Abarbarie no Para: 10 mortos e nenhuma palavra do ministro
Quem são os vândalos?

Alexandre Ribondi -

Os protestos de 24 de maio realizados na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, e amplificados dia 29 no Rio contra Temer, receberam, além de pedradas, tiros, gases, empurrões, berros e gritos, uma saraivada de adjetivos.

Para a imprensa e para as autoridades que apoiam Michel Temer, a quem eles chamam de presidente da República, a marcha em direção ao Palácio do Planalto foi vândala, bárbara, agressiva.

Também houve reações quanto ao números de participantes, o que parece ser uma tradição nas manifestações brasileiras: as autoridades policiais contaram pouco mais de 40 mil pessoas.

Os sindicatos apontaram 250 mil.

O ministro da Defesa, Raul Jungmann, foi rápido e célere. Em pronunciamento público, lamentou justamente a barbárie que caracterizou os protestos que terminaram com um saldo de sete ministérios invadidos, quebrados e incendiados. Além disso, a imprensa, que fez cobertura ampla, minuciosa e atenta dos acontecimentos, também procurou dar o tom certo ao se referir ao assunto.

A Folha de S. Paulo, por exemplo, iniciou uma de suas matérias assim "O Ministro da Defesa, Raul Jungmann, classificou nessa quarta-feira (24) como ' baderna' e 'descontrole' o episódios de vandalismo e depredação em protesto em Brasília e solicitou o reforço das Forças Armadas para controlar a situação".

Para o ministro, "as manifestações degringolaram para a violência, o vandalismo, o desrespeito, a agressão e ameaças". Lembrou também, sempre citado pela Folha, que "o presidente ressalta que é inaceitável a baderna, o descontrole, e que ele não permitirá que atos como esse… etc etc etc".

Tudo indica que foi um acordo tácito. Tanto Temer, as autoridades governistas e a grande imprensa gritaram chocadas com os ataques ao patrimônio da Esplanada dos Ministérios e se esqueceram do horror e da monstruosidade que é ter o Palácio do Planalto comandado por um homem que, mostram as provas encontradas, é ladrão, bandido e desrespeitador da dignidade nacional.

Dessa forma, as palavras de Jungmann, ao se referir aos atritos de quarta-feira, cheiram a chacota, a desprezo e a oportunismo.

Além disso, e por uma coincidência macabra, foi também no dia 24 de maio que 10 camponeses foram assassinados, com tiros e golpes de facão, na localidade de Pau d'Arco (PA).

Os assassinatos foram cometidos pelas Polícias Civil e Militar durante uma ação de reintegração de posse de uma fazenda.

Sobre o fato, a imprensa deu notícias pequenas, acanhadas e não usou nenhum adjetivo ou substantivo que mostrasse o quanto estava chocada e horrorizada.

O ministro da Defesa não se pronunciou e Temer, o prisioneiro do Palácio do Planalto, também não se atormentou com a ameaça à democracia que representa a polícia matar 10 cidades.

Nenhum matéria dos jornais escritos e televisionados disse os nomes do mortos - eles não são indivíduos, não tem vida pessoal, não constituíram família, nunca olharam nos olhos de ninguém e, assim, fica muito mais fácil lidar com os assassinatos sem achar que é necessário tomar alguma atitude imediata.

Por isso, o crime de Pau d'Arco não foi bárbaro. Nem foi ato de descontrole, não foi vandalismo. Nem houve baderna.

As mortes dos 10 camponeses não representam nada, não são símbolos do fracasso da democracia brasileira nem indicam a vitória da barbárie.

Dois dias depois, o mesmo ministro retirou a Polícia Militar de Brasília e avisou que a ordem havia voltado.

O que fazer diante de uma declaração como essa, que falava de retorno da ordem quando os corpos dos camponeses ainda estavam quentes e manchados de sangue? O que é a ordem para Temer e seus homens?

O que é ordem e progresso para os brasileiros que apoiam e aplaudem o atual estado das coisas nacionais?

Todos eles fizeram sua escolha. Barbárie é quebrar vidraça de ministério, é gritar contra a corrupção e a canalhice das instituições e do poder.

Os pobres, os descamisados, os sem-teto, os sem-terra, os sem-escola não são parcelas na conta do que eles consideram ser bem-estar e desenvolvimento.

E se eles escolheram o que querem, nós também vamos mostrar qual o nosso desejo e qual o Brasil que procuramos:

Fora, bandidos da República! Fora, vândalos da Constituição! Fora, assassinos de cidadãos. Fora, Temer!