Lava Jato acusa Mantega baseada em papo de empresário enrolado

Sandra Crespo -
 
No badaladíssimo vídeo (disponível no Youtube), Eike Batista, o Probo, confessa um crime: pagou, segundo ele a pedido do ministro Guido Mantega, R$ 5 milhões ao publicitário João Santana, por uma dívida do PT.

Em troca, fez um contrato com Santana por lobby para suas empresas (grupo X) na Venezuela. O Probo é tratado como um gentleman o tempo todo pelos golden boys de Curitiba.

Sobre o encontro com Mantega: admitiu que foi ele próprio, Eike, que pediu a audiência. Outros encontros ocorreram no mesmo dia com "vários outros ministros".

Os procuradores não fizeram questão de entender esse "detalhe". O cara pede audiência e, em vez de achacar, é achacado. Foge à minha lógica. Não à dos procuradores.

Na audiência com Mantega: só os dois na sala, sem testemunhas, o ministro fala en passant sobre uma dívida do PT de R$ 5 milhões com Santana, e pede que ele pague. [Mantega nega que tenha ocorrido esse diálogo].

O Probo relata que, uns dias depois, Mônica Moura, mulher e sócia de João Santana, procura o advogado dele, Eike. Depois, as negociações e o contrato sobre os interesses de Eike na Venezuela se dão entre as duas empresas.

Resumo: A empresa de Eike contrata a empresa de Santana para fazer um serviço comercial na Venezuela. Paga por isso R$ 5 milhões. Então, qual a serventia da suposta intermediação de Mantega? Seria fantasma o contrato com Santana - mesmo ele, o Probo, tendo admitido que o serviço foi prestado?

A acusação a Mantega dura alguns segundos. Relato sucinto, sem detalhes. Questionado por um procurador, Eike responde que Mantega não fez nenhuma ameaça, só falou uma vez nesse assunto. E acrescentou que foi Mônica Moura a procurar sua empresa (e Eike enfatiza que nunca falou diretamente com Mônica, nem a conhece).

Aí ele conta que, democraticamente, dava dinheiro para campanhas eleitorais, com ênfase para os partidos que tinham governadores - PSDB, DEM, PMDB. Mostra a lista dos políticos beneficiados aos procuradores, que a devolvem gentilmente. Gaiato, Eike ainda elogia a educação do senador Cristovam, o único que, segundo ele, agradeceu pelo dinheiro limpinho e cheiroso.

Pois é, todas as doações foram democráticas, republicanas, patrióticas e legais, menos a que teria beneficiado o PT.

No mais, um empresário quebrado e enroladíssimo - que, no auge da glória, exibia como trunfo uma mulher cheia de curvas e de coleira com seu nome no pescoço, ao tempo que prometia nas colunas sociais alcançar loguinho o posto de Homem Mais Rico do Mundo - dá aula de gestão e lições morais, criticando as políticas dos governos do PT.

Lembrando de parabenizar a Lava Jato por passar a limpo o Brasil, o Probo enfim desabafa: Dilma golpeou-o, pois não conseguiu conviver com seu excesso de patriotismo!

(De quebra, e sem querer, o depoente espontâneo mostra aos procuradores como era correta a atuação do BNDES, que DEM e PSDB pelejam em criminalizar - já fizeram até CPI em conluio com Cunha - e nada conseguiram).

The last spoiler: lá pelas tantas, Eike Batista entrega que era persona non grata na Petrobras. "Negociata é um bom negócio para o qual não fomos convidados", martela na minha cabeça o Barão de Itararé.

O Probo mata dois coelhos numa só "caixa d'água": vingancinha básica e habeas corpus preventivo.

A Lava Jato se lambuza.