Os latifúndios de soja são imensos desertos verdes que empregam poucos trabalhadores
O mercado, a mídia e a morte

Dioclécio Luz (*) -

A COP27 teve fim no domingo, 20 de novembro de 2022. Foi mais uma assembleia promovida pela Organização das Nações Unidas para decidir se os seres humanos irão se tornar carne de churrasco logo – agora! - ou se demoraria mais um pouco. O resultado anunciado foi o mesmo de sempre: todo mundo se compromete a mudar desde que não mude nada. Ou seja, o churrasco é pra já.

Mas atenção: essa decisão não veio dos governantes. Nem Lula nem Biden são capazes de definir como restringir o uso de derivados de petróleo, o fim dos desmatamentos ou das queimadas. Quem decide isso é o mercado. O sistema é capitalista. Diz o mercado: “eu gero riqueza, emprego e renda; tenho poder, grana; logo eu determino as regras; o Estado depende de mim. Logo, só vai ocorrer as mudanças que eu quiser”. E os dirigentes se submetem.

Essa reunião da ONU com representantes de países para decidir sobre a continuidade da vida humana no planeta coincidiu com uma polêmica criada pela velha mídia (sim, a velha mídia) a propósito de uma fala de Lula. O presidente eleito disse que sua grande preocupação no novo mandato é acabar com a fome que atinge hoje mais de 30 milhões de brasileiros. Também disse que para fazer isso precisaria ir além do teto de gastos. A velha mídia imediatamente reagiu e avisou que o mercado – um ser invisível que vez ou outra aparece para dizer quem manda no pedaço - não aceitaria isso. “Opa! Matar a fome do povo com o nosso dinheiro? Jamais!”. Logo foi produzida uma carta, assinada por três velhos representantes arqueológicos do mercado, criticando a decisão de Lula. Quem conhece um pouco desse velho jornalismo oportunista sabe que a carta foi escrita exatamente para legitimar as críticas que o mercado fazia. A velha mídia faz isso porque, embora se fantasie de defensora da democracia e da sociedade, ela é o mercado. 

O mercado, é bom lembrar, invadiu o Brasil em 1500 e determinou que aqui seria uma colônia. A sua primeira versão foi o agronegócio: vamos saquear a natureza. Depois os minerais. E então veio o gado e a carne de gado; o café, o algodão. O agronegócio cresceu a partir da mão-de-obra escrava vendida pelo mercado – os escravos eram commodities e produziam as commodities da época. Até hoje, vez ou outra, fiscais do Ministério do Trabalho descobrem que existe escravidão no agronegócio - isto é, no mercado.

O mercado do agronegócio é o nosso atraso. Ele confirma que o Brasil continua colônia: aqui se produz o que determina a matriz - como há 500 anos. Conforme Caio Prado Junior (in Formação do Brasil contemporâneo), os fazendeiros dos tempos coloniais não permitiam que os escravos tivessem uma horta ou pomar para ter o que comer. Foi preciso um decreto imperial para que pudessem, por conta própria, produzir comida. Algo parecido acontece hoje: os latifúndios de soja, milho, algodão, capim, são imensos desertos verdes espalhados pelo país, onde, naquela imensidão vazia aparece um barracão onde se abrigam os poucos trabalhadores que o agronegócio emprega, alimentando-se da cesta básica que deixam.

Os fazendeiros “modernos” nem moram no campo. Ficam nas grandes metrópoles, obedecendo às ordens das transnacionais – uma meia dúzia de empresas que decidem quem passa fome e quem se alimenta no mundo. Eles nem gostam do termo “fazendeiros”, pedem para ser tratados como “produtores de alimentos” - marketing.

O agro não é pop, como diz a propaganda exibida na velha Globo. Matéria da revista Piauí (nº 192, setembro de 2022), assinada por Marcos Emílio Gomes, questiona o agro como responsável por 27,4% do Produto Interno Bruto. De onde vem essa matemática? De Harvard. Revela o jornalista que essa universidade (conhecida por desenvolver métodos científicos de controle dos países em desenvolvimento) criou uma metodologia onde o agro é uma cadeia econômica que agrega tudo que se relaciona ao campo. O prego na estaca da cerca é agronegócio; a borracha da bota do fazendeiro é agro. Ao que parece estão contabilizando como agro a fiação de energia e os telefones celulares que circulam no campo. Por isso o agronegócio se fez tão importante na nossa economia: com a mentira vinda de Harvard. A matéria da Piauí revela essa farsa e mostra que a participação real do agro no PIB nacional não passa de 7%.

Bem, talvez esse setor pague impostos... Nem isso. A contribuição fiscal desse pretenso gigante do mercado para o Estado é ínfima. Nas palavras do jornalista: “o governo não cobra imposto de exportação sobre produtos agropecuários. A agricultura, a pecuária e os serviços relacionados, todos juntos, recolheram aos cofres públicos, ao longo de 2019, a quantia ridícula de 16 mil reais”.

O agronegócio é um exemplo de como funciona o mercado no Brasil. Graças a esse poder (de 500 anos) sobre o Estado o setor recebe regalias: tem a seu serviço um ministério inteiro (MAPA) e uma empresa de pesquisa de gabarito internacional (Embrapa); os insumos são isentos de impostos (agrotóxico não paga IPI nem PIS/Cofins). O agro também recebe muito dinheiro do Estado (o Plano Safra 2022/23 foi de 148 bilhões). E pagar não é problema: todo ano o Estado perdoa as dívidas do setor. Sabe aqueles carrões que os fazendeiros usam para desfilar nas cidades? São comprados com isenção de imposto. Em resumo: o agronegócio é mantido pelo povo brasileiro. Mas eles que mandam no país.

O Brasil tem dono. E não é a população, mas um pequeno e seleto grupo de ricos, donos de 95% da riqueza nacional. Representam a nata do mercado. Um mercado se dá bem no clima de terror e morte instalado no governo Bolsonaro.  Foi bem mais fácil negociar com um coronel ignorante instalado em um posto civil do que com um servidor público que conhecia o assunto.

Por isso o mercado ficou quieto diante do orçamento secreto criado pelo presidente Bolsonaro e sua turma (“a maior corrupção do planeta”, segundo a senadora Simone Tebet).

O mercado não se manifestou quando Bolsonaro atuou contra a vacinação, contribuindo para a morte de quase de 700 mil pessoas; quando a Amazônia teve queimadas recordes; quando o governo cortou o dinheiro que se destinava as pesquisas; com o aumento do desemprego; quando a educação foi entregue a pastores evangélicos; quando governantes entregaram escolas públicas à Polícia Militar.

O mercado ficou calado quando o governo tentou inviabilizar as universidades federais e ficou quietinho quando as Forças Armadas decidiram questionar as urnas (o que é ilegal) e quando quase 80 mil militares receberam auxílio alimentação (isso é corrupção). Ainda recentemente o Exército pretendia gastar 5 bilhões de reais na compra de tanques e o mercado achou bom.

O problema do mercado é o teto de gastos? Não, porque Bolsonaro estourou por cinco vezes esse teto e ninguém reclamou, nem mesmo essa velha mídia. O problema é que o mercado mandava no governo fascista que estava aí, dava-se bem com ele e seus negócios. Já com Lula vem a tal da democracia, “coisa de comunista”, diria um capitalista. Pior: Lula “quer acabar com a fome usando o nosso dinheiro!”

Há mais de 60 anos o pernambucano Josué de Castro, dirigente da FAO na época, escreveu que a fome não é um fenômeno da natureza, mas uma criação do mercado. O mercado entende que a fome abre uma janela de negócios.  O problema não é ter, hoje, 40 milhões de crianças passando fome no Brasil, mas o governo Lula pretender acabar com o cenário de business gerado pela fome, como diriam os Young-boys da Faria Lima, uma garotada que fala americanês na tentativa de se tornar um norte-americano.

No governo Bolsonaro o preço dos alimentos disparou, a fome se alastrou, e o mercado descobriu que vender osso de boi e pele de galinha para os famintos era negócio. Em plena pandemia da covid-19, com milhares de pessoas morrendo, o mercado aumentou os preços dos alimentos, dos produtos e serviços; a gasolina e o diesel dispararam, os planos de saúde foram reajustados em valores acima da inflação.

O mercado é assim mesmo: parceiro da morte. Os laboratórios não fizeram vacinas contra a covid-19 por razões humanitárias, mas por se tratar de um negócio de bilhões. O mercado é Tanatos, o desejo de morte freudiano.

O mercado se dá bem com governos tiranos, com ditadores. O mercado fez o golpe de 1964 – conspirou contra João Goulart, forneceu dinheiro e equipamentos para que as Forças Armadas caçassem (torturassem e matassem) os contrários ao regime; e faturou muito com a ditadura. A Odebrecht, por exemplo, entre outras obras, fez a usina nuclear de Angra I e II sem licitação; depois de conspirarem para o golpe de 1964, as Organizações Globo e o SBT de Sílvio Santos, atuaram na defesa do regime e ganharam concessões de rádio e TV. Não é somente no Brasil. O governo de Adolf Hitler, na Alemanha, como o de Mussolini na Itália, e o de Francisco Franco na Espanha, foram extremamente benéficos para o mercado local e internacional. Governos sanguinários, violentos, cruéis com o povo, costumam ser doces e amigáveis com o mercado.

Quando teve fim a Segunda Guerra, os donos de indústria alemã, responsáveis por vender equipamentos e máquinas para o projeto assassino de Hitler, foram considerados inocentes no julgamento de Nuremberg. Os dirigentes da IG Farben, um conglomerado de empresas químicas formado pela Bayer, Bosch e Agfa, entre outras, que produziram (e venderam) o Zyklon-B, gás que matou milhares de judeus e comunistas, foram inocentados. Terminada a guerra, o alemão e nazista Werner Von Braun, criador do foguete V2, responsável por milhares de mortes na Europa, foi trabalhar para o mercado norte-americano onde desenvolveu o programa espacial e se tornou herói nacional.

Representantes do mercado estavam lá na COP27. Montaram estandes e até participaram de debates. A ideia era mostrar que o mercado estava preocupado com o planeta e que a culpa pela crise climática era dos governantes. Um engodo devidamente digerido por celebridades, ecologistas, cientistas, ONGs, ex-ministras e ex-ministros, e difundido pela velha mídia. O discurso da velha mídia repete essa mentira: “tudo que acontece de ruim é culpa da política e dos políticos”. Não dizem a verdade: quem está destruindo o planeta é o mercado, não são os políticos.

O fato é que há um projeto de satanização da política. “Político é tudo igual; político nenhum presta; político é tudo corrupto”. Jessé de Souza em seu livro Como o racismo criou o Brasil, relata que satanizar a política e os políticos, descolando o povo da política, é parte de um projeto cultural construído nos Estados Unidos (Harvard tá nessa, claro) que objetiva fazer o controle da colônia sem precisar usar de canhões e bazucas como antigamente.

Os golpes mudaram o formato - vide o caso do impeachment de Dilma – agora é o Congresso quem promove o expurgo de presidentes que desagradam aos Estados Unidos, o mercado. A fórmula é a seguinte: botam o povo na rua criticando o governo; botam no Congresso parlamentares comprometidos com o mercado; militares ameaçam dar um golpe; a velha mídia dá visibilidade às ameaças, alimentando as manifestações populares, o medo do povo e a indignação nos quarteis. Pronto.

Agora é só votar pelo impeachment, não importa se a acusação tem fundamento ou não. Quanto ao mercado... Ele não gosta de democracia, e muito menos de quem se anuncia defensor de uma melhor distribuição de renda. Daí o ódio a João Goulart, Dilma Rousseff, Lula, e todo aquele que tocar no assunto. Não por acaso, toda vez que tem um golpe o mercado está ao lado dos golpistas.

Tudo isso tem o mau cheiro da Agência Central de Inteligência norte-americana (CIA). Os Estados Unidos costumam destruir todo governo que fale em acabar com a desigualdade, melhorar a distribuição de renda ou acabar com a fome. Lula que se cuide: eles já devem estar tramando como derrubar seu governo (conseguiram prender Lula e eleger Bolsonaro com a Lava Jato).

Bem que os estudiosos da gloriosa Harvard poderiam escrever um livro mostrando como as democracias morrem. Ah, já escreveram? Sim, mas um livro fake que se tornou best-seller. Em nenhum momento os autores dizem que os EUA são os maiores promotores de golpes e destruidores de democracia do planeta. Fuja dessa mentira.

Jessé de Souza faz notar que o espírito de cachorro vira-latas do brasileiro é fruto desse projeto de colonização. Criou-se uma cultura: o brasileiro se acha um nada. Basta ouvir o que o que o brasileiro diz dele: “brasileiro é ladrão, bandido, corrupto, tem sempre um jeitinho de se dar bem”. Eles são os inteligentes. “Não somos como os de fora, os branquinhos, eles gostam de trabalhar, o brasileiro não. Eles são a inteligentes, nós somos a força bruta; somos o corpo e eles o espírito. Somos essa mistura de negro (ladrão) e índio (vagabundo). Não podia dar certo”. Por essa razão o racismo não acaba: ele é estrutural, como diz o professor e hoje ministro Sílvio Almeida.

Conforme o Atlas da violência de 2022, produzido pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, de cada quatro jovens mortos pela polícia, três são negros. Escolas públicas da periferia, frequentada basicamente por negros e pobres, poderiam ensinar sobre democracia e atacar o racismo, mas estão sendo entregues aos policiais militares.

O mercado, enquanto isso, tenta ampliar seu poder sobre a educação, pegando escolas públicas e privatizando as universidades federais. A Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 206/19, em tramitação na Câmara dos Deputados, abre caminho para a privatização das universidades. Seu autor é o deputado General Peternelli do PSL de São Paulo (não foi reeleito). Não estranha que um general apresente projeto nesse sentido: fazer a defesa do mercado é considerado patriotismo nas forças policiais. “No empresariado não há corrupção”.

Na verdade, políticos e servidores corruptos são apenas os atravessadores do mercado nos seus negócios corruptos. Quem ganha de fato com a corrupção é o corruptor, o empresariado.

Cada vez que um prefeito superfatura a compra de uma ambulância, ele leva 5%; o vendedor pega 10%; a empresa que fabrica, 50%. A fraude na licitação de uma obra favorece o servidor corrupto com 5%, mas a empresa aumenta seus ganhos em 50% ou 100%. Vide o que aconteceu na Odebrecht: o negócio de pagar propina era tão bom que ela montou uma empresa dentro da empresa.

A velha mídia é a voz maquiada do mercado.  O mercado é o mocinho, e o político, o vilão. O mercado quer pegar tudo que a natureza oferece, todo patrimônio estatal, tudo que couber na mala, mas, como gera riqueza, é bonzinho para o país. Foi o mercado, através da velha mídia, que convenceu a população de que Fernando Henrique estava certo em lhe entregar a Vale do Rio Doce; Bolsonaro deveria entregar a Eletrobrás para uma elite; ajudou o governador Ibaneis Rocha, em Brasília, a vender a Companhia de Eletricidade de Brasília (CEB).

O mercado gosta de se apossar de empresas públicas. Olha o caso da Petrobrás. Por mais de meio século o Brasil investiu na empresa, formou um patrimônio espetacular, uma equipe técnica de primeira linha, e então o mercado, com a velha mídia e seus especialistas em economia, espalhou que ali era um antro de corrupção, e que o melhor era privatizar. Não aconteceu tudo. O governo Bolsonaro vendeu refinarias e algumas empresas estatais, entregou o pré-sal. Então veio o melhor para o mercado: enquanto o povo passava fome e morria de covid-19 os militares patriotas colocaram em funcionamento a paridade de preços internacionais. Então, os acionistas (gente que não trabalha) festejaram. A grana foi muita. Somente em julho de 2022 os dividendos distribuídos entre eles foi de 87 bilhões de reais.

Esse é o mercado. Ele sabe como convencer governantes a lhes entregarem tudo, inclusive itens estratégicos. A água, por exemplo. O Brasil é rico em água doce. Essa água deveria pertencer ao seu dono, o povo brasileiro. Mas o mercado logo disse: “a água tem que ser minha”.

Hoje é assim: 70% da água boa de beber vai para o agro (mercado); 20% vão para a indústria (mercado); 10% para o consumo humano (quase do mercado). A água do agronegócio, tomada de rios, riachos, lagos, é transformada em commodities do campo e exportada para a matriz. Fica o deserto, rios contaminados por agrotóxicos ou fertilizantes, animais que morrem por não ter lugar para viver. A água da superfície já não basta para alimentar o deserto verde.

Então o agro faz poços para captar a água do subsolo – isso mesmo, boa parte da soja que o Brasil exporta bebe água mineral. Resultado: a água que corria nos campos está se acabando. Quanto as águas do subsolo, que pertenceriam ao povo brasileiro, conforme a Constituição, elas também têm dono: o mercado – Nestlé e Coca-Cola dominam o setor.

Por tudo isso, a próxima COP deveria ser com os representantes do mercado e sob a fiscalização severa da sociedade civil. É hora de chamar a indústria, o comércio, banqueiros, especuladores do mercado, acionistas, pecuaristas e sojicultores, e mostrar para o mundo que eles estão acabando com o planeta. Mostrar que essa gente é perigosa para a vida na terra – pelo que faz e fez, por não assumir a sua responsabilidade.

Quanto àquelas ações individuais ou comunitárias, como a gestão adequada de resíduos, o uso adequado dos bens naturais? São inúteis. Todo nosso esforço para a redução de consumo, plantando árvores, uso de transportes menos poluentes, não serviu para nada: o calor aumentou, o clima ficou caótico. E vai ficar pior. Sim, porque todo dia o mercado faz exatamente o contrário do que era para fazer: estimula mais consumo, mantém o mesmo sistema de produção, polui mais ainda, gera mais Gases de Efeito Estufa. E faz isso numa escala gigante. Tudo que você fizer pelo planeta é muito pouco; tudo que eles fazem contra o planeta é muito grande. Daí a o anunciado churrasco do planeta terra. Nesse momento é preciso que as pessoas que têm a luz e a coragem se manifestem sem medo dessa do mercado. É o caso de Sônia Guajajara, a nova ministra dos Povos Originários. Logo depois de tomar posse ela repetiu a verdade: “não existe agronegócio sustentável; não existe mineração sustentável”.

É o Antropoceno. E a terra decidiu se rebelar contra aqueles que a agridem: o mercado em suas muitas representações. Como diz o filósofo francês Bruno Latour, falecido há pouco: os super-ricos, negam o que está acontecendo, não assumem a responsabilidade pela crise e não apresentam uma solução. Os antropólogos Débora Danowski e Eduardo Viveiros de Castro, escreveram um livro indagando “Há um mundo por vir?” Eles partem da concepção de que para esta humanidade o mundo já era.

Ailton Krenak, indígena e filósofo, ainda recentemente apresentou um bote salva vidas com seu grande-pequeno livro Ideias para salvar o mundo? Mas o mercado vai mudar depois desses alertas? Claro que não. Tanatos só produz velórios.

Parte do empresariado brasileiro é insensível aos problemas do povo. Só lhe preocupa o capital. Por isso se incomoda com a nomeação de Fernando Haddad para o Ministério da Fazenda. Entre eles predomina o pensamento colonial: “vou pegar o que puder e meu filho vai estudar na Europa”. O grande desafio de Lula é mostrar-lhe que o Brasil não é do mercado e que a democracia voltou. Voltou para redistribuir a riqueza nacional com todos e todas. O mercado não gostou, mas a esperança voltou.
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(*) Dioclécio Luz é jornalista e escritor, mestre em jornalismo pela UnB, autor, entre outros, de A escola do medo: vigilância, humilhação e repressão nas escolas militarizadas e Radiojornalismo nas rádios comunitárias.