Renuncia, Temer!, Fora, Meirelles! Diretas, Já!

Antônio Carlos Queiroz -

Afastar Michel Temer o mais rápido possível e emplacar em seu lugar o ministro Henrique Meirelles (ex-Bank of Boston, ex-JBS) para retomar as reformas da CLT e da Previdência é o script da Globo, do Estadão e de grande parte da plutocracia nacional e estrangeira.

Essas forças já se deram conta, como ficou explícito no editorial do Globo de sexta-feira, 19/5, que pede a renúncia de Temer, de que ele não tem mais credibilidade para levar adiante as reformas.

Pior, acrescente-se, a sua permanência no Planalto alimenta o movimento das Diretas, Já!

Mal comparando, tudo isso faz lembrar uma pesquisa publicada pelo cientista político Walder de Góes sobre o derretimento de Fernando Collor depois da denúncia de seu irmão à revista Veja, em maio de 1992.

Góes demonstrava que Collor já não tinha qualquer crédito público para tocar as reformas neoliberais em curso, ao contrário de Itamar Franco, com alto grau de confiança por parte da opinião pública. Itamar chamou FHC, que inventou o Plano Real etc.

O estudo de Góes serviu para engrossar o caldo do impeachment, também incitado pela... Globo.

Acontece que houve uma falha crucial na operação para derrubar Temer, deflagrada pelo vazamento da delação da JBS: não ficou 100% claro que Temer teria dito a Joesley Batista que era preciso manter o pagamento da compra do silêncio de Eduardo Cunha na prisão em Curitiba.

O áudio da conversa é muito ruim, cheia de ruídos. O que dá para ouvir é o Temer dizendo que Joesley deveria manter a relação “de bem” com Cunha.

A Folha de S. Paulo contratou peritos para analisar o áudio e a conclusão é que a fita deve ter sido editada. Há indícios, inclusive, de que nela foram insertados ruídos, com que propósito, não se sabe.

Detalhe ainda mais relevante: a gravação não teria valor legal por ter sido gravada sem autorização judicial.

A hipótese é que Joesley Batista gravou a conversa com Temer como peça vestibular de sua delação premiadíssima, já chamada de “golpe de mestre”: a JBS faz a delação, paga uma multa irrisória, faz um acordo de leniência com as autoridades dos Estados Unidos e muda sua sede para lá.

Com base nessa falha técnica, Temer resolveu resistir, pelo menos para ganhar tempo.

Um eventual processo de impeachment levaria semanas. Nele, uma acusação muito mais importante seria a do cometimento do crime de prevaricação, por ele não ter tomado providências depois de ouvir Joesley Batista relatar uma série de crimes – compra do procurador eleitoral e de dois juízes etc.

Uma parte das esquerdas já percebeu a manobra da Globo e do Estadão em favor da unção de Meirelles. O blogueiro Rodrigo Vianna, do Viomundo, acaba de lançar o movimento “Fica, Temer”, para melar a possibilidade de votação das reformas da CLT e da Previdência nas próximas semanas.

O ex-porta-voz de Lula, o cientista político André Singer, publicou na Folha de hoje uma pensata sobre o imperativo de preservar as regras do Estado de Direito e do devido processo legal.
“Temer está sentindo na pele a mesma metodologia usada contra Dilma e o PT, mas não será por meio dela que voltaremos à normalidade democrática.

Forças que se movem sem mostrar a cara, e cujos interesses não se explicitam, nunca produzem bons resultados.

Os democratas precisam fincar pé na defesa do Estado de Direito, da Constituição e da lei”, ponderou Singer.

Até quando Temer conseguirá resistir? Não por muito tempo, provavelmente. O golpe de misericórdia poderia ser o afastamento do governo do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, e o do presidente do Banco Central, Ilan Golfajn, como sugere a Agência O Globo, em nota publicada hoje pelo jornal Valor Econômico, a título de “preocupação” da equipe de Temer.

Na manhã de quinta-feira, Meirelles reuniu-se com representantes do Fundo Monetário Internacional, a quem teria dito que o foco da política econômica não muda, e que as reformas trabalhista e da Previdência devem ser aprovadas.
Mas com Temer no Planalto, é óbvio que a reforma não passa mais no Congresso.

Seria preciso fazer uma blitzkrieg com Meirelles ou algum outro brucutu das finanças internacionais para enfiá-las goela abaixo do Congresso Nacional.

Na próxima semana, os movimentos populares ocuparão Brasília, muito animados pelos últimos acontecimentos.

Terão de tomar cuidado para não fazer figuração de graça para a Rede Globo, o Estadão, o FMI e a JBS.

Por enquanto, Fica, Temer! Fora, Meirelles!