Muleka (Foto-Lourdes Teodoro): "A mídia internacional pertence às potências e às multinacionais que exploram os países do Terceiro Mundo. Todo líder que combate a dominação estrangeira é tratado pela mídia como um ditador".
Por que a origem do mundo é africana?

Romário Schettino -

Para explicar a origem da Humanidade é preciso conhecer a história da África negra. É assim que o professor Muleka Ditoka wa Kalenga Magloire começa a conversa com o site Brasiliários.com - Jornal do Romário - sobre sua trajetória no Brasil. Nascido na República Democrática do Congo, Muleka estudou jornalismo em Paris e fez mestrado em publicidade e propaganda em São Paulo.

Muleka estudou também parapsicologia e inventou um sistema informatizado capaz de unir conhecimentos de jogos africanos, egípcios e chineses. É dele a criação de um jogo de alfabetização chamado Tatuzinho Comilão, que foi aplicado, em 2008, pela Secretaria Municipal de Educação de Jequié (BA). Esse processo de alfabetização e de aprendizado da matemática foi experimentado com grupos de controle com o uso do jogo e sem o jogo. As crianças que brincaram com o Tatuzinho Comilão tiveram melhor resultado.

Aposentado, Muleka vive na Bahia e é casado com Mwewa Lumbwe, formada em administração e com mestrado em crítica cultural pela Universidade do Estado da Bahia.

O professor Muleka passou por Brasília e deu a seguinte entrevista:

Brasiliários – O que trouxe o senhor para o Brasil?

Muleka – Eu vim para o Brasil em 1981 para fazer mestrado na Eca/USP na área da comunicação/publicidade e propaganda, e me formei em 1985. Eu tenho diploma de jornalismo da École Supérieure de Journalisme de Paris e também sou graduado em Relações Internacionais pela Universidade da República Democrática do Congo.

Brasiliários - E continuou estudando...

Muleka - Depois fiz doutorado na área de cibernética, sempre na ECA/USP, defendi a minha tese de doutorado em ciências em 1989. Além disso, estudei parapsicologia com o professor Pierre Weil, da Universidade Holística Internacional de Brasília.

Brasiliários – Então, o senhor é jornalista, cientista e parapsicólogo. Primeiro, como jornalista, como avalia o respeito à liberdade de imprensa em seu país?

Muleka - Como em qualquer país democrático no mundo, a República Democrática do Congo possui sua Constituição, promulgada em 2006 e revisada em 2011. Nesta Constituição há dois artigos que interessam a imprensa. O artigo 23 garante a liberdade de expressão e o artigo 24 defende o direito à informação e o de ser informado.

Brasiliários - Mesmo assim, a mídia internacional apresenta o governo atual do seu país como sendo uma ditadura que oprime as liberdades fundamentais, como a liberdade da imprensa. O que pensa sobre isso?

Muleka - Em primeiro lugar vamos falar sobre a ditadura. O que é ditadura? Segundo o dicionário, a ditadura é uma forma de governo em que o governante exerce seu poder sem respeitar a democracia. A característica principal da ditadura é a falta da divisão dos poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário. Na República Democrática do Congo, temos os três poderes, uma Constituição, o Presidente da República, deputados e senadores eleitos. Há eleições até ao nível do município. A conclusão é que não existe ditadura na República Democrática do Congo.

Brasiliários – Mesmo assim, a mídia internacional trata o governo do seu país como sendo ditatorial. Como explicar isso?

Muleka - A mídia internacional pertence às potências e às multinacionais que exploram os países do terceiro mundo. Todo dirigente terceiro-mundista que combate a dominação estrangeira é tratado pela mídia como um ditador. Vamos dar dois exemplos. O ex-presidente Robert Mugabe do Zimbabwe foi considerado ditador pela mídia internacional. Sabe por quê? Porque, desde que Mugabe assumiu o poder, ele acabou com a dominação dos brancos sobre a economia e distribuiu as terras produtivas aos negros de seu país. Outro exemplo. O líder africano Nelson Mandela foi declarado herói pela mídia internacional e não pelos negros africanos. Sabe por quê? Porque Mandela libertou o seu povo da dominação política, mas deixou toda a economia sul-africana nas mãos dos brancos. Então, Mugabe, que lutou para a liberdade econômica do seu país é considerado ditador, enquanto Mandela que deixou a economia nas mãos dos brancos é declarado herói.

Brasiliários – Mas, voltando ao seu país. Como funciona a liberdade de imprensa por lá?

Muleka – Da mesma forma que não existe ditadura em meu país, não há restrição à liberdade de imprensa nem aos partidos políticos. A República Democrática do Congo possui 450 nações ou tribos e mais de quinhentas  religiões. Existem mais de quinhentas mídias e mais de 700 partidos políticos. Na RDC, a imprensa dita de oposição critica o presidente da República sem ser ameaçada. Há casos extremos punidos segundo a Lei. Eu duvido se em toda a África existe um país com estas características: mais de 500 religiões, praticamente uma para cada tribo; mais de 500 mídias, praticamente uma mídia para cada tribo; mais de 700 partidos políticos, ou seja, quase dois partidos políticos por tribo. Si isso é ditadura, então não sei mais o que é ditadura.

Brasiliários – Como o senhor analisa a relação entre países ricos e as nações em desenvolvimento?

Muleka - É preciso saber que em relações internacionais há três fatores que determinam as relações entre os Estados. De um lado, temos o princípio da soberania nacional, de outro o princípio do poder econômico, militar e informacional e, por fim, o principio do interesse nacional. Este princípio é a variável de controle nas relações internacionais. O princípio da soberania nacional diz que cada Estado é soberano e que não existe nenhum outro Estado superior aos outros. Este princípio é puramente retórico e moral. Pois tudo depende de dois outros fatores: interesse nacional e poder.

Os países que possuem o poder, em nome do seu interesse nacional esmagam, oprimem os países menos potentes. Em nome do interesse nacional e do poder as potencias ocidentais chegam até a matar os líderes revolucionários do Terceiro Mundo. Eu posso citar os casos de Patrice Emery Lumumba, que foi o primeiro Primeiro Ministro da República Democrática do Congo. Por ter ameaçado os interesses dos europeus e dos Estados Unidos, Lumumba foi assassinado, seus ossos foram colocados num líquido que os fez desaparecer. Então, enquanto os países do Terceiro Mundo não se libertarem economicamente, serão sempre dominados, quer seja do ponto de vista da cooperação bilateral ou da cooperação multilateral.

É preciso responder à seguinte pergunta: como os países africanos podem se libertar se há sempre africanos que hospedam os opressores, como diria Paulo Freire? As potências ocidentais estão sempre dispostas a assassinar qualquer líder que se opuser aos seus interesses nacionais. A resposta será sempre dada pela evolução da História. Como dizia o filósofo russo Ouspensky: “Nada pode evoluir sem parar e nada pode permanecer parado sem evoluir”.

Brasiliários – Como cientista, o senhor defendeu tese de doutorado na Universidade de São Paulo. Qual foi o seu tema?

Muleka - O tema da minha tese foi ideológico, mas de uma maneira oculta. Eu quis desconstruir as teorias racistas segundo as quais os negros não são inteligentes em relação aos brancos. Aqui no Brasil, temos todas as teorias de Nina Rodriguez [autor de Os Africanos no Brasil, com base racista]. Na Europa, temos as teorias do filósofo Voltaire. Este francês declarou que a inteligência do negro é proporcional ao tamanho do seu cabelo: cabelo crespo, curto, inteligência curta. Temos a pseudociência de dois americanos que lançaram a teoria das curvas do sino ou parábola. Segundo eles a inteligência dos negros se situa na base da curva do sino e a inteligência dos brancos se situa no topo da curva.

Brasiliários – Como o senhor reagiu a essas teorias?

Muleka – Como negro, fiquei preocupado. Não queria admitir essas teorias racistas. Os trabalhos do matemático e antropólogo africano, Cheikh Anta Diop, demonstram três hipóteses: A primeira, afirma que a África é o berço de toda a Humanidade, isto é, o primeiro ser humano era negro e que, até 40 a 20 mil anos antes de Cristo só havia negros neste planeta. Isto é, todas as outras raças são mutações do negro. A segunda hipótese afirma que a África é berço da ciência, da matemática, da geometria, da álgebra e que os gregos, como Pitágoras e Arquimedes, estudaram a geometria no Egito. A terceira hipótese diz que até a 18ª dinastia no Egito, este país era povoado apenas por negros. A pergunta é: se a raça negra está na origem de tudo, como que ela não pode ser a origem da inteligência e como que ela pode ter uma inteligência inferior ou nenhuma em relação à raça branca que é apenas a sua derivada?

Brasiliários – Com as teses do professor Cheikh Anta Diop o senhor desconstruiu as teorias racistas, mas quais são as suas próprias contribuições?

Muleka - Cheikh Anta Diop demonstrou que a matemática, a geometria e a álgebra são de origem egípcia. Mas os cientistas europeus fazem um grande esforço para propagar as ideias segundo as quais o Egito não se situa na África mas no Oriente Médio. Há livros sobre África e sobre o Egito, assim como há livros sobre o Brasil e sobre a América Latina. A tendência difusa é mostrar que os egípcios não eram negros. É assim que a Europa chega a destruir as teorias de Cheikh Anta Diop. A minha contribuição consiste em partir das teorias de Cheikh para demonstrar que os negros inventaram a linguagem binária e criaram os primeiros computadores da Humanidade.

Brasiliários – Como o senhor chegou a demonstrar isso?

Muleka - Eu defendi, na ECA/USP, minha tese de doutorado intitulada “Kissolo: modelo africano para processamento de dados e informações”. A tese, defendida em 1989 foi orientada pelo pedagogo e matemático brasileiro Osvaldo Sangiorgi. Analisei dois jogos, ou oráculos, africanos: o jogo Kissolo ou Awale e o Livro do Destino egípcio.

Brasiliários - Quais foram os resultados da sua pesquisa?

Muleka - Numa abordagem da cibernética e da teoria da informação, eu descobri as equações do Kissolo e do livro do Destino egípcio, de mais de seis mil anos. Eu demonstrei que o jogo Kissolo (Jogo de Búzios ou Awale de 16 conchas) é uma calculadora digital de 16 bits. Demonstrei também que o Livro do Destino é um processador digital de 32 bits. Tudo indica que, por um motivo qualquer, a calculadora foi separada do processador. Para estabelecer um diálogo entre a linguagem matemática do Kissolo e do Livro do Destino, eu inventei um algoritmo matemático de 8 bits que chamei de Sistema Micro-Digital Kisis (MDK-53). Isto é, eu estabeleci o elo perdido entre a matemática do Livro do Destino e a matemática do Kissolo.

Brasiliários – O que o senhor fez com suas descobertas?

Muleka – Com as equações matemáticas do Kissolo, do Livro do Destino e do MDK-53, eu implementei vários jogos e programas de computadores. Um destes jogos é o jogo de alfabetização que chamei de Tatuzinho-Comilão. Por que Tatu? Porque este jogo é um verdadeiro computador manual ou vídeo-game manual. Como tal ele possui os seus cursores representados pelo animal brasileiro tatu, enquanto que os computadores eletrônicos trabalham com os cursores chamados de mouse ou rato. Por que Comilão? Por que os cursores capturam as letras no tabuleiro e o jogador usa estas letras para formar palavras representando as imagens programadas.



Brasiliários – O senhor criou também alguns programas de computador?

Muleka - Sim. Um destes programas chama-se Sistema Micro-Digital Kisis (MDK-53). Trata-se de um oráculo eletrônico. Com este sistema programei os dados do Jogo de Búzios, do Livro do Destino, do I Ching chinês e até da Bíblia Sagrada. O MDK-53 é um tipo de Pai ou Mãe de Santo eletrônico. A pessoa faz uma pergunta e o sistema responde. O consulente pode escolher um tema, uma pergunta dentro do tema e seguir algumas instruções até chegar a uma resposta. O MDK-53 possui também um programa aleatório. A pessoa não faz nenhuma pergunta e o sistema descobre aleatoriamente o problema que a pessoa tem e responde. O MDK-53 funciona como um sistema que faz o diagnóstico dos problemas ocultos no subconsciente das pessoas.

Brasiliários – Bem, com esse sistema deixamos a ciência para entrar na parapsicologia. Qual foi a sua área de pesquisa na Universidade Holística Internacional de Brasília com o professor Pierre Weil?

Muleka - Na Cidade da Paz, ou Universidade Holística de Brasília, eu fazia parte do grupo de pesquisa fundamental. A minha área era do estudo dos sistemas de adivinhação ou oráculos. Estudei o I Ching, o Jogo de Búzios e o Livro do Destino procurando a sua lógica matemática. Trabalhei à luz de algumas teorias: as teorias da física quântica, teorias dos cem macacos de Lair Ribeiro; teorias do poder da imaginação de Ponder; teorias das leis da causa e do efeito de Tanigushi; teorias da união dos opostos de Carl Gustav Jung; o poder das letras hebraicas como nomes de Deus, vibrações, arquétipos etc. A minha hipótese é que, aplicando estas teorias e o sistema Micro-digital Kisis assim como a meditação é possível curar algumas doenças de origem psicossomáticas ou doenças causadas pelo stress ruim.

Brasiliários – Como assim?

Muleka - Para colocar em prática esta minha teoria, criei um curso chamado “Kangoterapia-Pestanod: como sobreviver num mundo estressante”. Uso algumas palavras chaves como: ka, ngo, terapia, pes, ta, nod, stress.

Brasiliários – O que significam essas palavras e quais suas funções no curso Kangoterapiua?

Muleka - Em primeiro lugar quero dizer que a Kangoterapia é um curso de auto-ajuda, um curso de auto-hipnose para a cura das doenças ditas psicossomáticas. Para melhor entender isso, vamos explicar o significado de cada palavra-chave:

- Ka e Ngo: estas palavras pertencem à língua africana kiluba da República Democrática do Congo e são o equivalente das palavras taoístas de ying e yang, os opostos, porém complementares. Segundo Jung podem ser unidos e criar uma terceira força capaz de curar doenças.

- Terapia: esta palavra remete ao processo de cura das doenças sem uso dos remédios, isto é, cura milagrosa.

- Pes: esta palavra cunhada pelo parapsicólogo brasileiro José Silva [autor do livro intitulado “O método de controle mental”, em 1977] possui dois significados: percepção extrassensorial e percepção sensorial efetiva. A percepção extrassensorial é uma faculdade que cada um de nós tem para manifestar os poderes da mente. A percepção sensorial efetiva é algum tipo de viagem astral rumo a uma dimensão que contém tudo, que contém os problemas e as suas soluções; que contém as doenças e suas curas respectivas.

- Ta: este termo, criado pelo psiquiatra alemão Johannes Heinrich Schultz, denominado “treinamento autógeno”, ou auto-hipnose. Isto é, utilização poderosa da imaginação para resolver problemas.

- Nod: Nomes de Deus. Segundo o Rabino Yehuda Berg, as letras hebraicas são vibrações energéticas. Combinadas três a três, estas letras formam 72 Nomes de Deus ou códigos, chaves, senhas para abrir a dimensão que contém tudo, ou Baú da Felicidade. Durante a meditação, quando alguém atinge o estado Alpha - (quando o seu cérebro pulsa ao ritmo entre 7 e 14 ciclos por segundo) - este alguém pode operar milagres.

A Kangoterapia ensina como entrar no estado Alpha, como praticar a percepção sensorial efetiva e como manusear as senhas, os códigos, os arquétipos chamados Nomes de Deus. Com estas técnicas cada um pode curar suas doenças ditas psicossomáticas ou doenças provocadas pelo stress.

- Stress: trata-se de uma pressão, opressão, constante, indesejável e inevitável que reduz a capacidade imunológica do organismo possibilitando o surgimento de doenças orgânicas criadas pela mente.

Portanto, a Kangoterapia é um conjunto de técnicas parapsicológicas utilizadas durante a meditação para curar as doenças psicossomáticas. A Kangoterapia é um curso de auto-ajuda ou de auto-hipnose. A Kangoterapia é diferente de outros cursos de auto-ajuda, de yoga, de meditação. Enquanto nos outros cursos as pessoas fazem exercícios sem saber claramente o problema que querem resolver, a Kangoterapia utiliza os Sistema Micro-Digital Kisis capaz de diagnosticar, identificar os problemas ocultos no subconsciente e que podem ser resolvidos durante o curso.