A peça Virilhas, de Ribondi, está em cartaz no Teatro Augusta em São Paulo, com direção de Rafael Salmona
O dramaturgo viajante

Victor Hugo -

O dramaturgo, romancista, diretor e ator brasiliense Alexandre Ribondi parece não ter muitos motivos para temer a crise, apesar de admitir que “a situação do País está temerosa, e que qualquer trocadilho com o nome Temer é intencional”. Mas acontece que o ano de 2017 está indo de vento em popa para o artista que, desde 1970, permanece nos palcos da cidade.

Em primeiro lugar, há uma semana, ele, ao lado de Luísa de Marillac, Morillo Carvalho e Elisa Mattos, inauguraram oficialmente a Casa dos 4, um espaço cultural na 708 norte, onde realizam oficinas, montam espetáculos, alugam uma das salas para ensaios, fazem comida (sim, a Casa tem uma cozinha bem equipada) e trabalham nas inevitáveis burocracias das artes.

Mas foi desde sexta-feira, 1 de setembro, que Ribondi entrou em uma jornada tripla, que inclui duas cidades brasileiras e uma no exterior. E tudo no mesmo dia.

Na própria Casa dos 4, ele estreou a peça de sua autoria e direção Dicionário das Coisas que Nunca Existiram que tem conseguido levar uma boa parcela do público brasiliense até um espaço ainda desconhecido e de endereço pouco usual (fica na rua das oficinas, paralela à W3 Norte).



A obra tem provocado risos soltos e lágrimas sinceras. Afinal, trata-se de um filho mal humorado e impaciente (Morillo Carvalho) às voltas com uma mãe que perde a memória e o juízo. No meio da conversa, há a reconciliação dele com ela, por motivos que provocam a plateia.

Dicionário das Coisas que Nunca Existiram fica em cartaz até o dia 10 de setembro, sempre de sexta a domingo, às 20h. O acolhedor teatro tem ar condicionado, para aliviar o calor e a secura destes dias.

No Teatro Augusta em São Paulo também entrou em cartaz a peça Virilhas, de Ribondi, com direção de Rafael Salmona. No elenco, dois atores paulistanos contam os encontros e desencontros de dois homens que vivem uma história de amor violenta e bastante sexual. Essa peça, que já teve algumas montagens brasilienses, sempre consegue abocanhar um bom público.

Para Ribondi, “é o tema que chama a atenção, porque os homossexuais, de maneira geral, querem se ver representados no teatro, no cinema, na música e acabam por encher a plateia quando têm a oportunidade de verem histórias parecidas com as suas”.

O autor, ocupado em Brasília, ainda não viu a montagem de São Paulo, mas já prepara as malas. “Semana que vem estou lá, pra matar a curiosidade de ver Virilhas manipulada por outras mãos”.

E finalmente, chega a vez da Bolívia. O ator boliviano Jorge Barrón conheceu o texto da peça (do Ribondi, claro) O Colecionador de Pombos, sentou-se e fez a tradução, que, para ele, tem agora o nome de El Coleccionador de Pájaros.



Em seguida, convidou o próprio autor da peça para assinar a montagem e regressou ao seu país, onde, desde sexta-feira, tem se apresentado na Casa Grito, um teatro de La Paz.

A ideia é viajar pelo país, já que, como informa o próprio Barrón, nas mensagens quase diárias pelo whatsapp, “a casa está lotada, com gente sentada no chão”.

Curiosamente, o público parece ficar chocado com a cena final, o que, para o diretor e o ator, é um ótimo sinal.

Para Ribondi, ter uma peça em La Paz é motivo de orgulho. “Pode parecer mentira, mas é muito honroso para mim ter uma peça em La Paz. Mais do que se fosse, por exemplo, em Paris. Porque La Paz é capital de um país aqui do nosso lado sobre o qual nunca ouvimos falar. E que tem uma cultura milenar, riquíssima. É realmente uma terra extraordinária e estar em cartaz lá é um grande momento para o meu currículo”.