O MAB está abandonado às traças, mas seu nome foi traduzido para o inglês.
Cidade Patrimônio Cultural, mas nem tanto

Romário Schettino -

Nos últimos cinco ou seis anos estamos assistindo ao abandono de espaços culturais que escreveram a história de Brasília e que é motivo de lamentações diárias nas redes sociais, no rádio, na TV, nos jornais.

Alguns destes locais foram simbólicos na formação artística e cultural de muita gente: Espaço Cultural da 508 Sul, Teatro Nacional, Concha Acústica e Museu de Arte de Brasília (MAB).

O governo passado mandou fazer placas em português e inglês na época da Copa do Mundo. O MAB virou Art Museum (foto). Siga a seta e verá isto: um monte de destroços no meio do Cerrado e ao lado da porta de entrada do classe média Lakeside Hotel Residence (fotos). Uma vergonha.

 

 

 

O governo atual anunciou o início da reforma da 508 Sul, mas tudo a passos muito lentos. O secretário de Cultura, Guilherme Reis, promete abrir o foyer (e só) da Sala Villa Lobos, talvez em outubro, para visita dos turistas. Tudo no ar, nada de concreto.

Quando Lúcio Costa e Niemeyer pensaram esta cidade não pensaram apenas na Praça dos Três Poderes. Sabiam que aqui viveriam milhares de pessoas, das mais diversas origens étnicas, sociais e econômicas.

Certamente não poderiam prever a baixa qualidade dos políticos que assumiriam os podres poderes da República brasileira nos anos seguintes. Vieram os militares com suas botas e depois os “democratas” da oligarquia temerosa. Todos, absolutamente todos, estão pouco se lixando para a cultura em Brasília.

E não é falta de dinheiro, é falta de prioridade, ou ignorância mesmo. Não imagina essa elite política que cultura é saúde, educação, segurança, vida urbana saudável. É turismo, receita para os cofres do Estado e marco civilizatório.

Teatros confortáveis, museus de arte com suas oficinas, centros de criatividade abertos e atuantes, poderiam receber os jovens de todos os cantos da cidade, ávidos pelo conhecimento e pela prática das artes e de seus ofícios.

É desumano o abandono dos espaços culturais. Esses políticos são antidemocráticos, despolitizados e, sobretudo, desinteressados pelo bem comum daqueles que os elegem.

Como explicar para a Unesco que o Patrimônio Cultural da Humanidade está nessas condições? O que fazem o IPHAN e o Ministério da Cultura (que nem ministro tem) por uma cidade sem política cultural relevante e sem planejamento urbano adequado? Qual o cuidado com a área metropolitana desregulada e sem futuro?

Chegamos a mais de 2,5 milhões de habitantes e os equipamentos culturais diminuem, em vez de aumentarem com qualidade. Brasília vive uma indigência cultural insuportável e vergonhosa. Nossos dirigentes políticos não estão sendo dignos do que se costuma chamar de geração candanga. São algozes dos premiados e reconhecidos artistas desta cidade.

Qualquer turista interessado em visitar Brasília há de se perguntar, o que é possível fazer aqui além de percorrer a Esplanada dos Ministérios? Nada. Basta olhar da janela do hotel, ver o céu, o anoitecer, a iluminação da torre de TV e ir dormir para se dirigir ao aeroporto logo cedo no dia seguinte. Esse turista não voltará nunca mais.

E o que fazem esses donos da rede hoteleira que não pensam em alguma coisa para atrair mais turistas? Nada. Contentam-se com a lotação de terça a quinta-feira? Santa ignorância de quem não passa de ruminantes.

E pra finalizar, só deveríamos votar em mulheres e homens que incluíssem em suas plataformas de governo a cultura e a arte como prioridades, ao lado da educação formal, da saúde e da segurança. Se ninguém com tais preocupações aparecer, é melhor anular o voto. E seguir denunciando. Fica a dica.