou de lado, João Alberto Souza (PMDB-MA), disse ao Estadão que apesar de não acreditar em crime de Dilma votou a favor do relatório de Antonio Anastasia por questões políticas. “'Não mudei de ideia, a minha postura foi em função da conjuntura política”, disse ele.

Claro, explicação típica de quem se acovardou, ou ganhou algum benefício. O que mudou na conjuntura nacional que justifique essa virada de posição? Nada.

A militância dos partidos de oposição a Michel Temer vai trabalhar as eleições municipais tentando carimbar a testa dos golpistas candidatos ou dos apoiadores de candidatos. Vai infernizar a vida dos parlamentares e tentar impedir aprovação de leis antinacionais e destruidoras dos direitos dos trabalhadores e dos excluídos.

E quando chegar 2018, se o juiz Sérgio Moro não conseguir tirar Lula do caminho, é possível que ele volte como candidato, ou apoiando alguém com chances de retomar o poder dos senhores do golpe.