Geniberto Paiva Campos: “A pandemia, logo no início do novo governo, criou espaço para o negacionismo como mote, talvez previsível, vindo de um bando de medíocres que assumiu o poder por meio de um estranho processo eleitoral”.
Negacionismo e neoliberalismo, os males do Brasil

Geniberto Paiva Campos –

Seria difícil imaginar que ainda no primeiro semestre do ano em curso estaríamos vivendo as consequências do desmonte do país, comandado por um grupo, até agora incapaz de demonstrar a mínima competência de criar algo produtivo, em sua desastrada maneira de administrar o Brasil. Tendo como direção única promover o caos. E a extinção completa do país, enquanto estado-nação. E sua transformação em colônia exportadora de matérias primas. Subordinado ao mesmo “patrão” (yes man/yes sir).

A ocorrência da pandemia da Covid-19 logo no início do novo governo criou, pelo seu inesperado e complicado surgimento, um desafio não previsto. De tal modo, que o recurso ao “negacionismo” seria um mote, talvez previsível, vindo de um bando de medíocres que assumiu o poder por meio de um estranho processo eleitoral, onde predominaram a ausência de debates, a participação aberta dos eleitores e até manobras de disfarce, como o também (muito) estranho – e conveniente - “atentado” ao candidato presidencial, dessa forma impedindo-o de participar diretamente da disputa do pleito e anunciar seus “projetos”, submetendo-os ao crivo dos opositores e ao escrutínio do eleitorado. Projetos resumidos numa frase preocupante, estranhíssima, repetida pelo candidato, mandando um recado mais ou menos assim: “vou destruir e depois recriar...”

A nova roupagem adotada pelo Capitalismo resultou num novo sistema, o Neoliberalismo, com todo o seu cortejo de desgraças, que integram a sua pauta sacrossanta, anunciada pelos seus “defensores teológicos do livre mercado” (Hobsbawm, 1995): pobreza, desemprego em massa, miséria, instabilidade, e até o colapso de todo o sistema.

Ao final da II Guerra Mundial, o sistema capitalista se permitiu ensaiar algumas mudanças. A mais radical de todas foi o Neoliberalismo. Uma espécie de revanche ao modo socialista de produção e repartição dos ganhos, no qual o Estado desempenhava um papel predominante. E atribuía ao Operariado papel prioritário no mundo do Socialismo. O Neoliberalismo tornou-se uma espécie de crença, a teologia de um novo sistema econômico. E foi esta base ideológica, que tinha o “Deus Mercado” como divindade máxima, que assumiu o governo do Brasil em 2019. Com a área econômica entregue a um medíocre “Chicago Boy”.

Paralelo ao processo do desmanche neoliberal (leia-se privatizações...), surgia um outro terrível desafio. Desta vez na área sanitária: a Covid-19, no seu ataque impiedoso a todos os quadrantes do Planeta. É então, que tem início o chamado Negacionismo, a meu ver uma forma suave, até gentil, para designar o comportamento do governo frente à Pandemia, entendida inicialmente pelo presidente como “gripezinha”. Mas, sem exagero, segundo o jornalista André Barrocal, em seu texto de outubro de 2020, na Carta Capital, citando a nota dos partidos de oposição, a atitude negacionista assumiu tais dimensões, que poderia ser diagnosticada como “tentativa de homicídio”; “ameaça de genocídio” ou “crime contra a humanidade”. 

Pela primeira vez, uma “revolta da vacina” seria comandada pelo governante em exercício, não pela liderança comunitária. Algum recôndito, inexplicável motivo levou o presidente de todos os brasileiros a negar a situação emergencial na qual tínhamos ingressado, e que exigia respostas imediatas e inteligentes para neutralizar a ameaça de catástrofe sanitária que nos ameaçava seriamente, a ser enfrentada com a ação coordenada e efetiva de todos os brasileiros.

É quando o presidente começa a surpreender, inclusive aos seus seguidores (exceto os fanáticos), caminhando na contramão do senso comum. Cometendo imperdoáveis desatinos, de tal modo surpreendentes, que fazia as pessoas sensatas duvidarem da capacidade administrativa, e até da sanidade mental do presidente. Cercado por uma equipe de insanos e incompetentes, totalmente incapazes de enfrentar tão grave desafio sanitário. Acrescido de um detalhe: o vírus se apresentava para o mundo, simultaneamente com a vacina. Trazendo, portanto, a possibilidade de seu controle em curto prazo. Desde que tal recurso fosse empregado de forma eficiente. E de acordo com as normas científicas universais.

Seria talvez ocioso enumerar aqui os erros e omissões cometidos pelo governo, de modo proposital ou por ignorância dos mais elementares princípios sanitários, para o enfrentamento do (seríssimo) problema. Começando pela omissão dos testes diagnósticos para a Covid, calculados em alguns milhões, disponíveis e não usados pelo Ministério da Saúde. Com prazo de validade vencido, tornados inúteis, por omissão e ignorância.

A sequência de eventos – inacreditáveis, em função das suas terríveis consequências – confirmou as piores suspeitas que se avolumavam entre os brasileiros: a total incompetência administrativa do governo, incapaz de assumir os atos mais corriqueiros da governança, e muito menos os desafios impostos pela Covid-19.

A “politização” das vacinas disponíveis e o injustificado – deliberado – atraso da sua aplicação, deu início à fase do verdadeiro GENOCÍDIO, cometido por um bando de ignorantes irresponsáveis, elevando número de óbitos, a maioria evitáveis, pela Covid, o qual já começa a se aproximar de meio milhão de vítimas da insanidade. Tolerada, e até estimulada, por brasileiros silentes e cúmplices da ignorância assassina e cruel de inocentes.

Nas outras fases do “Negacionismo”, o governo decidiu recusar o uso de máscaras protetoras, como “coisa de maricas”, à falta de argumentos científicos convincentes; o uso de álcool gel; e enfim, estimular as aglomerações. Fazendo funcionar livremente comércio, escolas, academias, restaurantes. Enfim, voltar às atividades definidas como “normais”.

E, finalmente, a tentativa de influir na conduta terapêutica da Pandemia, defendendo o uso da Cloroquina e Ivermectina, na fase aguda da Covid. Medicações que se comprovaram inócuas e com efeitos colaterais deletérios para a saúde dos usuários.

Tal comportamento será avaliado, a partir da próxima semana, através de Comissão Parlamentar de Inquérito – CPI – instalada no Senado Federal, o primeiro obstáculo para contenção dos desatinos governamentais, na sua desastrada e infeliz condução das medidas de enfrentamento da Pandemia.

Aguardemos os resultados.