Boaventura: "Os atos de que são vítima [reitor e seus auxiliares] visam, isso sim, desmoralizar as universidades públicas e preparar o caminho para a sua privatização"
Boaventura repudia ataque à UFMG

O diretor do Centro de Estudos da Universidade de Coimbra, Boaventura de Sousa Santos, se soma às dezenas de protestos e repúdios à "despropositada e ilegal condução coercitiva de que foi vítima o reitor e a equipe da reitoria da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)".

A professora da USP Lilia Schwarcz considerou a ação da Polícia Federal "um ato de lesa cidadania".

A mesma situação constrangedora levou ao suicídio o ex-reitor da Universidade Federal de Santa Catarina, Luiz Carlos Cancelier. Essa lembrança reforça todas as suspeitas de que há uma ação orquestrada para desmontar as universidades públicas brasileiras e entregar o ensino superior às empresas privadas.

"Quero ao mesmo tempo testemunhar a mais veemente solidariedade a estes acadêmicos íntegros e quero pedir-lhes, em nome da comunidade acadêmica internacional, que não se deixem intimidar por estes atos de arbítrio por parte das forças anti-democráticas que tomaram conta do poder no Brasil", disse Boaventura em nota distribuída nas redes sociais.

Além de afirmar que não há nenhuma razão jurídica que justifique as ações policiais, Boaventura diz que "os atos de que são vítima [o reitor e seus auxiliares] visam, isso sim, desmoralizar as universidades públicas e preparar o caminho para a sua privatização".

Na nota, o intelectual português afirma: "Estamos certos que estes desígnios [privatistas] não se cumprirão, pois a resistência da comunidade acadêmica e do conjunto da cidadania democrática brasileira a tal obstarão. O Reitor da UFMG e a sua equipe estão agora na linha da frente dessa resistência e merecem por isso não apenas a nossa solidariedade, mas também todo o nosso respeito".

Brasil - A comunidade acadêmica brasileira também já se manifestou contra o arbítrio contra a UFMG. Lilia Schwarcz, professora da USP e co-autora de um livro com Heloisa Starling, uma das professoras conduzidas coercitivamente, criticou a ação da Polícia Federal: "Levar coercitivamente uma pessoa que nunca se recusa ou se recusou a ajudar e colaborar é um atentado aos nossos direitos civis".
 
"Expor a processos de humilhação e criar um circo policial sem que se tenham provas circunstanciadas, é um atentado à nossa democracia. Fazer do suspeito um culpado pressuposto é um ato de lesa cidadania", firma Lilia.